Graça Machel, viúva do primeiro presidente de Moçambique independente Samora Machel acredita que se os Governos de Moçambique e da África do Sul dedicarem todo o esforço necessário para trazer a verdade da morte daquele líder moçambicano à luz, ela pode ser conhecida ainda no seu tempo de vida.
Graça Machel, que falava hoje, em Maputo, numa cerimónia a Samora Machel pela passagem dos 25 anos do acidente de Mbuzini, disse estar preocupada com a lentidão que marca este processo e pediu ajuda ao presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, para colocar todos os seus serviços em auxílio às investigações.
Samora Machel morreu no dia 19 de Outubro de 1986 num acidente aéreo nas colinas de Mbuzini, na vizinha África do Sul, juntamente com 33 pessoas, entre moçambicanos e russos (membros da tripulação) que o acompanhavam numa missão à Mbala, na Zâmbia.
As circunstâncias da morte daquele líder não são muito claras, mas oficialmente a informação veiculada é de que ele foi morto pelo regime do apartheid.
“A dor da perda de Samora recusa-se a morrer. Por vezes adormece, mas a dor se recusa obstinadamente a morrer. Em grande parte porque nós só conhecemos uma parte das circunstâncias da sua morte e outra continua a fugir-nos das mãos e nós 25 anos mais tarde, só queremos conhecer a verdade, só e só a verdade. O presidente Armando Guebuza reafirmou em Mbuzini há dois dias e no colóquio realizado ontem (terça-feira), em Maputo, que tudo fará para que toda a verdade seja conhecida e se eu ouvi bem ele também pediu a colaboração de todos” disse.
Graça Machel acrescentou que “aqui estão o Presidente Jacob Zuma da África do Sul, e os seus predecessores, Nelson Mandela e Thabo Mbeki também prometeram não deixar uma pedra por remover até que a verdade seja conhecida e que a justiça seja feita. Se o Governo de Moçambique e da África do Sul dedicarem todo o esforço para trazer a verdade à luz do dia acredito que ela ainda pode ser conhecida no meu tempo de vida”.
A viúva de Samora Machel sublinhou que saber a verdade é um direito que assiste à família Machel e todas as outras famílias directamente afectadas, bem como ao povo moçambicano.
“Conhecer a verdade é um direito nos assiste a nós famílias, às 35 famílias directamente afectadas e sem dúvidas assiste a todo o povo moçambicano. Preocupa-nos sobremaneira a lentidão no encerramento desta investigação. Estão aqui também connosco outros presidentes que foram amigos e colegas de Samora, e posso sem cerimónias solicitar ao meu irmão Robert Mugabe para pôr os seus serviços também para assistir os Governos de Moçambique e da África do Sul. Nós temos esta ousadia, mas com respeito, simplesmente para que nós possamos, finalmente, ter tranquilidade definitiva das nossas famílias e de todo o povo moçambicano” defendeu.
Num discurso carregado de emoção, Graça Machel referiu que a família Machel e dos moçambicanos que morreram não são as únicas a carregar o sacrifício de vida em missão de Estado.
Segundo ela, este sacrifício é partilhado com a Família Mondlane, dos heróis de libertação nacional e da resistência nacional, dos moçambicanos que morreram durante a agressão do apartheid a Moçambique, bem aos soldados, polícias e outros agentes que morrem ao serviço do Estado.
“O simbolismo da nossa perda é por ter sido o cidadão número um da nação moçambicana, acompanhado literalmente por cidadãos de todas as províncias de Moçambique. Homens e mulheres, jovens e velhos de todos os estratos sociais e de todas as regiões e de uma gana de decisões. Perdeu-se um microcosmos da nação moçambicana, este é o simbolismo que torna este sacrifício singular. Este sacrifício se juntou ao Eduardo Mondlane, a todos os heróis de libertação nacional, dos heróis da resistência. O sacrifício de Mbuzini acresce-se ao de 1,5 milhões de cidadãos mortos durante a agressão do nosso país pelo apartheid. Mas esse sacrifício adiciona-se diariamente ao do soldado, do polícia que morre ao serviço do Estado” disse.
Apesar de terem passado 25 anos, os familiares de Samora Machel e dos 34 tripulantes que morreram na sequencia do acidente e ainda se emocionam muito.
Na cerimónia de comemoração dos 25 anos do acidente de Mbuzini, justamente no local onde o mesmo aconteceu e onde foi erguido um memorial e um museu, muitas lágrimas caíram. Os familiares das vítimas não contiveram as lágrimas no momento em que depunham coroas de flores. O filho mais velho de Samora Machel, chorou muito durante a leitura da mensagem e, na ocasião, teve que ser confortado pelos seus irmãos e sua mãe Graça Machel.
Em conversa com a AIM, familiares dos “mártires de Mbuzini” revelaram que o tempo passou, mas a mágoa, tristeza e saudade prevalecem.
Muitos dos filhos das vítimas do acidente eram menores quando perderam os seus pais.
“Hoje estamos aqui grandes, tentamos compreender certas coisas e não foi muito fácil. Foi difícil viver com a perda do nosso pai. A maior parte das nossas mães tiveram que ser pai e mãe e não foi muito fácil para nós e nem para elas. Muitos não conseguiram, alguns dos nossos amigos que também perderam seus pais no acidente se perderam, foram para caminhos tortuosos e até estão nas drogas. É um momento muito marcante e muito triste porque muito cedo já não tínhamos a quem chamar pai” disse a AIM, Cláudio Navesse, filho de João Navesse.
Para Ivone Maquinasse, filha de José Maquinasse, fotografo oficial de Samora Machel, a celebração dos 25 anos do acidente de Mbuzini “é um momento marcante. O tempo passa, mas as feridas estão lá. Crescemos, mas a saudade permanece e vamos tentar viver com o que os nossos pais nos ensinaram. Éramos uma família unida, tínhamos uma grande relação de muita proximidade”.
Por sua vez, Lúcia Mendes, que perdeu uma prima, Ivete Amós referiu que “esta situação aconteceu e nos entristeceu, mas lembrar o fatídico acidente nos inspira por aquilo que eles foram e passaram para nós. Aprendemos que é com essas dificuldades que temos que viver e honrá-los, bem como seguir aquilo que são os seus ideais”.
A homenagem de Samora Machel enquadra-se na celebração do “Ano Samora Machel”, proclamado do ano passado, pelo Conselho de Ministros, como forma de homenagear este líder que se empenhou pela independência de Moçambique e na construção do Estado moçambicano depois da proclamação da dependência.
A proclamação de 2011 como Ano Samora Machel surge no âmbito da iniciativa do executivo de Armando Guebuza que visa homenagear todos heróis nacionais que deram a sua vida na luta pela independência de Moçambique, entre os quais se destacam Eduardo Mondlane, Josina Machel, Mateus Sansão Muthemba, John Issa, entre outros.
(AIM)
FTA/SG
(AIM)
Fonte: AIM - 20.10.2011
2 comentários:
Nguiliche
É preciso trabalhar muito com impressa independente. O governo da Africa do sul nao é capaz de avancar se a morte implica alguns dirigentes mocambicanos. Esteja ciente disso Sra Graca Machel.
Sra. Graça Machel deveexigir que a Comissão de Inquérito (se é que existe) ter uma interpelação, com alguém que foi Presidente do Conselho Executivo da cidade de Maputo, e que pilotava MIGs.
Pode ser o fio da meada.
E perguntar onde é que estava no dia 19 Outubro?
Como é que ele soube, e porquê é que ia ser demitido no dia 21 de Outubro?
Porque é que ainda mantém e tem altos cargos hoje?
Porque ele traiu o Mabote?
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