RECENTEMENTE um colega de profissão, dizia-me, com grande preocupação e indignação, que decididamente começou a tornar-se mania ou tornou-se já mania, praticarem-se irregularidades de vária ordem no nosso país como sejam roubos, maus tratos a trabalhadores nas empresas, sobretudo privadas e outras, para depois os mentores desses males solicitarem a “ajuda” de camaradas do partido no poder mais influente na tomada de decisões para “safarem-se”, quando são apanhados.
Naturalmente que pela natureza e sobretudo pelos sinais de indignação evidenciados pelo meu colega, eu como cidadão deste país fiquei também indignado, tanto é que já tinha ouvido falar várias vezes de longe. O que me faltava era ouvir de perto o pedido dessas “ajudas” ou “refúgios”, e “graças” a Deus aconteceu e serviu de base para o que aqui se comenta.
Semana passada a ministra do Trabalho, Helena Taipo, fez uma visita relâmpago à grande empresa GS HOLDINGS, situada na parte baixa da cidade de Nacala-Porto, na província de Nampula, onde constatou de perto as más condições de trabalho, falta de assistência médica e medicamentosa, injustiças salariais, entre outros problemas graves, e na sequência disso ela mandou encerrar temporariamente a empresa.
Depois dessa decisão, ouviu-se da boca de um dos sócios-gerentes num dos telefonemas dos tantos que ele fez a dizer que “estou mal camarada, a ministra chegou e nem avisou e mandou fechar a empresa, estamos muito mal camarada”. Na verdade, parece ser hábito neste país as pessoas provocarem problemas, nalguns casos de forma deliberada, como de desvio de fundos do erário público e outros, para depois pedirem “ajuda“ dos camaradas para “safarem-se” como poderá ter sido o caso vertente.
É lamentável quando o objectivo das nossas empresas como daquela dimensão, que deveria ser também se empenhar para a melhoria de condições de vida dos trabalhadores, participando no combate à pobreza absoluta, ser apenas de obtenção de lucros, com agravante de mesmo reconhecendo que não estão a cumprir as normas de trabalho vigentes no país, querem continuar a funcionar.
O nosso modesto apelo, que espero seja bem entendido, é que os “refúgios” nos camaradas não podem ser permitidos de forma nenhuma, se bem que não estão a ser permitidos, pois que coloca obstáculo à união dos membros do nosso governo na tomada de decisões sérias e pelo mesmo objectivo primordial, que é a erradicação da pobreza rumo ao desenvolvimento de Moçambique.
Por outro lado, e se bem que os camaradas marcam diferença positiva neste país, espera-se, então, que não admitam que as lideranças ministeriais ou doutros sectores, se revelem mais ou menos hesitantes na tomada de decisões como aquela que tem feito a nossa ministra do Trabalho, por causa dos que “refugiam” neles quando cometem falcatruas. Isso só será possível quando perceberem que neste país não há falta de exigências do tipo da Helena Taipo, o que falta é aparentemente a “coragem” política para a tomada daquele tipo de medidas.
Precisamos de ideias honestas vindas de camaradas de coragem, capazes de resistir esses “refúgios” que acabam interferindo negativamente na resolução de problemas que nos afectam. Acima de tudo, é fundamental estarmos mais unidos e determinados como moçambicanos, mesmo com todas nossas diferenças político-partidárias, sociais, económicas, culturais e outras.
Já vai sendo tempo de não se admitir que alguém roube ou maltrate trabalhadores nas empresas ou instituições, cause acidentes de viação, não respeite as leis do nosso país e pratique outras irregularidades confiando nesses “refúgios” ou “ajudas”. Só teremos bons investimentos no nosso país quando os investidores, quer nacionais, quer estrangeiros, cumprirem devidamente as normas que regulam esse processo, caso contrário, devem ser penalizados, tal como faz a ministra do Trabalho. Esperamos que esses camaradas joguem um papel importante no cumprimento das leis no país, combatendo claro, sem contemplações esses “refúgios”.
Fonte: Jornal Notícias - 17.11.2011
2 comentários:
Este colunista quando entende põe o dedo na ferida e espingardeia mesmo.
Zicomo
Muna, Mouzinho de Albuquerque é dos jornalistas que põe o dedo na ferida. Nem sei como é que aquela gente de Napipine não aprende com ele.
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