Caros senhores Armando Guebuza e Afonso Dhlakama

Por Jeremias Vunjane

Chamo-me Jeremias Filipe Vunjanhe, moçambicano, de 28 anos. Nascido em Dezembro de 1984, numa das fases mais dramática e violenta da guerra que vós fostes autores e actores principais. Sou natural de Hehua ou Ébga, uma anónima e minúscula comunidade da localidade de Hamamba, situada a sensivelmente 50 km da sede do Posto Administrativo de Muxungue, no Distrito de Chibabava em Sofala. Como sabéis Muxugue foi transfomado, porordens e agentes militares vossos, na principal frente de operações de guerra, nos dias 3 e 4 de abril que mataram 9 vidas huamanas inocentes, ferindo outras quinzenas e tendo ainda forçado milhares de meus conterranos, familiares, amigos e compatriotas, a bandonarem suas casas e fazer das matas suas novas residências.

Não tenho vossos contactos telefónicos muito menos correios electrónicos  Sei que um de vocês detesta o facebook e desencoraja contundentemente o seu uso pelos jovens ainda que ele próprio tenha uma conta . Sei também que um de vocês vive numa das comunidades da Serra de Gorongosa desde o passado dia 15 de Outubro com difícil acesso a internet.

Antes de prosseguir, saibam senhores que eu nasci em em Dezembro de 1984 em condições extremamente precárias, num parto normal mas de enormes riscos para mim e para minha mãe. Pelas circunstâncias da guerra de que vós sóis co-responsáveis fui forçado a alimentar-me de papa de manga verde nos primeiros meses de vida e só pela Graça de Deus. Com apenas 8 anos fui novamente forçado a separar me dos meus pais em busca de uma educação que, vós senhores haveis me negado devido ao estrondo das vossas armas. Resisti e sobrevivi. Poderia ter sido mais um de tantos milhões de crianças e mulheres que morreram durante e depois da guerra que teimais em chamar, injustamente, ora de desestabilização ora civil que durante 16 anos matou milhões e milhões de meus e vossos compatriotas. Poderia ter sido mais um no grandíssimo univerno de moçambicanas e moçambicanos condenados ao analfabetismo e a viverem a vida inteira indignamente pelas desastrosas consequências da guerra que agora quereis retomar.

Escrevo-vos para expressar a minha profunda revolta, insatisfação, indignação e repúdio pela vossa total e completa irresponsabilidade ao permitir, 20 anos depois dos Acordos de Paz assinados no longínquo ano de 1992, Muxumgue, Chibabava, Gondola, Gorongosa, Sofala, Manica e Moçambique todo, vivam novamente um ambiente de forte tensão, de medo, de pânico, de insegurança, de incerteza, instabilidade e de guerra. Expresso igualmente meus sentimentos de pesar a todas as famílias enlutadas e votos de rápidas melhoras para todos os enfermos.

A vossa soberba e desmedida ambição pelo poder, a vossa arrogância e a vossa irresponsabilidade são inimigos do povo e do nosso País e pode novamente conduzir o Pais a uma longa e fratricida guerra de proporções desconhecidas. Ao invés de enviar três camiões e um blindado lotados de agentes da Força de Intervenção Rápida-FIR e de mobilizar ex-guerreiros da Renamo de todo o Distrito de Chibabava para a sede e matas de Muxúngue, aumentando o ambiente de forte tensão, de medo, de pânico, de insegurança, de incerteza, instabilidade e de guerra que tem resultado na deslocação de milhares de pessoas, na paralisação de aulas e de outros serviços essenciais públicos básicos, pondo em perigo milhares de crianças, mulheres, e idosos, mobilizai as vossas consciências rapidamente e usai e aproveitai o pouco de bom senso e sentido de humanidade que resta em vós para dialogarem e encontrar uma solução pacifica em beneficio do povo para que não sejais julgados e condenados exemplarmente pelo “Tribunal da História”.

Abraços fraternos e solidários

Jeremias Vunjanhe

In Diálogo sobre Moçambique aqui (07.04.2013)