Manuel Matola (texto) e António Silva (fotos), da Agência Lusa
Maputo, 06 nov (Lusa) - Hermínio dos Santos é, hoje, o líder improvável da contestação ao Governo de Moçambique, ao liderar os Desmobilizados, "veteranos de guerra" que se têm manifestado em Maputo pelo pagamento de pensões mensais.
Aos 53 anos, Hermínio dos Santos lidera o Fórum dos Desmobilizados de Guerra que congrega mais de uma dezena de associações e que, nas últimas semanas, se tornou na principal atração dos media por confrontar diretamente o executivo, reivindicando um encontro com o Presidente da República, Armando Guebuza, para expor os problemas dos seus associados.
Mas a fama do líder deste grupo contrasta com a sua vida privada: Hermínio dos Santos não tem um emprego formal, diz receber uma pensão de 1.300 meticais por mês (35,60 euros) para sustentar os seus 10 filhos e as duas mulheres com quem vive. Por isso, para reforçar o seu rendimento, tem que fazer "biscates nos quintais" dos vizinhos.
"Estou a criar os meus filhos com muita dificuldade. Eu faço um pouco de tudo: corto espinhos e varro quintais dos vizinhos para ganhar dinheiro", conta Hermínio dos Santos, em entrevista à Lusa.
"Eu vivo tipo um rato", conta, referindo-se a uma casa minúscula, com duas divisões, quarto e sala, uma propriedade que, aliás, é do seu filho mais velho, atualmente a residir na África do Sul.
Na entrevista à Lusa, o rosto mais visível do Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique lembra que não teve a oportunidade de estudar como outros moçambicanos porque muito cedo teve que se "juntar à causa nacional, à defesa da pátria".
Na altura em que foi recrutado para o exército, em 1975, teve que abandonar a meio o terceiro ano do curso de Artes e Ofícios, na Zambézia, sua terra natal, e, no ano seguinte, participou na reação ao primeiro ataque ao novo país independente do exército da antiga Rodésia do Sul, atual Zimbabué.
Mas, o combate que guarda na memória é o de 1985, quando, na qualidade de Major, uma patente que, diz, lhe foi atribuída por Samora Machel, chefiou "um contingente de 18 elementos que matou 150 bandidos armados", (como eram designados os ex-guerrilheiros da RENAMO), na região de Jonasse, próximo do Rio Matola, sul de Moçambique.
"Mas esta patente nunca ganhei, porque a FRELIMO sempre exigiu provas. Até hoje querem que eu apresente, pelo menos, quatro testemunhas", para reconhecer o posto de major, diz.
De resto, Hermínio dos Santos reconheceu que foi esta a situação que o deixou revoltado contra o partido no poder em Moçambique.
"Quando fui desmobilizado fui à procura de emprego, mas disseram-me que sou velho e que não tinha a 10.ª classe. Como é que podia estudar na guerra?", questiona.
Atualmente, Hermínio dos Santos preside a um movimento que reivindica ter mais de 10 mil homens, aos quais se juntam viúvas e órfãos de combatentes mortos durante o conflito que, de 1976 a 1992, opôs o Governo da FRELIMO à guerrilha da RENAMO.
"Se fosse o meu desejo, a FRELIMO devia considerar este ano o fim do sofrimento dos desmobilizados".
Se não houver soluça, diz: "Prefiro morrer do que sofrer".
MMT.
Lusa/Fim
Fonte: Notícias Sapo - 06.11.2011
2 comentários:
Não está fácil.
Zicomo
AVALUNGANGA TIHOSSI. Quando t recrutaram nao foi necessario testemunhas, agora ke e dinheiro hawena xanha xipixi
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