Qualquer líder forte apoia-se também numa oposição forte. E para que uma sociedade seja forte, precisa de aglutinar todas as forças que lhe compõem, por mais díspares que elas sejam. Uma oposição frágil, que no lugar de confrontar o governo com políticas alternativas procura a acomodação, é o pior perigo que uma sociedade democrática pode enfrentar.
Uma sociedade forte precisa igualmente de uma sociedade civil forte que contribua com as suas mais variadas ideias para o engrandecimento dessa mesma sociedade. Não é de grupelhos de indivíduos desesperados, perenemente à caça das migalhas deixadas cair debaixo da mesa do poder que se constrõem sociedades fortes, dinâmicas e prósperas.
Por isso se pretendemos construir um Moçambique forte, dinâmico e próspero, uma sociedade moçambicana onde, nas nossas mais diversas expressões todos cabemos, devemos desencorajar as tendências para uma oposição cada vez mais domada e subserviente; uma oposição que, despida de qualquer tipo de ideias construtivas, descapitalizada e sem futuro, oferece-se livremente ao poder, na esperança de que este depois se encarregue da sua eterna sobrevivência.
A oposição não tem que estar necessariamente no parlamento. Uma sociedade heterogénea é feita também de pequenas expressões político-ideológicas, económicas, sociais e culturais cujos números são tão insignificantes que nem sempre podem conseguir corresponder ao rigor matemático imposto pelas leis eleitorais para se posicionarem no parlamento. Mas a insignificância numérica não pode ser confundida com irrelevância total. Esses partidos representam uma determinada franja da sociedade moçambicana, por mais pequena que esta seja.
Esses grupos representam interesses próprios que, devidamente articulados pelos seus legítimos representantes e em fóruns próprios, podem contribuir para a solidificação da unidade nacional e minimizar o potencial para conflitos destrutivos.
A coaptação dos opositores é a arma dos fracos; os pobres de espírito. Os fortes, esses impõem-se através da razão, aceitando que os seus oponentes podem ter razão, mas que os seus argumentos são mais persuasivos.
É triste o que se passa em Moçambique, onde autênticos mendigos, mascarados em políticos da oposição, se curvam perante o poder, oferecendo-se a este de corpo e alma, suplicando para que lhes deixe recolher para a sua tigela os restos do seu último banquete.
Na sua generosidade, e embalado na natureza pseudo correcta dos seus princípios, o poder vai subvertendo toda a sociedade, apropriando-se de recursos e instituições públicas que as coloca ao serviço da sua ideologia partidária, exercida eufemisticamente para servir o povo.
Os que, fazendo uso do seu direito constitucional à livre expressão ousam questionar certas políticas do governo, não são poupados da longa cartilha de rótulos pronto-a-vestir; Va hanta. Uma expressão ronga que quer dizer que estão alucinados. O singular é wa hanta. Assim, conjugada no plural, significa que há muitos alucinados neste país.
Não há nada no mundo político que se assemelhe a uma “oposição construtiva”; nem como bloco, nem como rochedo. O papel da oposição é o permanente questionamento da acção do governo, exigindo que este preste contas ao público sobre as suas actividades. Quando a oposição assume-se como “construtiva”, quer na letra quer no espírito, esvaziam-se todas e quaisquer pretensões de se ser oposição. Uma oposição “construtiva” torna-se, por esse facto, parte integrante do governo do dia.
O espaço deixado vago pela oposição que se deixou transitar para o “construtivo” passa a ser ocupado pela verdeira oposição, aquela que tem questionamentos sobre o governo. É uma oposição que, não dispondo de uma liderança centralizada, é geralmente propensa à anarquia. Num ambiente de anarquia, todos podem falar ao mesmo tempo sobre coisas totalmente diferentes. É neste tipo de ambientes onde se evidencia a violência gratuíta, mas sobre a qual ninguém assume responsabilidades. Porque não há um interlocutor válido, devidamente identificado. É neste tipo de sociedade onde pretendemos viver? (redaçao)
Fonte: Savana - 04.11.2011
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