O custo/ benefício da reunião de quadros da Frelimo justifica-se?
Matola ficou próxima de Pequim e de Pyongyang pela coreografia e formalismo democrático...
Por: Noé Nhantumbo
É fácil justificar que partidos precisam de reuniões para redefinirem estratégias e visitarem os diversos cenários do país. Muita gente pode defender que tal tipo de reunião é um exercício da democracia interna e momento importante para alinhavar aspectos de sua actuação.
Muita coisa pode-se dizer sobre este assunto que dificilmente esgotaria o tema.
O país precisa de mais democracia mas quando a partida quem deveria estar liderando a implementação e concretização desta necessidade, se entrega a jogos que no lugar de promoverem a democracia promovem a prática de manobras ilícitas justifica-se a descrença de actos daquela natureza como a recente reunião de quadros afectos ao partido no poder.
Que daí tenham advindo ganhos na consolidação de posições e de estratégias visando a realização da agenda daquele partido não temos problema de entender e compreender. É próprio da natureza de partidos reunirem-se e determinarem como querem que os seus assuntos sejam tratados.
O tipo de estratégias eleitas pelas lideranças partidárias é assunto que diz respeito unicamente a determinado partido mas quando para se atingirem os objectivos se tem de recorrer a caminhos menos transparentes e que chocam com o ordenamento jurídico nacional aí já o assunto diz respeito a todos os moçambicanos.
Não estivemos na reunião de quadros da Frelimo e não é sua agenda que queremos referir nesta opinião.
Queremos questionar o financiamento dessa reunião.
Queremos que nos digam com clareza como foram transportados os delegados e convidados pois sabemos que em geral se recorre a fundos do erário público para de forma camuflada cobrir despesas de eventos dessa natureza.
Queremos que os partidos tanto no poder como na oposição se compenetrem de que as mudanças de que falam e quem pretendem ver vingando no país só acontecerão se os seus comportamentos forem drasticamente alterados.
É normal que quem está no poder se pretenda perpetuar nele e que tudo faça para que isso aconteça.
O esforço organizacional da Frelimo aparece facilitado no que se refere a sua capacidade de mobilizar logística a baixo custo custeada por fundos públicos. O ministro de Finanças deveria ser chamado ao Parlamento para responder sobre manobras que são engendradas no seio do governo para financiar campanhas políticas de seu partido.
A democracia ou é algo concreto que se vive todos os dias ou então redunda numa indigesta demagogia.
Todo o clamor e vibração de gente condicionada a votar num determinado sentido por força de circunstâncias estomacais e outras, difere de democracia.
Precisa ser dito que a alteração do calendário ou de programa da estação pública de televisão para transmitir assuntos relacionados como a abertura e encerramento da Conferência de Quadros da Frelimo constitui uma violação flagrante do modus operandi de um canal público de comunicação social.
A continuada primazia de transmissão privilegiada de assuntos deste partido é um atropelo a pretensão de democratização do país.
Também constitui violação a deontologia da comunicação pública recrutar ou arrebanhar quadros do sector de comunicação pública para assessorar em questões de campanha política quando estes profissionais têm os seus salários pagos pelo erário público. É de factos concretos que se constrói uma democracia e não com declarações alegadamente inócuas de boa vontade.
A Frelimo pode e deve reunir-se quantas vezes quiser mas que seja à custa das contribuições de seus membros e não do erário público.
A normalização da vida governativa requer que os partidos pautem por princípios democráticos e que sua acção tenha como guia esses mesmos princípios.
O país está sofrendo uma corrosão de seu tecido social e especialmente da sua juventude porque uma agenda que persegue o poder em si prefere envenenar este segmento social com todos os condimentos opiáceos conhecidos. A custa mais uma vez do erário público organizam-se shows de música, futebol, concursos de moda e outro consumismo barato de modo a subverter a opinião daqueles que poderiam por em causa um sistema que não está servindo os objectivos de construção de um Moçambique justo, democrático e desenvolvido.
Impõe-se apontar o que atrasa o desenvolvimento do país e um desses factos e todo o folclore e coreografias de inspiração chinesa e nortecoreana como se pode observar na reunião de quadros da Frelimo.
Todos dizem sim e batem palmas quando as moções de saudação disto ou daquilo são lidas mesmo que no seu intimo digam não.
Fonte: Diário da Zambézia – 11.10.2011
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