sábado, novembro 19, 2011

De costas voltadas

Por Machado da Graça

Virando, claramente, costas a David Simango e ao seu Conselho Municipal, o Grande Samora olha para a baixa da cidade, com ar severo.
Quanto a mim ele está zangado com alguns desmandos que aquela zona histórica está a sofrer, alguns já executados e outros planificados e aprovados.


O plano de deitar abaixo a Casa Coimbra para lá implantar um gigante, com fachada de espelhos, é uma das coisas que deve estar na origem daquele dedo no ar de Samora.
A ideia mais do que bizarra, de construir um monstro de 47 andares entre os edifícios históricos dos Correios e da Biblioteca Nacional deve ser outra.
Porque ele era muito sensível a todos os aspectos ligados à cultura e a paisagem urbana é um desses aspectos.
A baixa velha de Maputo é, no seu conjunto, um monumento histórico da vida da cidade. E, como tal, deveria ser preservada e protegida.
E isto não quer dizer que não se possam construir novos edifícios. Em muitas partes do mundo já se enfrentou o mesmo problema e se encontraram soluções.
Creio que é em Frankfurt, na Alemanha, que quem estiver no centro da praça do município parece estar numa praça medieval, dado que todas as fachadas dos edificios têm séculos de idade. No entanto, se se entra em qualquer um desses edifícios, a situação muda logo de figura pois, passada a porta medieval, entra-se em edifícios modernos e funcionais. Mas a paisagem urbana foi preservada no seu contexto histórico.
Se, por exemplo, o Banco de Moçambique preservasse a fachada da Casa Coimbra, embora construindo por trás um edifício moderno, o mal que se prepara poderia ser muito diminuido. E, é claro, sem fachada de espelhos nos andares que se sobrepõem à fachada antiga.
Outra coisa que deve estar a preocupar o Grande Samora é a presença, a poucas centenas de metros, do Pequeno Samora. Sim, estou a falar da estátua antiga, ali à frente do portão do Jardim de Tunduru.
É que não faz nenhum sentido ter duas estátuas de Samora Machel, iguais em tudo excepto no tamanho, a pouquíssima distância uma da outra. Talvez o dedo apontado de Samora seja a querer dizer que “mandem a estátua pequena lá para Cabo Delgado!”.
Enfim, conversas de estátuas.
Mas que ele está de costas voltadas para o Município, isso ninguém pode negar…
Fonte: SAVANA - 18.11.2011

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