“Políticas” dúplices dificultam diálogo Governo-Renamo
Por Xavier de Figueiredo
Meios políticos internacionais atentos à evolução do diálogo entre o Governo e a Renamo consideram que adquiriram consistência análises segundo as quais a principal “razão de ser” das dificuldades em encontrar uma solução para a crise reside na “duplicidade” de políticas e atitudes que ambas as partes cultivam.
Governo: − O actual status-quo, na sua exploração política, compromete a Renamo e fragiliza Afonso Dhlakama; reduz a respectiva ameaça eleitoral e presta-se a servir de argumento a um adiamento das eleições; o diálogo e os seus impasses permitem-lhe promover uma aparência de boa vontade e apaziguamento.
Renamo: − Tem vontade de manter a ala militar confinada no Centro do território, embora promova ideia diversa; acredita que o Governo só cederá a exigências que considera “vitais” para o seu futuro como força política, sob pressão da ameaça militar que pode exercer através do emprego de uma estrutura militar sobrante – de que só está disposta a prescindir em condições que considera por atingir.
A ambivalência do Governo tem sido especialmente notada numa sistemática tendência para responsabilizar a Renamo por acções militares que na maior parte dos casos considerados verificados, tem lançado contra a mesma. Um episódio recentemente ocorrido na província da Zambézia, oficialmente atribuído à Renamo, foi cometido pela Força de Intervenção Rápida (FIR).
O esforço principal do Governo consiste em levar a comunidade internacional, especialmente os EUA e o chamado “Bloco Nórdico” da União Europeia, que participa de boa fé e com espírito de abertura no diálogo político com a Renamo, apesar daquilo que considera serem os excessos e ilegalidades presentes na acção da mesma. A aceitação pelos parceiros internacionais de Moçambique da bondade das ideias que o Governo promove acerca da actual crise e do papel da Renamo é limitada.
A solução “em extremo” posta em prática pelas autoridades para recensear Afonso Dhlakama também se deveu a pressões externas, baseadas em advertências de que uma marginalização eleitoral do mesmo e da Renamo seria “perigosa”. Nos seus contactos com personalidades internacionais e regionais, altos funcionários do Governo atribuem à Renamo exigências despropositadas, destinadas a “emperrar” o diálogo. O princípio da paridade em relação aos chefes e comandantes das FA é considerado demonstrativo; alegam que a Renamo não dispõe de um corpo de oficiais com preparação mínima.
2. De acordo com um outlook desenhado pelos referidos meios internacionais, a particularidade da “duplicidade” presente nas políticas do Governo e da Renamo tenderá a esgotar-se com a aproximação da data das eleições de 15 de Outubro já que será impossível a sua realização nas actuais circunstâncias.
É atribuída ao Governo a expectativa de que até Junho a comunidade internacional possa ser persuadida de que a Renamo representa de facto um obstáculo à realização de eleições (não aceita desmantelar as suas forças/não pretende desmantelar as bases em que se acantonou), devendo, por isso, “agir em conformidade”.
São pouco verosímeis rumores que circulam em meios políticos de Maputo segundo os quais as eleições poderão ter lugar nas condições actuais – o que aparentemente serviria intenções da Renamo de continuar a dispor do elemento de pressão armada, como forma de desencorajar eventuais tentativas de fraude eleitoral por parte do Governo.
Fonte: CORREIO DA MANHÃ – 26.05.2014
Sem comentários:
Enviar um comentário