quarta-feira, maio 21, 2014

Opinião de Machado da Graça

Marco do Correio,

Por Machado da Graça

Meu caro Macuácua

Espero que estejas de saúde. Do meu lado está tudo bem, felizmente.
Mas gostaria de te falar de um fenómeno que me está já a enjoar.
Refiro-me a tudo o que está a acontecer à volta do nosso concidadão Filipe Nyusi.
Pois se esse concidadão resolve ir ao futebol, como milhares de outros, lá vão os órgãos de propaganda estatais atrás dele para o entrevistarem antes e no final do jogo.
Se ele resolve ir em peregrinação à Namaacha, rezar no santuário que lá existe, lá estão os órgãos de propaganda do sector público a lançar a tal peregrinação aos quatro ventos.
Ultimamente o concidadão resolveu “visitar Maputo”, coisa que muito me surpreendeu na medida em que eu sempre supus que ele habitava regularmente na capital. Pois lá foram os mesmos órgãos de propaganda acompanhar a tal visita de Nyusi à cidade onde vive.
Só não deram destaque aos fortíssimos apupos que soaram quando foi anunciado, pelo apresentador, que o dito concidadão estava presente no concerto de Jimmy Dludlu na Praça da Independência. Aí deviam estar distraídos...

Ora, das duas uma: ou o concidadão Filipa Nyusi é o candidato presidencial do partido Frelimo ou não é, é um cidadão como outro qualquer. Se é, o que está a acontecer é uma escandalosa campanha eleitoral, fora da época própria, usando meios que pertencem ao Estado moçambicano. Se não é os actos daquele concidadão não têm nenhum interesse público. Ninguém entrevistou nenhum dos muitos outros peregrinos à Namaacha nem espectadores do futebol porque, sendo pessoas anónimas, o público não tem que ser informado dos seus actos.
Quanto a saber se aquele concidadão é candidato do partido Frelimo às próximas eleições presidenciais, as opiniões dividem-se. De um lado estão o Presidente da Comissão Nacional de Eleições e o Procurador-geral da República que afirmam, peremptoriamente, que não é. Do outro lado está todo o partido Frelimo, do topo à base, e pessoas politicamente informadas que dizem que é. Os próprios órgãos estatais de propaganda afirmam que é, assumindo assim que estão a fazer campanha eleitoral fora do período apropriado.
De qualquer forma que olhemos, o que está a acontecer é um escândalo que agride frontalmente as normas democráticas. Praticado por um partido que reconheceu, ao fim de tantos anos, a sua paternidade em relação à tal democracia.
Um abraço para ti do
Machado da Graça,

Correio da Manhã, 20/05/14

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