A aula proferida por Dhlakama segue-se à esteira de acusações que lançou, segundo as quais alguns académicos, como Lourenço do Rosário e Brazão Mazula, eram `cobardes´.
Igual a sí próprio, Dhlakama lançou o desafio de dar mais aulas aos detentores do saber. Foi um debate em que Dhlakama, sem recorrer a muita cientificidade, explanou aos académicos o seu pensamento político sobre os intelectuais.
Assistiu-se a uma sala cheia, sendo de destacar as presenças do reitor da UDM, Fernando Ganhão, Nelson Saúte, jovem administrador dos CFM, e Lina Magaia, ex-parlamentar da Frelimo. Políticos, estudantes e docentes universitários, jornalistas e o público em geral não quiseram perder a oportunidade de ouvir a retórica política de Afonso Dhlakama.
Aliás, aqueles que pensavam que Dhlakama iria ser ridicularizado e enxovalhado, academicamente, enganaram-se. O líder da `perdiz´ demonstrou que é um animal político por excelência: electrizou a plateia e convidou os intelectuais `amordaçados´ a libertarem-se, alegando ter realizado a parte mais difícil, na longa marcha para a democracia, sistema que, pelo menos para a sua implantação em Moçambique, reivindica a paternidade.
Brazão Mazula, reitor da UEM, a mais antiga instituição de ensino superior público, e Lourenço do Rosário, reitor da primeira universidade privada, ISPU, foram os mais visados pelo antigo guerrilheiro.
Na esteira destas acusações, Lourenço do Rosário estendeu um convite a Dhlakama para apresentar o seu pensamento sobre os intelectuais.
O líder da perdiz começou por dizer que a liberdade de expressão e pensamento são valores na defesa dos quais se bateu ao longo de décadas, longe de terminadas, pois a cada dia `ganha novos contornos e assume diferentes desafios´.
`A responsabilidade da intelectualidade de um país jovem, mas com uma carga histórica forte, como é o caso de Moçambique, torna-se ainda maior, dadas as vicisitudes inerentes ao nosso estado de evolução do processo de democratização, com especial incidência para o aspecto da separação de poderes institucionais´, disse.
Adiantou que esta evolução é vital, não só para as forças políticas, mas, também, e de forma activa, pela sociedade civil, onde a academia deverá desempenhar o papel de vanguarda `sem temer represálias laborais ou de qualquer outra espécie´.
Por seu turno, e de forma didáctica e sistemática, o sociólogo Elísio Macamo enquadrou as questões levantadas por Dhlakama, algo misturadas entre a ciência e a política, que ele classificou de incompatíveis conforme reza a história.
No debate, Dhlakama concordou com parte e discordou de outras perspectivas elaboradas pelo sociólogo Macamo, mas ressalvou que a experiência que transporta desde que chegou das matas ensinou-lhe que muitos intelectuais ainda não se libertaram, não obstante o país estar a viver em paz.
Lourenço do Rosário, reitor daquele estabelecimento de ensino superior, aceitou o desafio de Afonso Dhlakama voltar a um novo debate com intelectuais, lembrando, no entanto, que ele não concorda com a ideologia do líder da `perdiz´, mas não quer com isso dizer que são inimigos. `Estão errados aqueles que defendem que em Moçambique devemos neutralizar a oposição. Precisamos de uma oposição forte para fortificar a democracia´, concluiu Lourenço do Rosário...
fonte: SAVANA in Imensis (02.09.2005) consultado em 20.07.2014
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