quarta-feira, novembro 02, 2011

"Duros" da FRELIMO irritados com Mia Couto

Maputo, 02 nov (Lusa) - Setores ortodoxos da FRELIMO, partido no poder em Moçambique, estão irritados com o escritor moçambicano Mia Couto, na sequência de declarações deste em defesa do direito à revolta, disseram à Lusa analistas locais.
Numa entrevista concedida em outubro à Lusa, em Penafiel, Portugal, Mia Couto, interrogado sobre o movimento dos indignados que então se assinalava, defendeu: "É preciso sair à rua. É preciso revoltarmo-nos".
Estas palavras caíram mal em setores considerados dos mais duros no partido do governo, que as associaram às manifestações de setembro de 2010, que durante dois dias paralisaram Maputo, causando pelo menos 10 mortos, bem como às ameaças ainda não concretizadas de Afonso Dhklakama, líder da RENAMO, de organizar manifestações nacionais "para correr com a FRELIMO".
Recentemente, numa manifestação de veteranos de guerra em Maputo, exigindo o pagamento de pensões, as palavras de Mia Couto foram novamente lembradas.
Na última edição do semanário Domingo, do grupo Notícias, propriedade do Banco de Moçambique e que veícula as posições do governo, o mais traduzido escritor moçambicano é desancado num artigo de opinião de Kandiyane Wa Matua Kandiya, pseudónimo associado a um ex-vice-ministro da FRELIMO.
"Será que ele é o novo porta-voz do movimento dos que em dezembro querem desalojar a FRELIMO do poder?", pergunta, numa alusão às ameaças da RENAMO.
"É que para uma pessoa como ele, que tem fama, boa saúde, física, mental emocional, que possui e vive numa boa casa, com 'geladeira', carros, empresas, dinheiros, não conhece a cor da fome, que motivações o levarão a pedir socorro aos portugueses para o ajudarem a ir à rua?", critica o colunista.
Hoje, numa entrevista ao diário O País, Mia Couto diz que as suas palavras foram reproduzidas em Moçambique "fora do contexto", que era o movimento dos indignados, que se assinalava por todo o mundo.
"Eu não estaria a encorajar nem a fomentar nada. Também nem tenho esse poder nem quero ser aproveitado", referiu Mia Couto.
"Não quero que alguém use as minhas palavras como um trampolim ou como uma caução para qualquer coisa", disse.
Mia Couto acrescentou que, no caso de Moçambique é "contra manifestações de violência como aquela que ocorreu em setembro" e contra "manifestações que, agora, alguns políticas anunciam como trampolim para chegarem ao poder"´.

LAS

Lusa/Fim

Fonte: AIM - 02.11.2011

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