Por Jaime Langa
Não é bom chefe quem tem medo de ter colaboradores competentes.
Um dos crimes de corrupção mais frequentes nas empresas é o nepotismo, um mecanismo através do qual o chefe, no processo de admissão ou nomeação para cargos, favorece os seus parentes ou amigos próximos, em detrimento de outros candidatos também qualificados.
Alguns analistas criticam a consideração desta prática como corrupção, e por consequência crime, e defendem o direito dos amigos e familiares do chefe de também terem oportunidade de emprego e de mostrarem as suas potencialidades na empresa, não obstante serem amigos ou familiares do chefe.
Na prática quando um chefe tem na sua equipa de trabalho seus parentes e ou amigos próximos a tendência é, na maioria dos casos, estes não cumprirem, com o mesmo rigor, as orientações do chefe e este, por sua vez, não ter poder, por razões emocionais, de responsabilizá-los e eventualmente penalizá-los.
Este cenário pode não só prejudicar o cumprimento dos objectivos estratégicos da empresa, como também a reputação do próprio chefe.
O interessante é que esta situação é facilmente visível aos olhos dos colegas e a única pessoa que não consegue discernir as razões da fraca produtividade da empresa, se for o caso, é somente o chefe. E isso facilmente torna-se num factor desmotivador para toda a equipa.
Sendo uma matéria controversa, alguns líderes preferem evitar contratar amigos e parentes nas suas empresas, pois as teorias disponíveis em vários livros sobre a matéria também são controversas e por vezes divergentes. Por exemplo, Peter Bregman, no seu website, conta que, às vezes, os amigos podem tirar vantagens em relação aos seus chefes (amigos), o que poderá prejudicar o negócio e a reputação do chefe.
Ao tratar os seus amigos próximos como amigos no ambiente de trabalho, o chefe não está exercendo os seus deveres de chefe como exerce com as outras pessoas que não são próximas a ele.
Peter apresenta a seguir algumas regras de comportamento que podem ajudar ao chefe a manter a sua liderança.
I-Tenha um compromisso claro e muito forte com os seus objectivos no negócio. Você tem de cuidar o suficiente do que quer conseguir. Estar disposto a tomar decisões difíceis em alinhamento com o seu propósito. Você precisa de ser aberto, transparente e apaixonado por esse compromisso, sabendo que algumas pessoas, provavelmente os seus amigos, vão discordar com algumas das suas decisões;
II- Esteja confortável com emoções fortes. Isso inclui as suas próprias emoções e as dos outros. Se você agir de acordo com o seu comprometimento com o negócio, com integridade, você vai deixar as pessoas em seu redor por vezes com raiva. Elas podem ressentir-se ou retrair-se. O facto de parecer insensível não é um problema por corrigir. Você deve saber ouvir e apoiá-las mas não pode ser tão dependente da sensibilidade deles de forma a não levar a sua organização da maneira como você pretende.
III. Desenvolva as suas habilidades que lhe permitirão manter amizades em momentos de desacordo e gerir o seu duplo papel de amigo e de líder empresarial. Essas habilidades incluem integridade inabalável, a escuta empática, falar claro e estabelecer limites firmes;
IV. Esteja preparado para perder amizades. Reconhecer que você não pode controlar tudo o que acontece, porém e em última instância é fundamental mantê-las. Mesmo se você tiver clareza sobre os objectivos do seu papel como líder, se tiver domínio emocional, e a habilidade de garantir amizade, a outra pessoa pode não ser capaz de conviver com as suas decisões contrárias à vontade. Se for o caso, você precisa de ser capaz de sentir a tristeza e seguir em frente. Uma coisa que pode ajudar é ter mais amigos. Não é que os amigos sejam substituíveis, mas ter bastantes amigos vai ajudá-lo a absorver o choque de perder alguém que não consegue lidar com as suas decisões.
Estas regras são aparentemente difíceis de seguir numa conjuntura como a nossa de cultura africana mais especificamente moçambicana onde o espírito de família é muito forte e abrangente. Existe uma grande probabilidade de lhe serem atribuídos sobrenomes que possam distanciar a convivência harmoniosa na família.
Todavia, esse é o risco que um líder deve correr sempre que esteja muito bem alinhado em relação aos objectivos e metas que traçou para o seu negócio.
Fonte: Jornal Notícias - 23.05.2014
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