Padre Couto traído pelos seus colegas.
O modelo de Bolonha foi visto pelo padre Couto, Orlando Quilambo, Joel das Neves, Firmino Mucavele, entre outros, como o mais flexível. Consideraram o anterior como ultrapassado.
A direcção da Universidade Eduardo Mondlane decidiu, semana passada, que se deve retornar, a partir do próximo ano, ao anterior currículo de quarto anos de formação para a obtenção de licenciatura em diversas áreas do saber, e sete anos para medicina. A ideia não só divide opiniões, como também está a causar estupefacção, pelo facto de o novo currículo baseado no Modelo de Bolonha – três anos de formação para o grau de licenciatura – ter sido aprovado, anunciado e introduzido pelas mesmas figuras que hoje compõem, maioritariamente, a direcção da UEM. A única diferença é que alguns mudaram de cargos, não do órgão. A título de exemplo, Orlando Quilambo, actual reitor, na altura, ocupava o cargo de vice-reitor. Joel das Neves era porta-voz do Conselho Universitário, cargo que ocupa até hoje.
Em todo o caso, o facto é que a UEM vai voltar ao anterior currículo que em 2008 foi assumido como inflexível para a formação de quadros necessários para o desenvolvimento do nosso país, e que aquela universidade introduziria o modelo de Bolonha, de licenciaturas em três anos. O anúncio fora feito pelo porta-voz do Conselho Universitário, liderado pelo Padre Filipe Couto, Joel das Neves e Firmino Mucavel. Estes defendiam que a introdução deste sistema tinha como perspectiva o melhoramento da qualidade de ensino e aprendizagem, bem como permitir a mobilidade e empregabilidade dos estudantes após a formação, além de que iria responder às necessidades do país no melhoramento da qualidade do ensino, bem como garantir a flexibilidade do ensino e aprendizagem. “o objectivo é de permitir o estabelecimento de um quadro de referências de qualificações na Universidade Eduardo Mondlane, em direcção ao esforço feito a nível nacional; a reforma está sendo feita para melhorar a qualidade de ensino no país”.
Na altura, as ordens dos Médicos, dos Engenheiros e dos Advogados alertaram à direcção da Universidade Eduardo Mondlane que o novo currículo era inviável. Os estudantes fizeram coro às contestação das ordens, que chegaram a ameaçar não reconhecer os profissionais formados na base de “Bolonha”.
Por exemplo, Gilberto Correia disse que o currículo de Bolonha podia ter influência na fraca qualidade de ensino, sobretudo na formação de advogados no país
A direcção da UEM, onde o actual reitor fazia parte – não ouve registo de que tenha contestado –, através do seu porta-voz e de directores de faculdades, fez ouvidos de mercador. “Bolonha” era irreversível. Voltou a defender que a adopção de um sistema de cursos longos, fora do contexto de desenvolvimento nacional, não era propício para o desenvolvimento de Moçambique, não só pelo desperdício de recursos, como também pelo prejuízo que se traduzia nos estudantes do ensino superior em Moçambique.
Neste contexto, a reforma curricular pretendia assegurar aos estudantes moçambicanos condições de formação e de integração profissional similares - duração e conteúdo - às dos restantes países da região (SADC). Por outro, pretendia-se criar oportunidade de percursos flexíveis de aprendizagem e processos de reconhecimento de aprendizagens anteriores. “Tínhamos um sistema de precedência com mais de 70 disciplinas; o ensino tornava-se difícil e inflexível”, afirmou, por exemplo, Feminino Mucavele.
Volte-face
Agora, o mesmo porta-voz, Joel das Neves, em nome do Conselho universitário – o mesmo que há três anos decidiu avançar com o novo currículo –, ora liderado pelo então vice-reitor, Orlando Quilambo, vem a público reprovar o que aprovara em 2008, ou seja, deve regressar-se ao anterior currículo, com o argumento - agora - de que “Bolonha” não é viável.
O director de Faculdade de Medicina, Rafique Mamudo, foi um dos rostos do novo currículo. Perante tanta contestação por parte da Ordem dos Médicos e dos estudantes, Mamudo defendeu-se a si e à direcção com o argumento de que este novo currículo era positivo na medida em que iria reduzir os níveis de reprovação.
“A mudança do currículo deve-se aos maus resultados dos estudantes”, dissera Mamudo, em 2008, pouco depois da decisão do Conselho Universitário.
Demissão era um favor
Em entrevista, última sexta-feira, à Stv e ao jornal O País, o bastonário da Ordem dos Médicos, Aurélio Zilhão, teceu duras críticas à direcção da Faculdade de Medicina, pelo facto de o retorno ao antigo currículo prejudicar os estudantes, os quais se encontram em braço-de-ferro com a direcção da faculdade, por lhes querer “amputar” um ano de formação já feito, particularmente os estudantes do 3º ano. A propósito, Quilambo assumiu, na quinta-feira passada, que de facto o currículo iria ser revisto e culpou a direcção de Mamudo de ter faltado à comunicação com os estudantes.
Fonte: O País - 17.10.2011
6 comentários:
Para quê escrever mais, Reflectindo? Para quê dizer mais?
Quer os assessores de Machili (antigo reitor da UP) quer os de pe. Couto e de outros reitores, disse-os que este processo morreria em meia dúzia de meses.
Demorou meses mas a podridão está aí.
Karim, lembraste de como fomos apedrejados ao defender a extinção deste processo (no diário de um sociólogo)? E eu continuo aqui, na bancada sol, a apreciar os resultados daquilo que venho dizendo há três anos, feito vidente.
A experiência é um posto.
Zicomo
Lembro-me, Muna.
Hoje estou no "mood" de perdoar,
Perdoar todos aqueles que nos apedrejaram, e tambem pedir perdao aos que "erradamente e eventualmente" tenhamos apedrejado.
a semana passada foi marcada por 4 pontos muito positivos, 3 nacionais e 1 internacional, nomeadamente:
Internacional:
1-Movimento "unidos por uma mudanca global"
Nacional:
1- NAO a "jogadas no CRM".
2- NAO a "venda de terra "
3- SIM ao regresso dos 4 anos a UEM.
Nada mau, e por isso mesmo, o meu "mood" de perdoar os apedrejamentos,
Risos...
Este retiro trouxe-nos outro Karim.
Zicomo
Eu hei-de rebuscar uma antiga discussão em que "Nuno Amorim" disse coisas... Gostaria que ele viesse atacar esta nova decisão.
Reflectindo!
Faça a arqueologia no seu blog e nos traga essa conversa. Vai com certeza ser interessante reviver essas discussões.
Nelson,
Obrigado, comecei com o artigo acima da minha reflexão e lá indiquei um post muito rico de comentários no Diário de um sociólogo.
Vou prosseguir não para condenar a reviravolta, mas porque os meus concidadãos que estão no poder não entendem que a nós cabe apresentar os nossos pontos, as nossas críticas com argumentos e nada mais porque não fazemos parte do Executivo, não decidimos nada.
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