O conselheiro de Estado de Moçambique, e porta-voz da Renamo, António Muchanga, foi detido hoje "no recinto da Presidência por incitação à violência", disse à imprensa Manuel Lole, também conselheiro de Estado pelo principal partido da oposição.
"O mais surpreendente é que António Muchanga foi detido no recinto da Presidência da República, sem mandado judicial, minutos depois do término da sessão do Conselho de Estado", afirmou Lole, que estava na companhia do porta-voz da Renamo quando ocorreu a detenção.
Segundo Manuel Lole, o porta-voz da Renamo foi detido após o Presidente moçambicano ter informado o Conselho de Estado sobre um pedido da Procuradoria-Geral da República de Moçambique para o levantamento da imunidade do conselheiro de Estado António Muchanga, por alegado crime de incitação à violência nas declarações que tem proferido como porta-voz do principal partido da oposição.
"Tanto no primeiro como no segundo documento apresentado ao Conselho de Estado, o colega António Muchanga era citado como quem está a incitar à violência, através das declarações que tem dado à imprensa, na qualidade de porta-voz da Renamo", frisou o conselheiro de Estado pela Renamo.
Manuel Lole acrescentou que o partido ainda não sabe para onde foi levado António Muchanga, adiantando que a Renamo vai reunir-se para analisar a situação.
"Isto vai complicar cada vez mais o processo político em curso, vai complicar o entendimento, não é a expectativa que os moçambicanos tinham em relação à reunião de hoje", afirmou Lole, referindo-se às negociações entre o seu partido e o Governo, para a resolução da crise política e militar que prevalece em Moçambique.
O conselheiro de Estado pela Renamo disse ainda que falou com o líder do movimento, Afonso Dhlakama, que se encontra em lugar incerto algures no centro do país e de onde está a orientar os órgãos competentes do partido para analisarem a detenção de António Muchanga.
"Podemos dizer que, neste momento, António Muchanga é um preso político", declarou o conselheiro de Estado pela Renamo.
A Lusa tentou contactar a Procuradoria-Geral da República e a Presidência da República moçambicanas, mas sem sucesso.
Pouco antes dos factos descritos pelo partido de oposição e que culminaram na prisão do seu porta-voz, António Muchanga disse aos jornalistas, à saída do Conselho de Estado, que "a Renamo sempre teve o compromisso para que a paz seja uma realidade", acrescentando que, em Agosto, também tinha recebido garantias "e até agora nada".
"Esperemos que desta vez seja para se fazer", declarou, destacando que "o ambiente do diálogo nunca foi bom", porque Moçambique vive um conflito e porque o líder do seu partido está fora de Maputo e a atrasar-se para o processo eleitoral.
O dirigente do principal partido de oposição adiantou que, no Conselho de Estado, foram analisados dois documentos, um sobre a situação política e militar em Moçambique e outro da Procuradoria-Geral da República, escusando-se a revelar o seu teor.
Poucos minutos após estas declarações, proferidas à saída do palácio presidencial, os jornalistas foram encaminhados para o interior do edifício, onde decorreu a conferência de imprensa do porta-voz da presidência moçambicana sobre o Conselho de Estado.
Questionado se o documento da Procuradoria estava relacionado com a alegada instigação à violência por parte de dirigentes da Renamo, Edson Macuácuá limitou-se a dizer que "se vai cumprir a lei".
No dia 08 de Junho, Muchanga ameaçou, em declarações à Lusa, que a Renamo podia alargar o conflito a outras regiões do país, além da província de Sofala, em resposta a bombardeamentos do exército na serra da Gorongosa.
No início de Junho, questionado por um jornalista se havia motivos para prender os membros da Renamo que ameaçaram dividir o país em dois, o Presidente Armando Guebuza respondeu apenas: "Tomei nota da sua proposta".
Fonte: LUSA – 07.07.2014
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