Savvana:
O presidente do município de Quelimane sempre
queixou-se de más relações com o então governador da Zambézia, Itai Maque. Hoje
a província tem novo governador, como está a vossa relação?
Manuel de
Araújo: Tenho boas relações com o actual governador e estamos a trabalhar
juntos. No entanto, acho que o governador Veríssimo terá momentos difíceis até
às eleições. A Frelimo já se reuniu e disse ao governador que ele estava a dar
muito espaço ao presidente do município. Com isso anti-vejo que ele seja pressionado
a mudar de atitude, o que, a suceder-se, vai ser uma pena porque nós vamos
responder à medida, na letra e na hora. Gostaríamos que continuasse como está,
uma pessoa de Estado. Se ele mudar e deixar de ser de Estado e ser do partido,
nós vamos responder à medida.
S: No fim deste
ano, os munícipes de Quelimane e de outros 42 municípios do país vão escolher
novos dirigentes locais. O senhor Manuel de Araújo vai se recandidatar?
MA: Não tenho
dúvidas quanto a isso. Voltarei a concorrer.
S: Não deixa a
escolha do candidato ao critério dos membros do MDM ao nível de Quelimane?
MA: Eu disse uma
coisa na entrevista concedida a STV onde muita gente não compreendeu. Disseram
que Araújo disse que a sua recandidatura não dependia do MDM. O que eu disse é
que a minha recandidatura depende dosmunícipes de Quelimane. Alguns entenderam
isso como se tivesse dito que a minha recandidatura não dependia do MDM. Com
isso querem dizer que os partidários do MDM ao nível da autarquia não são
munícipes de Quelimane? Eu disse que os
munícipes de Quelimane é que vão decidir sobre a minha recandidatura, e os
membros do MDM são munícipes de Quelimane.
Na verdade, o
que está a acontecer é o seguinte: a Frelimo desenhou uma estratégia que é
criar um conflito entre Manuel de Araújo e Daviz Simango, dividir Manuel de
Araújo e o MDM. Garanto que vão usar todos os trunfos para conseguir esse
desejo. E se o MDM não estiver atento, pode cair no erro que culminou com a
expulsão, por exemplo, de Raul Domingos e do próprio Daviz Simango da Renamo. A
minha grande sorte é que Daviz Simango já foi vítima desse processo. Acredito
que isso não vai acontecer, porque Daviz Simango já aprendeu dele próprio o
erro e o impacto desse tipo de tácticas da Frelimo.
Outros
partidários podem não perceber, mas eu e Daviz já falámos e nos elucidámos
sobre esse perigo. Hoje, graças a Deus as nossas relações são boas e quando
mudarem eu serei o primeiro a dizer que não são boas.
S: Durante cinco
anos foi deputado à Assembleia da República pela bancada da Renamo, mas sempre
dizia que não era membro daquele partido. Hoje é edil de Quelimane pelo MDM. É
membro do MDM?
MA: É assim,
para mim não é o cartão que conta. É a determinação e a entrega à causa. Quando
eu aceitei a candidatura para a presidência do município de Quelimane não era
membro do MDM. Essa é uma das virtudes do MDM, ter a visão de ir buscar uma
pessoa que não é membro para concorrer pelo partido. A Frelimo nunca fez isso.
A Renamo nunca fez isso. Isso mostra maturidade do MDM. O importante é o
objectivo a longo prazo.
S: É ou não membro do MDM?
MA: Sou membro
do MDM.
S: Alguns
analistas apontam, como aspecto negativo na direcção do MDM, a concentração de
poderes na figura do presidente do partido. Na última conferência de Gúruè, Daviz
Simango alterou a constituição dos órgãos sociais eleitos no Congresso.
MA: O presidente
Daviz não alterou nada, houve uma proposta de alguns membros para a alteração
dos estatutos do partido. Sugeria, por exemplo, que o secretário-geral e os
membros da comissão politíca fossem apresentados sob proposta do presidente e o
conselho nacional ia ratificar ou não a sua nomeação. Winston Churchill disse
uma vez que a democracia não era um sistema totalmente perfeito, era um dos
melhores, mas não o mais perfeito. Em democracia vence quem tem a maioria. Eu
por exemplo, propus no congresso que o secretário-geral e os membros da
comissão política fossem eleitos. Alguns membros do MDM acharam que a ideia era
boa, mas o momento não era próprio. Porque isso daria azo à infiltrações de
pessoas estranhas. Era preciso manter uma certa coesão, sobretudo neste momento
que o partido ainda é novo. Eu não concordo com isso, mas tenho que aceitar. A
democracia isso mesmo, é respeitar a vontade da maioria. A minha ideia foi
discutida e votada no congresso e perdi.
S: Como é que
são as relações entre o presidente do município e a Assembleia Municipal de
Quelimane?
MA: Uma vez que
eu não tenho bancada, é muito difícil trabalhar com eles. Muitas vezes tenho
que aturar alguns caprichos pelo bem dos munícipes de Quelimane. Muitas vezes
estas bancadas não colaboram. Porém, tenho algumas razões para me sentir feliz,
sobretudo com bancada da Renamo. Desde que o presidente da Renamo passou por
Quelimane, as relações com esta bancada melhoraram muito. Nos últimos tempos a
postura da bancada da Renamo tem sido mais municipal do que outra coisa.
Fonte: SAVANA - 01.03.2013
3 comentários:
Alguns "malandrecos" tentaram deturpar as palvras de Araujo.
Digo isto não por ele ser meu amigo: Manuel de Araújo é dos poucos paladino que dá a cara e luta pelo bem-estar de Quelimane e da sua gente.
É uma pena que nem todos os quelimanenses têm a mesma fibra e coragem que ele.
E digo mais:
Se todos os quelimanenses fossem como os beirenses, em termos de saber identificar o verdadeiro inimigo, NÃO tenho a MENOR dúvida que Quelimane e a sua gente estariam hoje noutros patamares.
É bom que ele, Manuel de Araújo, se candidate e ganhe as eleições, mas também é preciso que ele tenha uma rectaguarda segura, composta pelo povo, e não pelo MDM.
Os partidos nunca são rectaguardas. O povo sim, só que, lamentavelmente, as escadas nunca chegam ao topo, mas levam as pessoas ao topo. Que fazer? A vida é mesmo assim.
Zicomo
Esqueci de dizer isso (VOU ENFATIZAR AO PRÓPRIO MA):
Não se deixe levar pela corrente de alguns jornalistas.
Não deixe, em momento algum, que jornalistas dominem por completo a entrevista.
Não pode o MA seguir a velocidade do pensamento dos jornalistas, NUNCA.
Quando assim acontece, não há entrevista, há julgamento.
É o que se viu na entrevista a STV com o meu conhecido Arsénio Henriques.
Nada contra o Henriques, que é um óptimo jornalista e conquistador de prémios internacionais. Ele tem, claro, o hábito de levar os seus entrevistados ao "desespero" e depois dar-lhes um "golpe fatal".
MA disse coisas que não devia ter dito, porque caiu nesse truque, e deixou-se confundir pela opinião pública.
Não fosse ele bom demais, cairia no "buraco" como caiu MC Rogger numa entrevista ao mesmo entrevistador.
Zicomo
Enviar um comentário