A Renamo, principal partido da oposição moçambicana, anunciou hoje a suspensão do cessar-fogo unilateral que anunciara para travar os confrontos com o Exército, principalmente no centro do país, em resposta a alegados ataques militares.
Em conferência de imprensa hoje em Maputo, o porta-voz da Renamo, António Muchanga, disse que o seu partido vai suspender, a partir de hoje, o cessar-fogo, para que os homens armados do movimento se possam defender da alegada ofensiva do Exército, na província de Sofala, centro do país.
"Os comandantes da Renamo entendem que só se voltará a cessar-fogo depois de um entendimento pelas duas delegações no diálogo e com a chegada da mediação internacional, para garantir o respeito pelo compromisso pelas partes", afirmou António Muchanga.
Depois de várias semanas de acalmia nas hostilidades entre o braço armado da Renamo e as forças de defesa e segurança moçambicanas, na sequência de um cessar-fogo unilateral decretado pelo movimento, no dia 07 de Maio, as duas partes voltaram a confrontar-se a partir de sexta-feira última, havendo relatos de vários feridos e um morto do lado do Exército, mas não confirmados oficialmente.
O porta-voz da Renamo disse ainda que, com a suspensão do cessar-fogo, o seu partido já não pode dar garantias de segurança na circulação na principal estrada do país, no troço da região centro, onde a movimentação de passageiros e carga tem sido feita sob escolta militar, desde abril do ano passado, quando eclodiram os primeiros confrontos.
Depois de 21 anos sem guerra, com a assinatura do Acordo Geral de Paz (AGP) entre a Renamo e o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder desde a independência em 1975, o país voltou a conhecer a instabilidade militar, desde Abril do ano passado, na sequência do diferendo sobre a lei eleitoral.
Apesar de o litígio em relação à lei eleitoral ter sido ultrapassado, as escaramuças ainda não cessaram, porque as duas partes não chegam a acordo em relação ao desarmamento do braço armado da Renamo, que o movimento manteve ao abrigo do AGP, para garantir a segurança dos seus dirigentes.
Ataque a coluna de viaturas fere cinco militares e duas mulheres no centro do país
Um ataque a uma coluna de viaturas, atribuído a homens ligados à Renamo, feriu hoje cinco militares e duas civis em Zove, a 10 quilómetros de Muxúnguè, Sofala, centro de Moçambique, disse à Lusa fonte médica.
"Deram entrada no hospital dois civis e cinco militares, todos com contusões e escoriações", precisou à Lusa Pedro Vidamão, diretor do Hospital Rural de Muxúnguè, adiantando que "um militar teve uma fratura no antebraço e foi submetido a uma operação".
O responsável hospitalar disse que os ferimentos registados foram "ligeiros e moderados", com a exceção do militar que apresentou ferimentos de balas no antebraço", informando ainda que as restantes vítimas tiveram "tratamento ambulatório".
Segundo habitantes da região ouvidos pela Lusa, este ataque foi precedido de uma emboscada de homens armados, ligados à Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), principal partido da oposição, a um carro de reconhecimento da polícia e que não deixou feridos.
Os militares foram atacados no mesmo local cerca de duas horas mais tarde e, segundo os habitantes, as mulheres feridas eram passageiras de um carro civil que abria a coluna e que transportava quer civis quer homens do Exército.
Os ataques no troço Save-Muxúnguè tinham porém abrandado após a aprovação de emendas à nova Lei Eleitoral, que era objeto de protesto da Renamo, mas ressurgiram quando o recenseamento eleitoral do seu líder, Afonso Dhlakama, foi colocado em causa em abril passado.
Apesar de o diferendo em torno da legislação eleitoral ter sido ultrapassado com a aprovação de emendas exigidas pelo principal partido da oposição, a tensão política e militar ainda não foi resolvida, devido a desentendimentos em torno da desmilitarização do braço armado da Renamo e da integração de militares do movimento na hierarquia das forças de defesa e segurança.
A Renamo acusa o Governo de reforçar as suas posições militares na Gorongosa, com vista à eliminação de Dhlakama, mas o executivo diz que o líder da oposição é livre de sair do seu esconderijo.
Fonte: LUSA - 02.06.2014
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