PROFESSORES de todo o país juntaram ontem, a sua voz, para lamentarem-se, pelos problemas que os consideram crónicos, denunciados e conhecidos por todos, mas que continuam a perturbar a classe. O facto aconteceu no quadro das celebrações dos 30 anos da Organização Nacional dos Professores (ONP).
Trata-se , segundo disseram os professores, um pouco por todo o país, do atraso que se verifica no pagamento de salários e nas horas extraordinárias, a falta de promoções e progressão nas carreiras profissionais, as disparidades salariais entre docentes mais velhos na profissão e os mais novos que abraçam a carreira com habilitações do nível superior, entre outras inquietações que , de certa forma, interferem no processo de ensino e aprendizagem.
Sobre as diferenças salariais, os docentes explicaram que professores recém-contratados, com o nível superior, ganham muito mais que os seus colegas, mais velhos na profissão, que tenham se formado já trabalhando na Educação. Isso é motivado pelo facto de o sector não promover os docentes, em função da sua nova realidade, uma situação que cria frustrações e leva a que procurem outras fontes de rendimento, em detrimento da qualidade de ensino.
Os mesmos problemas de sempre em Manica
EM mensagens e falando ao “Noticias”, os professores retomaram as queixas sobre os atrasos que prevalecem no pagamento de salários, horas extraordinárias, promoções e progressões e disseram haver tendência de não se respeitarem os graus académicos e as categorias profissionais na fixação de salários, o que origina tratamento privilegiado a professores recém-contratados em detrimento daqueles que se formaram e atingiram níveis mais altos enquanto já docentes e funcionários do Estado.
Relativamente aos salários, os professores de Manica afirmam ser penoso o cenário que continua a se verificar um pouco por toda a província, em que os docentes afectos às regiões recônditas, sem instituições bancárias, continuam a percorrer distâncias para receber os seus ordenados nas zonas cobertas pela rede bancária.
Ainda sobre salários, Inocência Rabeca, docente de Filosofia na Escola Secundária de Sussundenga, lamenta os frequentes atrasos no pagamento de salários nalgumas escolas da província, facto que coloca os docentes numa situação constrangedora, para além de transtornar a sua vida e das suas famílias. Esta situação, segundo argumentou, retira a dignidade que o professor merece na sociedade, para além de contribuir negativamente no seu desempenho e motivação profissionais.
Por seu turno, Madeira Sebastião, docente de Geografia, leccionando na Escola Secundária da Soalpo, na cidade de Chimoio, disse que o nível salarial do professor, desde o ensino primário até ao superior, não estimula e muito menos compensa. Ele é de opinião que o professor tenha um salário merecido, à altura das suas exigências profissionais e a medir pelo seu papel na formação da sociedade.
Atraso salarial inquieta em Tete
PROFESSORES da província de Tete pediram ao Secretariado Provincial do Sindicato Nacional de Professores, ontem, por ocasião da passagem do trigésimo aniversário da criação do seu sindicato, para urgentemente interceder junto do governo para agilizar os pagamentos atempados de salários e subsídio de funeral.
Alguns docentes contactados pela nossa reportagem, referiram que o atraso sistemático de salários tem obrigado aos professores a contraírem dívidas, para a satisfação das suas necessidades e, às vezes, incorrem em práticas de corrupção, entre outros modelos ilícitos, para a sua sobrevivência.
“O nosso salário já é miserável e quando chega com muito atrasado complica a nossa vida, pois as nossas famílias vivem deste salário, uma vez não tendo outras fontes de rendimento”, disse Rui Conselho, docente da Escola Primária Completa de Chimbonde, na cidade de Tete, questionando “Com esta situação, como podemos nos preparar para leccionar as aulas?
Para Flora José, professora da Escola primária de Chingale, os professores estão ainda a deparar-se com problemas básicos, de atrasos na disponibilização dos subsídios de funeral para cerimónias fúnebres em caso de morte de um parente (filhos, esposo, esposa ou mesmo seus pais). “Este problema está a preocupar-nos bastante, pois a situação é diferente em relação a outros funcionários deste mesmo Aparelho do Estado” – lamentou a nossa entrevistada.
José Colarinho, da escola Secundária Heróis Moçambicanos, no Município da Vila de Moatize, disse que já é uma canção diária dos docentes falar do salário irrisório que recebemos, assim como a falta de consideração e respeito pelo Estado, sobre o papel do professor como educador e formador do Homem Novo, os futuros governantes deste país.
Horas extras marcam festejos em Inhambane
NA província de Inhambane, o dia do professor foi marcado por manifestação de inquietações quanto ao pagamento de horas extraordinárias. O clima de desconforto que caracteriza a actividade docente naquela parcela do país, deriva do atraso no pagamento do trabalho extraordinário para alguns docentes bem como na demora das nomeações e progressão nas carreiras profissionais.
Com efeito, como forma de minimizar a situação, o sector da Educação começou última segunda-feira, a despachar folhas de dois dos cincos meses em atraso das horas extraordinárias para os respectivos beneficiários, receberem valores monetários correspondentes ao tempo que prestaram serviço ao Estado.
O inicio de pagamento das horas extraordinárias, amainou de certa forma algumas atitudes que mesmo não sendo consideradas de indisciplina nem mesmo reivindicações, ameaçavam o processo de ensino e aprendizagem e que podiam comprometer o aproveitamento pedagógico, principalmente nas classes com exame.
Na província de Inhambane, alguns professores que não escondiam a sua insatisfação pelo atraso no pagamento de horas extraordinárias, manifestaram-se, de forma silenciosa, através de faltas constantes às aulas, ocupando-se com outras actividades extra-docentes, como alternativa para sustentar as suas famílias.
Todavia, segundo disseram alguns professores durante a marcha ontem realizada na cidade de Inhambane, o inicio do pagamento de horas extraordinárias, não resolve totalmente os problemas dos professores, porque segundo afirmaram, persiste a demora nas nomeações e progressões nas carreiras profissionais.
O director provincial de Educação e Cultura, Pedro João Baptista, reiterou ontem que o pagamento das horas extraordinárias vai se efectivar na totalidade, estando em curso um conjunto do processamento de todos dados para o efeito.
Gaza festeja na terra de Samora
Na província de Gaza, os professores escolheram Chilembene, terra natal do falecido Presidente Samora Machel, para clamar pelas melhores condições de trabalho, sociais e reconhecimento do seu papel, na sociedade. Os festejos contaram com a presença do governador Raimundo Diomba.
A necessidade de se disponibilizar pontualmente o subsídio de morte em caso de ocorrência de alguma fatalidade do professor, ou seu familiar directo, constitui, segundo Gilda da Glória Massotchua, um dos assuntos que vem preocupando a Organização Nacional de Professores, colectividade por ela dirigida em Gaza.
Segundo a nossa fonte, contactos directos sobre este, e outros assuntos foram objecto de reflexão entre aquela colectividade, e o chefe do Executivo de Gaza, mas que os avanços não são ainda muito significativos.
Enquanto isso, a província irá reforçar no próximo ano lectivo, o seu efectivo docente com a contratação de cerca de 900 novos professores para diferentes subsistemas de educação.
A medida de acordo com Zacarias Júnior, porta-voz da Direcção Provincial de Educação e Cultura naquela região do país, tem em vista a redução da carga horária decorrente do facto de vários professores continuarem a leccionar em regime de dois turnos e noutros casos, com horas extras excessivas
Por outro lado, ainda de acordo com a nossa fonte, a exiguidade de fundos está a afectar ainda com alguma gravidade, as disciplinas de tecnologias de informação e comunicação, assim como as de francês e agro-pecuária.
Maputo - Professores deviam ser privilegiados
TER o primeiro contacto na educação de um indivíduo é algo de extrema responsabilidade e consequentemente determinante para a formação da personalidade do indivíduo, consideram alguns professores abordados pelo Notícias em Maputo. Os nossos interlocutores foram unânimes quanto às dificuldades que marcam pela negativa o dia-a-dia não só do professor como também de outros cidadãos. Aliás, lamentam a falta de reconhecimento do esforço dos docentes, sobretudo das classes iniciais, na educação das crianças.
Halima Ibraimo é professora da Escola Secundária de Malhangalene. Diz ser testemunha de muitas mudanças no sector, como por exemplo a revisão do currículo e uma maior abertura para cursos superiores, sendo que os professores se preocuparem com o melhoramento dos seus conhecimentos. Todavia, sente que há falta de motivação no seio da classe, mas pelo amor à camisola, muitos não deixam que a desmotivação interfira no trabalho.
Para Casimiro Mahumane, a tarefa de ensinar não difere de outras todas que tem bons e maus momentos. Mas o importante é lutar para se ultrapassar os problemas e se chegar a um bom porto.
Rosa Andrade, professora da Escola Primária completa Acordos de Roma, no bairro de Albazine, contenta-se como professora, mas não realizada, dada a carestia da vida agravada por falta de um reconhecimento à altura do trabalho realizado pelos professores.
Para o vice-presidente da ONP, Rosário Quive a data deve servir de momento de reflexão e não de lamentações para nos tornarmos mais fortes como membros do Sindicato e termos a luz para novas frentes.
Zeferino MartinsMINED aposta na melhoria da qualidade de trabalho - segundo Zeferino Martins
MELHORAR a qualidade de ensino e do trabalho do professor tem sido a aposta do Ministério da Educação, numa altura em que é proporcionado aos quadros, a todos os níveis, a formação, capacitação e reciclagens num processo contínuo.
Este pronunciamento foi feito pelo ministro do pelouro, Zeferino Martins, numa mensagem endereçada aos professores por ocasião do 30º aniversário da Organização Nacional de professores ONP, ontem assinalado em todo o país.
O ministro da Educação exortou na sua mensagem a todos os professores a aderirem ao programa de assistência social para os funcionários, concebido pelo ministério e que visa apoiar a todos os funcionários e agentes do estado no sector de Educação e seu agregado familiar.
Os contemplados são indivíduos com doenças crónicas e degenerativas, incluindo as originadas pela infecção por HIV, que desenvolve uma abordagem baseada em dois pilares: a prevenção e a mitigação.
Zeferino Martins reconheceu a centralidade dos professores no processo de melhoria da qualidade de ensino. “A sua formação, seu recrutamento, a sua indução, a sua formação contínua ou em serviço reveste-se dos maiores cuidados e exige rigor e profissionalismo. Estamos a planificar judiciosamente as nossas necessidades em professores para o ensino primário, secundário, técnico profissional e superior”, lê-se na mensagem.
Para ele, o mais importante é repensar no actual sistema, propondo um novo paradigma na formação de professores que privilegie o saber fazer e as competências profissionais e pedagógicas.
Frisou que as celebrações dos 30 anos da ONP acontecem num ano em que por desígnios históricos celebra-se o ano Samora Machel, o grande timoneiro da pátria moçambicana, educador e pedagogo exímio que nos dá exemplos magníficos de como lidar com crianças, inculcando no seu espírito as virtudes nobres de solidariedade, amor ao próximo e à pátria.
Fonte: Jornal Notícias - 13.10.2011
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