Marco do Correio,
Por Machado da Graça
Meu caro Macuácua
Espero que estejas de saúde. Do
meu lado está tudo bem, felizmente.
Mas gostaria de te falar de um
fenómeno que me está já a enjoar.
Refiro-me a tudo o que está a
acontecer à volta do nosso concidadão Filipe Nyusi.
Pois se esse concidadão resolve
ir ao futebol, como milhares de outros, lá vão os órgãos de propaganda estatais
atrás dele para o entrevistarem antes e no final do jogo.
Se ele resolve ir em peregrinação
à Namaacha, rezar no santuário que lá existe, lá estão os órgãos de propaganda
do sector público a lançar a tal peregrinação aos quatro ventos.
Ultimamente o concidadão resolveu
“visitar Maputo”, coisa que muito me surpreendeu na medida em que eu sempre
supus que ele habitava regularmente na capital. Pois lá foram os mesmos órgãos
de propaganda acompanhar a tal visita de Nyusi à cidade onde vive.
Só não deram destaque aos
fortíssimos apupos que soaram quando foi anunciado, pelo apresentador, que o
dito concidadão estava presente no concerto de Jimmy Dludlu na Praça da
Independência. Aí deviam estar distraídos...
Ora, das duas uma: ou o
concidadão Filipa Nyusi é o candidato presidencial do partido Frelimo ou não é,
é um cidadão como outro qualquer. Se é, o que está a acontecer é uma
escandalosa campanha eleitoral, fora da época própria, usando meios que pertencem
ao Estado moçambicano. Se não é os actos daquele concidadão não têm nenhum
interesse público. Ninguém entrevistou nenhum dos muitos outros peregrinos à
Namaacha nem espectadores do futebol porque, sendo pessoas anónimas, o público
não tem que ser informado dos seus actos.
Quanto a saber se aquele
concidadão é candidato do partido Frelimo às próximas eleições presidenciais,
as opiniões dividem-se. De um lado estão o Presidente da Comissão Nacional de
Eleições e o Procurador-geral da República que afirmam, peremptoriamente, que
não é. Do outro lado está todo o partido Frelimo, do topo à base, e pessoas
politicamente informadas que dizem que é. Os próprios órgãos estatais de
propaganda afirmam que é, assumindo assim que estão a fazer campanha eleitoral
fora do período apropriado.
De qualquer forma que olhemos, o
que está a acontecer é um escândalo que agride frontalmente as normas
democráticas. Praticado por um partido que reconheceu, ao fim de tantos anos, a
sua paternidade em relação à tal democracia.
Um abraço para ti do
Machado da Graça,
Correio da Manhã, 20/05/14
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