Por Ricardo dos Santos
A educação visa melhorar, a natureza do homem, o que nem sempre, É aceite pelo interessado - Carlos Drummond de Andrade
Quem lida com informática sabe que o termo “formatar” pende, literalmente falando, como uma espada de Dâmocles sobre as nossas cabeças, pois nunca se sabe o que daí poderá advir. Poderá significar uma retomada promissora de um trabalho, ou simplesmente a nossa sentença final. E tudo isto vem a propósito de um debate que nos tem acompanhado no dia-a-dia. A qualidade do ensino em Moçambique.
Há muito que oiço por aí, que estudar debaixo de árvores ou sentado no chão diminui a inteligência dos alunos. Mas agora, conseguiram surpreender-me com uma nova revelação. Que os castigos corporais e outros mimos à estudantes mal comportados e preguiçosos, diminuem o Índice de Desenvolvimento Humano nacional. Onde já estamos...
E no Vietname, em Cuba, na China, e outros. Não há pessoas a estudarem debaixo de árvores ou em palhotas de colmo, com professores a salários baixos ou em regime de voluntariado? Claro que há. E não se açoitam os estudantes de lá também? Claro que sim. No entanto, eles formam-se em larga escala. E alguns deles, engrossam as fileiras da "fuga de cérebros" para mundo desenvolvido. E não me venham falar do factor demográfico. Cuba tem 11 milhões de habitantes. O Vietname ainda não chegou aos 100. E a China já galgou os 1000 milhões. Mas todos eles têm em comum um bom sistema de ensino.
Por isso, a meu ver, as condições infraestruturais poderão pesar alguma coisa nesta aferição. Mas, o mais importante, é a motivação dos cidadãos para aprender, ou para ensinar, sobretudo quando a apenas dois palmos de distância, haverá alguém que estude como se estivesse, pensasse e comesse no refeitório do MIT!...E isso, em Moçambique, tornou-se bem visível desde 1986. Por outras palavras, a experiência de um certo ensino privado converteu-se paulatinamente, num factor pernicioso para o desenvolvimento e a sustentabilidade da nossa Educação. Com subsídios generosos do Tesouro do Estado, este é muito caro, e restringe-se cada vez mais a alguns poucos beneficiários da elite local, quando o ensino público é pura e simplesmente deficitário; permitindo que, no final do dia, se reivindique que o custo médio de formação de cada moçambicano de acordo com os padrões recomendados internacionalmente é incomportável para o esforço económico da Nação. E daí, para as teorias diabólicas do dr. Mabuse, só nos resta um passo. Vide o teor dos relatórios daqueles que cá colocam o seu dinheiro para analisar esta subtileza. Consequentemente, baixa-se a qualidade, para se universalizar o ensino em Moçambique. Mas os recursos per capita para essa universalização mantêm-se nos mesmos valores absolutos de há 20 anos ou até, têm baixado com o tempo, em todos as suas componentes principais, a saber: humana, financeira e material. Pegando o exemplo cubano, os recursos financeiros e materiais da ilha caribenha têm conhecido uma acentuada queda, mas a qualidade dos recursos humanos mantém-se e, em alguns casos, até se elevou. No caso do Vietname, a demanda de recursos materiais para o ensino estabilizou ou baixou por causa do esgotamento das fontes locais, mas, em contrapartida, os financeiros e humanos elevaram-se e compensaram os primeiros. Na China, os recursos materiais são deficitários por natureza, com tendência a diminuir, os humanos e os financeiros mantêm-se estáveis, com tendência a subir. Portanto, mesmo com dificuldades de vária ordem, é sempre possível manter ou elevar a qualidade de ensino de um país, se houver uma estratégia de formação que reflicta a verdadeira agenda da Nação.
Fonte: Jornal Notícias - 10.11.2011
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