quinta-feira, março 03, 2011

“O MUSEU DA REVOLUÇÃO É NOSSO”, ENTÃO PORQUE TRANSFORMAR O EDIFÍCIO VILA ALGARVE EM MUSEU DA HISTÓRIA DA LUTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL?

CRÓNICA Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas

“A situação do Museu da Revolução é semelhante a do Museu de Chai, onde todos entram e saem, apesar de ser pertença do partido Frelimo. O que não queremos é que o museu seja gerido por pessoas estranhas ao nosso partido. Quem não quiser entrar que não entre. Mas o Museu é nosso e continuará a ser nosso para sempre. A pretensão é que tudo o que foi nosso volte a ser nosso.” Filipe Paúnde, secretário-geral da Frelimo in SAVANA (27/08/2010).
O país voltou a assistir a mais uma encenação teatral e, desta vez como convidado de proa do governo, a Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional (ACLLN), liderada pelo empresário Armando Emílio Guebuza, actual Presidente da República.

Um pacto estranho e duvidoso, se recuarmos a fita da gesta nacional para rebuscar o episódio que marca à detenção injusta seguida de coacção psicológica e tortura ao presidente do Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique, Hermínio dos Santos e não só, mas também o desprezo vil do Ministério dos Antigos Combatentes face às lamentações daqueles que modificaram a dieta alimentar e económica dos actuais patrões da “Pátria Amada”. É ingrata a vida.

Foi um pacto que trouxe um novo parto: a transformação do edifício Vila Algarve em Museu da Luta de Libertação Nacional. Que cinismo político! Mais uma vez os antigos combatentes da Luta de Libertação Nacional foram ludibriados pelo governo com “ chupa-chupas ” envenenados visto que o secretário-geral da Frelimo, o dogmático Filipe Paúnde, foi peremptório no semanário SAVANA de 27/08/2010 ao afirmar que tudo o que tem a ver com o espólio da Luta de Libertação Nacional “é nosso”. Em outras palavras, Paúnde quis dizer que todos os museus ligados à gesta nacional, incluindo o da Luta de Libertação Nacional, são propriedade exclusiva da Frelimo.

Acho correcto e justo que o governo da Frelimo homenageie com factos indeléveis os combatentes da Luta de Libertação Nacional.

A transformação do edifício Vila Algarve em Museu da Luta de Libertação Nacional é um acto de coragem e de grande significância para os verdadeiros libertadores da pátria. Esta transformação, diga-se de passagem e sem querer vestir a pele de especialista em Património Cultural e História de Arte, segue os trâmites legais recomendados pela UNESCO e pelo ICOMOS (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios).

Recuperar um edifício histórico abandonado e que durante largos anos esteve entregue à bicharada dos marginais e delinquentes que nutrem a maioria dos edifícios abandonados no país e transformá-los em patrimónios nacionais acessíveis a todos os moçambicanos, sem preconceitos partidários ou étnicos, é uma atitude de grandeza moral. Não tenho receio nenhum em reconhecer isso. O problema acontece quando alguém do poleiro, como é o caso do “Dom Paúnde”, vem à público anunciar a expropriação de um património nacional (o Museu da Revolução) pelo seu partido, isto já é demais! É um acto criminoso e bárbaro que deve ser actuado pela Justiça Moçambicana e, em última instância, pelos organismos de cultura. É sabido que Moçambique é subscritor do ICOMOS e da UNESCO e não pode, só por si e à revelia destes órgãos, tomar decisões que violem os estatutos e os pressupostos destas duas organizações de defesa e preservação de todo o património mundial da humanidade (classificados ou não).

Salvo desconhecimento meu, não há no mundo inteiro caso de um único partido político democrático que tenha usurpado um património nacional para benefício próprio como aconteceu no nosso país com o partido Frelimo. É realmente incrível.

Quando o senhor Paúnde diz que as armas e os fardamentos foram comprados pela FRELIMO (Frente de Libertação Nacional) está a querer dizer também que o futuro espólio do Museu da Luta de Libertação Nacional é pertença da Frelimo e, por isso, este museu também será deles! Escuso-me aqui de dar aulas de património cultural e arte, mas não me fica mal esclarecer os leitores leigos desta matéria que os espólios do passado não fazem só por si um museu. Eu explico.

A entrada de um espólio num determinado museu pode ser feita de várias maneiras: doação, herança, compra, empréstimo, etc., o que quer dizer que a Frelimo pode muito bem retirar dos museus em referência no SAVANA as peças em exposição (que podem ser permanentes ou temporárias), mas não devia, em circunstância nenhuma, ficar com aqueles museus. Por outro lado, a definição de museu ultrapassa actualmente um simples edifício físico, é um conceito dinâmico, daí a existência de museus móveis, mesmo aqueles que ainda não o são podem tornar-se móveis com a evolução do tempo. Uma coisa é ficar com o edifício onde funciona o museu, a outra é ficar com os museus (que é mais do que um simples edifício). Uma aula de museologia não faria nada mal ao senhor Paúnde.

Não é um museu que vai nutrir às necessidades dos antigos combatentes da Luta de Libertação Nacional. Sabemos que este “casamento” tem como objectivo arrefecer os ânimos dos antigos combatentes que até já ameaçaram desenterrar os machados de guerra com os quais colocariam o governo da Frelimo na gandaia. Uma possível desordem em Maputo motivada pela estiagem nos estômagos dos antigos combatentes iria acelerar à entrada dos ventos mortíferos do norte de África no país. Não é por mero acaso que o “pimpão” da Mobilização e

Propaganda da Frelimo, Edson Macuácua, veio anunciar uma provável reconciliação entre o seu partido e a maquiavélica RENAMO. O problema dos antigos combatentes em geral não é muito diferente das dificuldades dos demais cidadãos deste país: a miséria.

As condições em que vivem a maioria dos antigos combatentes são miseráveis.

São tão desgraçados que até mete dó afirmar que este grupo de Moçambicanos é aquele que realmente libertou a pátria do jugo colonial. O dinheiro que recebem do

Estado não serve para muito senão para comprar alguns litros de aguardente para amolecer as mágoas. É “maningue” triste à situação dos nossos combatente s .

'Kochikuro '


PS: Numa altura em que o ditador Muammar Kadhafi resiste à onda das manifestações no seu país, urge perguntar onde é que anda a nossa oposição para condenar as matanças do regime líbio?

Será que para a nossa oposição os manifestantes ao regime do ditador Kadhafi são assunto das Nações Unidas, o resto que se lixe? Ou será que a principal preocupação da nossa oposição não passa de caçar alguns dólares da comunidade internacional em tempo de eleições? Onde andam, por exemplo, os auto-proclamados humanistas Miguel Mabote e o seu acólito António Massango; o cómico Iaqub Sibindy; o pai da democracia Afonso Dhlakama; o fenómeno nacional Daviz Simango; o “desaparecido em combate” Wehia Ripua, entre outros, para condenarem o massacre do tirano Kadhafi ao seu povo? Já sabemos que o nosso governo não irá dizer patavina, pois é proibido falar mal dos “irmãos”.

Fonte: WAMPHULA FAX – 03.02.2011

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