O Líder da Renamo, Afonso Dhlakama, disse ontem, na serra de Gorongosa, em Sofala, que o Presidente da República, Armando Guebuza, tomou a iniciativa há três dias de contactar-lhe, por via de mensagens, enviando-lhe cinco pontos de negociação para a manutenção da paz no país, o que deve passar pela cessação imediata dos ataques às forças de segurança e a civis, tal como aconteceu recentemente no posto administrativo de Muxúnguè, distrito de Chibabava, em Sofala.
Em presença destas propostas de diálogo, o líder da Renamo disse que reagiu positivamente, endereçando também uma outra mensagem ao Chefe do Estado que, na prática, ditou o fim do clima de violência, traduzida no ataque ao posto policial de Muxúnguè e no assassinato de civis ao longo da Estrada Nacional Número Um.
Entretanto, ainda não há pronunciamento oficial da existência da troca de correspondência com o Presidente da República.
Apesar dos ataques armados protagonizados recentemente pelos seus homens e que custaram já oito mortos, Afonso Dhlakama reiterou que a Renamo não mais voltará à guerra.
Na correspondência entre as partes, segundo Dhlakama, o Chefe do Estado terá solicitado à Renamo para abandonar o discurso belicista de incitação à violência usado nos últimos dias pelo secretário-geral daquele partido, Manuel Bissopo. Igualmente referiu que foi proposto a constituição de três grupos de trabalho para diálogo com o Governo visando uma eventual revogação da Lei Eleitoral.
Afonso Dhlakama disse também a jornalistas que pediu a libertação incondicional e imediata dos 15 membros da Renamo detidos pela PRM em Muxúnguè, a retirada de toda a força governamental, estacionada sobretudo nos arredores da serra da Gorongosa, em Nhamaphaza e proximidades das suas sedes, em Muxúnguè e em Nampula, incluindo a eliminação da acção do reforço da presença policial na zona centro.
Falando à comunicação social na sua base em Satungira, posto administrativo de Vunduzi, onde se encontra aquartelado desde Outubro, região que dista a 30 quilómetros da vila de Gorongosa, o líder daquela maior formação política da oposição revelou que o Reitor do Instituto Superior Politécnico (ISPU), Lourenço do Rosário, é o intermediário deste contacto entre ele e o Presidente da República.
Num outro passo da sua declaração, Dhlakama observou que se tal diálogo constituir mais uma “aldrabice”, tal como aconteceu em Nampula, a Renamo não vai participar e nem haverá eleições no país. Realçou que o seu interesse foi sempre de lutar pela democracia em Moçambique a partir dos seus 22 anos de idade até agora que completa os 60.
Pronunciando-se sobre o que resultou para si do caso das hostilidades entre os seus homens armados e a Força de Intervenção Rápida, ele afirmou que depois da dispersão dos membros da Renamo pela Força de Intervenção Rápida em Muxúnguè, na passada quarta-feira, recebeu pressões dos seus antigos guerrilheiros para demitir-se imediatamente da liderança do partido sob risco de ser morto, caso não autorizasse uma acção de resposta.
Disse que em consequência disso, e para salvaguardar a sua vida, a única solução que teve foi de dar ordens aos seus homens para responderem pela mesma medida, atacando o posto policial. Relativamente aos ataques a viaturas, assassinatos de civis e saque de bens de viajantes registados na EN-1, na passada quinta-feira, classificou-os como tendo sido acidentes de percurso. Acrescentou, contudo, que lamenta a ocorrência das mortes e aproveitou o momento para transmitir, via Imprensa, os seus pêsames às famílias enlutadas.
Ainda durante a conferência de Imprensa, Dhlakama disse que para se garantir uma verdadeira democracia em Moçambique há toda uma necessidade de a comunidade internacional e a sociedade civil moçambicana agirem a favor deste Direito Constitucional e não apenas contra o seu partido, considerando que a Renamo viveu 20 anos de humilhação e assassinatos sob um silêncio cúmplice de todos. (Horácio João)
Fonte: Jornal Notícias - 11.04.2013
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