Dom Jaime condena humilhação pública do porta-voz da Renamo
- O bispo emérito da Beira e
antigo mediador do Acordo Geral de Paz (AGP), é de opinião que apesar de
poderem eistir razões legais que justifiquem a detenção, “não se pode aceitar
que as pessoas sejam tratadas como cães.
O bispo emérito da cidade da
Beira e antigo mediador do Acordo Geral de Paz (AGP), que pôs fim aos 16
anos da sangrenta e devastadora guerra civil moçambicana, falou ao mediaFAX a
própsito da detenção e posterior legalização da prisão do membro do Conselho de
Estado e porta-voz da Renamo, António Muchanga. Dom Jaime comentou também em
torno da reacção “pacifista e reconciliadora” de Afonso Dhlakama,
que quinta-feira falou em conferência de imprensa, via telefone a partir
de “parte incerta”, algures na Serra da Gorongosa.
Dom Jaime Gonçalves até diz que
compreende e aceita as razões legais por detrás da detenção de António
Muchanga, mas diz não compreender as razões que estão por detrás da “armadilha”
montada pelo governo para a consumação de detenção do portavoz de Afonso Dhlakama.
Pior ainda, refere Dom Jaime, é a forma como as autoridades de administração da
justiça (a partir da polícia até aos tribunais), lidaram e estão a lidar
com o assunto. A grande questão, no entendimento de Dom Jaime, tem a ver
com o que considera “humilação”. Ou seja, para Dom Jaime Gonçalves, mais do que
fazer cumprir a lei, as autoridades moçambicanas criaram condições para
humilhar publicamente o porta-voz da Renamo e membro do Conselho de Estado
Isto, acrescenta, é inadmissível num Estado de Direito Democrático e está-se
perante uma situação em que o Estado diz estar a “cumprir a lei, violando
a lei”.
Para Dom Jaime, os procedimentos
que se seguiram à detenção são simplesmente desumanos e contra as mais
elementares regras de direito e dos direitos humanos.
“Ninguém está acima da lei mas
deter as pessoas como cães também é contra a ética de um Estado de Direito
Democrático”
– disse Dom Jaime, mostrando
alguma revolta em relação ao assunto.
“Repito, ninguém está acima da
lei mas quando alguém viola a lei, a justiça deve proceder conforme a lei
manda. E isso deve ser em sede própria e não em público” – referiu.
Mais, entende Dom Jaime, a
aplicação de qualquer norma de direito deve ter em vista um resultado positivo
a bem da maioria, mas a detenção de Muchanga pode resultar em efeitos
contrários aos da paz, da estabilidade e da confiança entre as partes.
A detenção e legalização da
prisão de António Muchanga pode também ser vista do ponto de vista de uma acção
de perseguição e intimidação de vozes incómodas ao poder, uma acção que, de
alguma forma, pode retardar o tão esperado encontro entre o presidente da
República, Armando Guebuza, e do líder da Renamo, Afonso Dhlakama.
“Nós queremos que se acabe com
discursos enganadores. Não se tapa o sol com a peneira. É preciso um acordo
genuíno que garante a paz aos moçambicanos e não negociações que não trazem
resultados para os moçambicanos. A pergunta é: qual vai ser a reacção dos
que estão no mato depois da prisão de quem está na cidade?” – questionou Dom
Jaime, querendo transmitir uma mensagem de que talvez não tenha sido a melhor
decisão tendo em conta os reais interesses nacionais da actualidade.
Garantias de Dhlakama Questionado
em relação as garantias dadas pelo líder da Renamo, que assegura que a sua formação
partidária não vai retaliar a prisão do seu portavoz, Dom Jaime entende que a
garantia é extremamente positiva, mas ela está dependente não só de
Dhlakama mas dos vários homens da Renamo espalhados pelo país.
Mesmo assim, acredita e faz votos
para que a palavra de Afonso Dhlakama seja efectivamente cumprida. Ao
mesmo tempo, apela às autoridades moçambicanas no sentido de trabalharem
rapidamente para garantir que o líder da Renamo saia da mata e possa iniciar a
sua pré-campanha eleitoral. (Constantino André)
Fonte: MediaFAX, 14.07.2014)
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