CRÓNICA
Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
Tenho dito ao longo desta peregrinação literária que, se as famosas ‘presidências abertas’ do senhor presidente da República incluíssem os gabinetes dos seus apóstolos, é bem provável que muitos deles já tivessem renunciado às sinecuras. O problema é que o senhor Presidente da República, em nome da ‘revolução-verde’, prefere visitar hortas de meia dúzia de camponeses sorteados pelos famosos 7 milhões de meticais, em detrimento dos ‘viveiros da corrupção’. Há quem diga, porém, que tal acontece porque esses ‘viveiros da corrupção’ não possuem placas para a aterragem da frota de helicópteros presidencial, razão pela qual a corrupção no nosso país atingiu à medula governativa. Extracto da palestra com os meus sobrinhos.
Na última palestra que tive com os meus sobrinhos alargada, pela primeira vez, ao público de Bruxelas, serviu para fazer o balanço do actual cenário de guerra internacional contra o regime do tiranete líbio Muammar Kadhafi, da tragédia no
Japão e, finalmente, da renúncia compulsiva do Dr. Luís Mondlane ao cargo de presidente do Conselho Constitucional.
Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
Tenho dito ao longo desta peregrinação literária que, se as famosas ‘presidências abertas’ do senhor presidente da República incluíssem os gabinetes dos seus apóstolos, é bem provável que muitos deles já tivessem renunciado às sinecuras. O problema é que o senhor Presidente da República, em nome da ‘revolução-verde’, prefere visitar hortas de meia dúzia de camponeses sorteados pelos famosos 7 milhões de meticais, em detrimento dos ‘viveiros da corrupção’. Há quem diga, porém, que tal acontece porque esses ‘viveiros da corrupção’ não possuem placas para a aterragem da frota de helicópteros presidencial, razão pela qual a corrupção no nosso país atingiu à medula governativa. Extracto da palestra com os meus sobrinhos.
Na última palestra que tive com os meus sobrinhos alargada, pela primeira vez, ao público de Bruxelas, serviu para fazer o balanço do actual cenário de guerra internacional contra o regime do tiranete líbio Muammar Kadhafi, da tragédia no
Japão e, finalmente, da renúncia compulsiva do Dr. Luís Mondlane ao cargo de presidente do Conselho Constitucional.
Foi, como o leitor deve imaginar, uma sessão extraordinária sob o ponto de vista da agenda, a qual os participantes apelidaram de “APOCALIPSE”. Porque, quando não acontece uma tragédia por causas naturais (dessas que deixam o mundo em lágrimas), os políticos com o apoio dos governantes irresponsáveis fazem-nas (tragédias).
Não tenho nenhuma informação que o mundo acabará nos próximos dias, sendo-me permitido, por isso, o ousio de deixar para futuras ocasiões a crónica sobre a tragédia no Japão cujo passamento gostaria de compartilhar fervorosamente com o seu povo, bem como o iniciar das operações militares das forças internacionais de paz para derrubar o regime do tiranete Muammar Kadhafi, na Líbia. Já aqui o disse nas crónicas anteriores que o regime do tiranete Kadhafi está por um fio e, deposto, todo o resto de réplicas deste regime cairão também.
Alguns deles até já começaram a dar mostras disso… Veremos!
Num sermão dirigido ao governo de Chissano, feito a partir da Cadeia de Máxima Segurança, vulgo BO, na Machava, em Maputo, o juiz Augusto Paulino, actual PGR, disse mais ou menos as seguintes palavras “Num Estado de direito pode falhar tudo, à excepção da Justiça. Os agentes da Justiça Moçambicana devem primar pela ética e pelo profissionalismo, ser implacáveis e exemplares no desempenho das suas funções, porque ninguém está acima da lei”. Pelos vistos o sermão do PGR foi pregado no deserto para um alvo atónico e vicioso, porque há muito que a nossa Justiça deixou de ser a arma da vitória e repelente do crime e passou a ser, ela própria, o útero dos problemas do país.
Graças ao semanário SAVANA (glória máxima do jornalismo independente em
Moçambique) o povo ficou a saber, na primeira quinzena deste mês, da existência de um oásis financeiro na presidência do Conselho Constitucional (CC) sob batuta do Dr. Luís Mondlane. Depois de uma certa caturrice à “perdiz” - face às provas apresentadas pelo SAVANA e o povo de olho no caso, o Dr. Luís Mondlane não tinha qualquer “margem de manobra” para fossilizar o assunto (até porque, parafraseando Samora Machel, o “rabo” do visado já estava de fora), senão o de renunciar ao cargo de presidente do CC.
Tomou uma decisão justa e exemplar, sem dúvida. Aleluia! Tudo isto acontece numa altura em que está em vigor no país o plano de austeridade aprovado pelo governo guebuziano em virtude das manifestações sangrentas de 1 e 3 setembro de 2010. O povo não esquece e ninguém pode esquecer o tempo que passou, dizia um dos manifestos da Frelimo durante a luta armada de libertação nacional.
Desta vez (faço questão de repetir este ponto para que camaradas de outros oásis da luxúria sigam as pegadas do visado, renunciando os cargos que ocupam…) a velha máxima que evangeliza os camaradas da Frelimo, segundo a qual, “os cães ladram e a caravana passa”, não serviu para limpar a imagem e salvar a honra do Dr. Luís Mondlane, porquanto os factos apresentados pelo SAVANA não deixam margem para dúvida: houve gato preto com o rabo de fora! É difícil argumentar o contrário quando os factos probatórios estão à vista de todos. Em algum momento na vida, quando estamos perante um caso de corrupção (como este) em que a força da razão é mais forte do que a razão da força, o melhor é sair de cabeça erguida para evitar as algemas da Justiça, que não são mais fortes do que as algemas da boca do povo.
O dinheiro de facto corrompe o poder.
Mas pode corromper a alma? Como é que é possível alguém que durante anos a fio defendeu com afinco e determinação a Justiça do nosso país, pode tornar-se de noite para o dia corrupto? Porquê será que o Dr. Luís Mondlane esqueceu-se assim tão depressa de memorizar que o poder é um serviço que se faz ao povo e não um abuso? Que tipo de mel atraiu o Dr. Luís Mondlane a ponto de perder as estribeiras?
Na vida tudo é possível, tanto para o bem como para o mal. Desta vez, é bem possível que o Dr. Luís Mondlane tenha se distraído e quis, assim, experimentar a curiosidade do gato e deu-se mal. Terá agora, se a Justiça Moçambicana for séria e implacável, de enfrentar o tribunal. A ver vamos se o partido dos camaradas o permitirá.
No entendimento de alguns juristas “a justiça tem que obedecer a uma moral social e que não foi criada nem pode existir para alimentar a vaidade de alguns dos seus agentes que a corporativizam. A justiça tem que ser um bem comum da sociedade. Daí os seus agentes terem que considerar os valores fundamentais dessa mesma sociedade acima dos seus interesses e vaidades pessoais.” Não quero aqui ensinar o Pai Nosso ao vigário, creio que o Dr. Luís Mondlane não só conhece bem e de cor estas regras como as defendeu, mas lá está... quando os apetites estomacais povoam na consciência dum homem justo, onde havia coerência e justiça, passa a haver ideias de “xiconhocas”. Não sei se é o caso do Dr. Luís Mondlane! Creio que não.
Repare, caro leitor, estamos a falar de uma figura que já foi juiz conselheiro do
Tribunal Supremo, substituindo no cargo de presidente do CC o Dr. Rui Baltazar, cujo talento fulgurante assombrava o seu próprio tempo. Pelos vistos o Dr. Luís
Mondlane pouco ou nada aprendeu com a sapiência do Dr. Rui Baltazar. Um simples erro no expoente da idade e, sobretudo, da carreira pode custar caro (mais muito caro mesmo), a um funcionário do aparelho do Estado e não só.
Se o leitor estiver lembrado, na crónica da semana passada, escrevi sobre o corte orçamental do Estado à Universidade Pedagógica, delegação de Quelimane, na
Zambézia, orçado em mais de 40 mil milhões de meticais, quando um X escolhido da sorte no CC gastava, para fins pessoais, 36 milhões de meticais, quantia esta que iria subir de caudal não fosse a coragem do SAVANA. É preciso ter mandíbulas caninas para devorar, em 18 meses, todo este dinheiro. Quantas escolas dariam para construir, camarada Luís Mondlane, com todo este dinheiro?
Quantos hospitais? Se fizesse uma pequena doação desse dinheiro à população da minha terra, em Chivule, Benga, a minha gente ficar-lhe-ia eternamente grato. Chivule, Dr. Luís Mondlane, fica nas margens do rio Zambeze, lá onde os 4X4, mercedez e outras viaturas do vosso magnífico reino não chegam, porque trata-se de um Moçambique à parte.
Definitivamente, para concluir, o governo ainda não percebeu que o país parece conviver muito bem com a trapaça e a corrupção. Com o escândalo do Dr. Luís Mondlane, o governo do dia está entre duas cruzes. De qualquer forma, dificilmente poderá safar-se do crucifixo popular (nas próximas eleições).
‘Kochikuro’ (Obrigado).
WAMPHULA FAX – 23.03.2011
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