Há que entender que juntos tudo se torna mais fácil
Por Noé Nhantumbo
Contrariar a musculatura e o poderio da máquina partidária de quem conta com apoios fortes e anónimos de origem diversa só pode ser feito com esforços conjugados e inteligentes dos que se dizem oposição em Moçambique.
No lugar de afastar a possibilidade de alianças ou coligações políticas, mesmo que informais e sem estrutura vinculativa, é importante que os opositores não deixem passar a oportunidade de unir esforços e meios para que a alternância democrática no poder se torne realidade.
Alguns sentem uma autêntica fobia à possibilidade de verem partidos nominalmente diferentes se unindo ou se juntando em plataformas eleitorais de algum tipo. Há receio de que tal facto poderia pôr em perigo aspirações políticas e a cargos de direcção de alguns membros. É uma questão do poder em si e todo o pacote de regalias e mordomias associadas que se eleva a factor de decisão política e estratégica. Foi o que se viu, por exemplo, na aprovação pelo Parlamento de regalias e outras benesses para deputados e antigos dirigentes do estado, incluindo o PR.
Outros decidem desprezar a força e o poder de coligações simplesmente porque não conseguem visualizar o seu potencial. Cegueira e fraquezas concepcionais de natureza política ofuscam mentes e dirigentes. Acontece todos os dias. Nem todos os que têm vista funcional enxergam questões básicas.
O capital político que pode ser explorado através de uniões de facto e coligações informais entre partidos da oposição em Moçambique é imenso.
Para contrapor-se à actual desconfiança entre partidos políticos e suas lideranças, é preciso e necessário que alguém tenha a coragem de abrir o caminho frontalmente. O país está acima deste ou daquele líder. A miríade de partidos políticos sem expressão nem existência nacional mina as suas possibilidades junto ao eleitorado. As suas pretensões, por vezes, resumem-se à visão do seu líder, e o partido funciona no quintal de quem encabeça o partido.
Construir uma base política funcional que se ponha ao serviço da causa nacional é uma obrigação dos políticos. A forma que isso tome ou seja não é o mais importante. É o conteúdo, a substância, os objectivos, que devem ser colocados à frente de tudo. Os egos e a apetência pela chefia, as vantagens comparativas e os dispositivos orgânicos jamais deveriam travar o essencial, para que a acção política seja consequente e de resultados satisfatórios.
É preciso colocar-se a fasquia muito acima do está neste momento. De forma dispersa, existem conhecimentos e recursos que, se unidos, podem fazer a diferença nos pleitos eleitorais que se avizinham.
Se o objectivo dos partidos políticos é tomar o poder e desse modo traduzir em realidade o servir os cidadãos e o país, não deveria haver problemas de maior em adoptar-se linhas de acção promotoras de convergência operacional.
Neste momento, parte-se para as eleições com uma coligação, três partidos agindo por si, mais uma mescla de pequenos partidos que, por vezes, se designam como “Oposição Construtiva”. Mesmo uma breve e rápida análise mostra que não são divergências ideológicas que separam a maior parte deles.
Quando o adversário é um e só um, em futebol, todos se unem para fazer frente a esse adversário. Quando a equipa nacional está defrontando outra selecção, não importa o clube de proveniência dos jogadores, mas a equipa que está em jogo, e todos os adeptos se unem em defesa das cores nacionais. Não é complicado perceber isto. Então onde reside a dificuldade de entender e operacionalizar plataformas de ataque contundente a um adversário político já identificado?
É tempo de abandonar politiquices e adoptar postura adulta de partidos políticos com uma agenda nacional real, consentânea com os anseios e aspirações dos moçambicanos.
Abandonar “slogans” e palavreado falacioso, abandonar esquemas e tácticas promotoras de egos e desfasadas dos desafios nacionais.
Sofrem milhões de moçambicanos da maneira mais abjecta só porque quem detém o poder se esqueceu de que governar é servir e não auto-servir-se.
O jogo democrático não tem que ser sangrento, nem ignorando os direitos políticos e económicos dos adversários. O extremar de posições é parte de algo intrínseco ao jogo político, que não deve extravasar para a confrontação militar e física.
Vencer eleições não devera nunca significar excluir os outros dos assuntos nacionais. Uma oportunidade de governar o país deve ser vista como ocasião soberana de cada um dar o melhor de si próprio pela causa dignificante que é servir a nação.
Mudar Moçambique começa em cada um de nós.
Fonte: Canalmoz - 05.06.2014
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