sexta-feira, abril 05, 2013

Guebuza é que tem patrões estrangeiros

Daviz Simango em entrevista ao SAVANA


Por Emídio Beúla e Raul Senda Fotos de Urgel Matula

A o cabo de mais um mandato como Pre-sidente da autar-quia da Beira, a segunda maior cidade do país, Daviz Simango coloca a sua corrida ao terceiro mandato nas mãos dos militantes do MDM que em Maio vão escolher os 43 candidatos às autárquicas de 20 de Novembro. Reconhece os problemas de transitabilidade das estradas da Beira e avança com soluções para um problema que diz ser mais complexo do que pode parecer. Aos recados de alguns militantes seniores da Frelimo, ele responde na mesma medida, dizendo, por exemplo, que “Guebuza é que tem pa-trões estrangeiros”. Acompanhe a entrevista feita na tarde desta quarta-feira em Maputo, onde Daviz vinha participar da reunião dos municípios, organizada pelo ministério da Administração Estatal.

Faltam menos de 10 meses para o término do seu (segundo) mandato como Presidente do Município da Beira. Das várias promessas que fez ao eleitorado, o que é que conseguiu concretizar?

Nós concorremos para as eleições de 2008 com um programa vasto que assentava em alguns pilares básicos. Estamos a falar do projecto de pro-tecção costeira, do projecto de saneamento e abastecimento de água e do projecto de integração social das nos-sas comunidades.

Conseguiu materializar esse programa?

Em relação à protecção costeira con-seguimos, através da conferência de doadores, mobilizar fundos. Vários parceiros responderam positiva-mente às nossas solicitações e hoje estão a decorrer obras de protecção costeira. A cooperação suíça finan-ciou com três milhões e duzentos e cinquenta mil dólares (USD 3.250.000) e o Banco Mundial vai financiar com 70 milhões de dólares (USD 70.000.000). O financiamen-to do Banco Mundial está virado para as mudanças climáticas e vai consistir numa rede de águas para a cidade da Beira. É uma malha de rede de águas para resolver o prob-lema das inundações. Como sabem, Beira é uma cidade plana, erguida sobre um pântano e as águas por si só não conseguem correr. É preciso que haja outro tipo de exercício. Do Banco Mundial estamos também a mobilizar 15 milhões de dólares (USD 15.000.000) para materializar a nossa intenção que consiste em de criar condições para que as valas ab-ertas não sejam transformadas pelos munícipes em depósitos de lixo e outros detritos sólidos. O Conselho Municipal pretende privilegiar as margens das valas com arruamento e zonas de diversão para desencorajar a prática de hábitos que contribuam para a degradação das mesmas.

Conseguimos mobilizar fundos do Banco Árabe para reabilitar as valas e alargamento da rede de saneamento na zona de Macurungo. A abertura do canal de Chiveve faz parte do programa das mudanças climáticas?

Sim, ainda na componente mudan-ças climáticas mobilizámos cerca de 13.5 milhões de Euros através do Banco Alemão KFW para a ab-ertura do canal de Chiveve. Neste momento, estão a decorrer estudos e já nos apresentaram, na semana passada, três propostas alternativas de abertura do canal. Nós enten-demos que com abertura do canal do Chiveve estaremos a criar condições para a respiração da nossa cidade. Vai também permitir o escoamento de águas nos bairros próximos do canal de Chiveve, reduzindo assim as pos-sibilidades de inundações.
 Avançámos na componente de abastecimento de água. Na cidade da Beira existiam zonas que não tinham água potável. Estamos a falar dos bairros de Muavi e Inhamizua que pela primeira vez tiveram rede canalizada. Nem sempre é possível recorrer ao FIPAG (Fundo do Inves-timento e Património de Abasteci-mento de Água), temos que recorrer a parceiros ou a fundos próprios para comprar material de abastecimento da água potável.

Recentemente, a União Europeia financiou a reabilitação do sistema de saneamento da Beira. Que ben-efícios isso trouxe para a cidade?

O programa de saneamento da ci-dade consistia na reabilitação do sis-tema existente e não abrangeu novas zonas. Estamos satisfeitos porque nas zonas onde houve reabilitação melhorámos o aspecto ambiental, construímos uma ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) que estava projectada desde os anos 60. Trata-se de uma ETAR que no futuro o Conselho Municipal pode aproveitar para a produção de bio-gás. É preciso dizer que durante o man-dato que este ano termina tivemos alguns constrangimentos.

A que tipo de constrangimentos se refere?

A perda das sedes dos bairros. Era preciso repor a administração a fun-cionar, daí que iniciámos com a con-strução das sedes dos bairros e temos a impressão de que valeu a pena, pois temos infra-estruturas novas e com adaptação para os jovens: tem sistema de internet disponível para estudantes e alunos.
No fundo, neste mandato, notamos que na cidade da Beira há um grande crescimento económico. As pequenas e médias empresas começam a ter lugar e existem infra-estruturas. Só neste mandato tivemos quatro hotéis novos, o que não acontecia há muitos anos.

Beira está hoje com estradas esburacadas, situação que contrasta com a imagem de uma das melhores ci-dades em termos de gestão munici-pal. Ainda vai a tempo de repor a transitabilidade das estradas da ci-dade?

A nível das estradas, a cidade da Beira tem uma característica própria: O nosso pavimento torna-se sempre alagado, sempre molhado e impróprio para o asfalto. Portanto, tivemos a iniciativa de avançar com estradas de pavês.
No mandato anterior, já tínhamos feito uma experiência idêntica em relação a Kruss Gomes, agora fize-mos a rua 33, estamos a fazer a rua da Chota, estamos a fazer a rua do Vaz e este ano vamos avançar com mais quatro. Estamos a fazer um estudo em relação à FPLM, que sai da Praça da Independência em direcção ao Estoril, estamos a falar também da estrada que parte do aeroporto em direcção à ponte, estamos a falar das ruas 2 e 6 e da rua da Base N’Tchinga. Algumas vão ser pavi-mentadas e outras vamos reclassificar o pavimento existente, tornar a pôr a base para depois asfaltar.
Trabalhámos também nas ruas terciárias nos bairros. No ano passado, houve um investimento extremamente grande do município nas ruas que desde o tempo colonial nunca tinham sido trabalhadas. Conseguimos fazer o trabalho, é verdade que em algumas ruas fomos infelizes com as chuvas que caíram.

A avenida 24 de Julho, por exemplo, foi reabilitada há menos de dois anos, mas hoje apresenta-se em péssimas condições de transitabilidade. É o problema das chuvas que caíram?

É preciso compreender a com-posição geológica dos solos da Beira. O problema da estrada 24 de Julho é que foi construída ao logo da vala. Fomos infelizes porque na altura que abriram a vala foram retirando solos para construir a base e a sub-base da estrada. Durante muitos anos, essa estrada nunca foi pavimentada.
Nessa altura, circulava-se normal-mente e não encontravam nenhum assentamento diferencial. Mas os camiões de grande tonelagem não circulavam por lá. Quando iniciámos com a reparação da base e a colo-cação do pavimento, os camiões de grande porte começaram a circular. E o lodo começou a reagir e a estrada ficou degradada.

O município não previa a circulação de camiões de grande tonelagem por aquela via? A reabilitação não foi antecedida por estudos económicos e de engenharia?

Se não tivéssemos estudos, teríamos o mesmo problema no prolongamento da Kruss Gomes, a partir da Munhava Matope em direcção à lixeira. Tivemos fundo para reabili-tar aquela estrada, mas no âmbito da construção do terminal de carvão (do Porto da Beira) notámos que os camiões da empresa holandesa que entravam para a dragagem do porto e para os aterros tinham 50 toneladas de eixo. E os fundos que nós tínham-os iam até o máximo de 15 toneladas de eixo. Achámos por bem não fazer a estrada, senão teríamos o mesmo problema da 24 de Julho. Estamos a negociar com algumas empresas como a futura fábrica de cimento, a mineradora Jindal, para ver se em conjunto podemos fazer uma estrada que possa atingir 50 toneladas eixo.

Senhor Presidente, até ao fim do seu mandato quais são as estradas que estarão totalmente transitáveis?

É preciso compreender que Beira é uma cidade com tanta estrada de terra batida e com tanto movimento de camiões e quando chove tudo fica complicado. E é preciso compreender o que era a cidade da Beira ontem e o que é a cidade da Beira hoje. A cidade da Beira não tinha o volume de camiões que tem hoje.
Hoje temos em média 600/dia de alta tonelagem que entram na cidade. Muitas das nossas estradas foram concebidas na década de 70, e nessa altura os camiões que existam eram de três a quatro toneladas. O que o município tentou fazer foi assegurar que as grandes estradas que esvaziam a circulação de viaturas da zona urbana para a zona peri-urbana funcionem. Hoje temos o orgulho de dizer que a primeira estrada, que é a rua da Chota, hoje está sendo pavimentada e vai ser inaugurada.
Só para ver o esforço que o executivo está a fazer, estamos a importar da Swazilândia as caixas para fazer a ponte.
Grande parte das estradas vão estar boas até ao fim do mandato, sobretudo as de terra batida que foram intervencionadas no ano passado e neste ano vai se passar a máquina niveladora. Não é possível num mandato aterrar todas as estradas de terra batida. Neste momento, estamos concentrados na substituição do asfalto por pavê, trocar a terra batida por pavê. Já não queremos arriscar em asfalto, porque na cidade da Beira basta chover o asfalto não funciona.

Gostaríamos de perceber uma coisa no projecto de protecção costeira em curso na Beira: Quem mobilizou fundos foi o município ou foi o Governo Central?

Na altura em que arrancou o processo, eu pessoalmente tive a opor-tunidade de estar na Alemanha para mobilizar fundos do KFW, através do Banco Mundial. É preciso com-preender que no sistema financeiro internacional os fundos mobilizados passam pelo Governo Central. Pelo que, por mais que consiga mobilizar, há acordos internacionais que como moçambicanos temos que respei-tar. Contudo, existem outros fundos que podem passar directamente do financiador para o município. É o caso do fundo que mobilizámos para o saneamento da Beira, onde a União Europeia pagava directamente aos empreiteiros.

As duas modalidades funcionam…

Sim. O importante é que estejamos seguros, pois há situações pouco agradáveis. Por exemplo, nós beneficiámos de um fundo da cooperação italiana para as autarquias, mas o que acontece é que temos vários constrangimentos para aceder. Isso porque o fundo era directo, depois passou para o Ministério de Administração Estatal e agora passou para os governos provinciais. O que acontece agora é que aquilo que é a proposta do Conselho Municipal, o principal beneficiário do fundo, acaba sendo censurado pelo governo provincial.
Por exemplo, nós agora queríamos adquirir dois camiões de lixo porque há interesse do Conselho Municipal nesse sentido, mas o governo provin-cial disse que não, porque o município tem muitos camiões de lixo. O governo provincial não sabe qual é a nossa necessidade nessa matéria.
É que é preciso compreender que a vida útil dos camiões de lixo é diferente de um carro normal.

Voltando à construção de novas sedes dos bairros, o município vai terminar com o trabalho ainda neste mandato?

Pelas contas que tenho, agora vamos entregar mais nove. Estão todas quase prontas, existe apenas uma por iniciar que é a sede do bairro Vaz. Não iniciou com as outras porque tivemos problemas de terrenos. Como pode imaginar, o próprio município também tem problemas de espaço. Estamos a negociar com alguns privados que têm espaços para arrancarmos com as obras. Imagine que se não tivéssemos problemas das sedes, que tipo de investimentos em outras áreas poderíamos ter aplicado o dinheiro. É preciso compreender que ao nível do Conselho Municipal da Beira conseguimos fazer algo inédito: Todos os Centros de Saúde urbanos têm ambulâncias compradas pelo Conselho Municipal.

E esses Centros de Saúde já passaram para a gestão do município?

Infelizmente, ainda há muitas jornadas por acontecer. Mesmo agora na reunião dos municípios tive-mos oportunidade de perguntar (ao Ministério da Administração Es-tatal) sobre isso, mas apenas responderam que ainda se está em processo de harmonização. O Conselho Municipal da Beira solicitou a transfer-ência de competências em 2007, hoje estamos em 2013, passam seis anos, e ainda continuamos na harmonização. Achamos nós que não faz nenhum sentido, porque o Conselho Municipal da beira já solicitou. Hoje fala-se de cinco cidades, Maputo, Matola, Chibuto, Xai-Xai e Pemba.
Agora a minha questão é: Porquê essas cidades? Que níveis de gestão de centros têm essas cidades e que Beira não tem?

E ao nível da educação, o Conselho Municipal já recebeu algumas escolas?

A situação é a mesma.

Aqui também a justificação do Ministério da Administração Es-tatal é que o município ainda não está preparado?

O problema não é o facto do município estar ou não preparado. Há interesses políticos. Nós todos sabemos qual é o papel do partido no poder junto a essas duas entidades (Educação e Saúde) em processos eleitorais. Portanto, enquanto persistir esta situação de processos eleitorais e interesses políticos é natural que eles não vão entregar. Não faz sentido hoje entregar Xai-Xai e Pemba, autarquias que nem têm capacidade de recolha de receitas. E nesta reunião de Maputo ficou claro que os municípios têm problemas na recolha de receitas. Mas ninguém disse que a cidade da Beira não faz parte dos municípios que têm problemas de recolha de receitas. O próprio relatório apresentado estava vazio de conteúdo e espelha que não envolveu as autarquias. Se envolveu, foram 41 autarquias e duas foram excluídas (Beira e Quelimane).

Mas a transferência de competências do Estado para os municípios representa encargos para as autarquias?

O poder é para ser exercido e a lei é para ser cumprida. Está claro na lei 02/97, de 18 de Fevereiro, que a gestão da Saúde primária e da Educação primária são da responsabilidade do município. O município da Beira conseguiu construir três Centros de Saúde, comprou ambulâncias para todos esses centros e para outros que já existiam. Os salários dos motoristas, o combustível e a manutenção dessas viaturas estão a cargo da autarquia. Continuamos a fornecer regularmente carteiras a escolas e agora vamos construir, com fundos próprios do município, uma escola que caiu em Macuti.
O que é que mais resta para provarmos a nossa capacidade de gestão?

E como está o processo de transferência do sistema de gestão dos transportes públicos do Governo para o município da Beira.

Também fomos infelizes. Submete-mos a proposta à Assembleia Municipal, mas rejeitaram a proposta. Tivemos oportunidade de falar com o vice-ministro dos Transportes e Comunicações para compreendermos como funciona o processo de transferência da gestão de transportes públicos e a recomendação foi que era preciso criar uma empresa municipal de transportes e a partir dela solicitar a transferência. A criação da empresa foi recusada pela Assembleia Municipal e automaticamente todo o processo ficou bloqueado.

Qual foi o argumento que a Assem-bleia Municipal apresentou para chumbar a proposta?

Não apresentou nenhum argumento.

Apenas disse que não dava. E nós tínhamos planeado dois modelos. No primeiro, o município recebia os resíduos da empresa TPB e no seg-undo dizíamos que o que existe da empresa TPB sai muito caro para o município, pelo que vamos comprar novos autocarros para o transporte público na Beira.

O Governo Central transferiu recentemente a gestão do transporte público urbano para os municípios de Maputo e Matola. Mas o município da capital do país já está a abater alguns autocarros que herdou da empresa pública TPM. Não teme receber prejuízos dos Transportes Públicos da Beira?

O problema é que por mais que os colegas autarcas de Maputo e da Matola tivessem vontade de manifestar a sua indignação perante o que receberam do Governo Central, não tinham muito espaço. Veja que o Governo trouxe os autocarros de onde trouxe e entregou-os aos municípios para gerir. Nós nãos íamos aceitar isso. Porque não é concebível hoje que se adquira um equipamento que ao nível do mercado interno não se encontre sobressalentes ou acessórios para a sua manutenção.

A Assembleia Municipal da Beira queixa-se que o Conselho Municipal às vezes não cumpre com as suas deliberações. Por exemplo, a proposta da alteração dos sentidos nas vias da cidade que foi reprovada pela Assembleia Municipal através da deliberação N°42/AMB/2012. Mesmo assim, consta que o Conselho Municipal avançou com a nova sinalização…

O Conselho Municipal trabalhou com a Associação dos Transportadores da Beira, trabalhou com a Polícia Trânsito e trabalhou com o INATTER e outras instituições vocacionadas na gestão rodoviária.
Fizemos uma proposta concreta que foi assinada por todas estas instituições especializadas e propusemos à aprovação da Assembleia Municipal. Nós como Conselho Municipal tive-mos a iniciativa de ir trabalhar com as instituições de Direito que nos aconselharam e o Conselho Municipal simplesmente chumbou.
Imagine o nível da compreensão da Assembleia Municipal, até ao ponto de chumbar instituições de Direito que regulam o funcionamento rodoviário. É extremamente grave. O que fizemos é que já havia um sinal num dos troços onde havia acidentes e era preciso agirmos. São vias que registavam muitos acidentes. Portanto, não podíamos parar sabendo que há vítimas humanas.

Temos outro exemplo em que o Conselho Municipal ignorou a deliberação N°45/AMB/2012 da Assembleia Municipal que ordenava a devolução do espaço e material de construção confiscado pelo município ao cidadão Samuel Rodrigues. Até hoje o Conselho Municipal ainda não devolveu nada a este cidadão…

Não posso mentir, não estou a ver quem é esse cidadão. Para responder precisaria de me inteirar junto dos colegas do município.

O senhor Presidente não se lembra de nenhum conflito de terra que envolve o município?

Conflitos de terra são tantos e vão existir sempre. Eu poderei dar mais dados assim que souber quem é esse cidadão e o que terá acontecido. Sei que tivemos várias petições na Assembleia Municipal, mas algumas eram petições de burla, outras em que certos cidadãos faziam-se passar por pessoas de boa fé e queriam burlar empresários e nós somos rígidos quanto ao combate à corrupção. Temos também casos de membros da Assembleia Municipal que vendiam terrenos e nós agimos contra eles.

O município é também acusado de expropriação das machambas dos munícipes e em compensação paga, de forma indiscriminada, dois mil meticais. Não acha que estão a cometer uma injustiça contra os munícipes?

Em Moçambique existem leis ligadas ao Ministério da Agricultura que definem quanto custa uma árvore, uma árvore de fruta, machambas, etc. O Conselho Municipal está a cumprir a lei que define o custo de cada benfeitoria.
Mas temos de perceber que a cidade da Beira é um pântano. Onde hoje existe o edifício do Conselho Municipal eram machambas, onde existem todos os prédios eram pân-tanos. E por natureza própria, os pântanos são favoráveis à produção de arroz em tempo de chuva e à produção de batata-doce em tempo seco. E é assim como vivemos. Mas é preciso compreender que a expansão urbana está a crescer e a gestão do solo urbano está a cargo da autarquia. Nós temos um plano de estrutura urbana e fizemos uma coisa inédita: Estamos a preparar o plano 2035 que vai integrar o porto, a ex-pansão da energia, de água… Hoje o plano do próprio Porto da Beira está ultrapassado, pois verifica-se um congestionamento de camiões.
E isso não pode acontecer, o porto tem de expandir, tem de ter uma área de reserva tendo em conta a sua importância para o desenvolvimento da cidade. Os camiões não podem continuar a entrar na cidade para chegar ao porto, tem de se encontrar estradas direccionadas para a zona portuária e industrial.

Como avalia a convivência política entre o Conselho Municipal e o representante do Estado na Beira?

Nós temos um feitio próprio de estar. Temos uma missão, temos um legado que nos foi incumbido pelos munícipes para dirigir o município e tomar conta dos seus destinos. Naturalmente o Governo entendeu nomear um representante do Estado que tem as funções próprias. Portanto, nós não nos cruzamos com eles.

E com o Governador?

Cada um faz o seu papel. É verdade que nas cerimónias púbicas trocamos abraços, o Conselho Municipal tem parcerias com o governo provincial, assim como eles devem ter parcerias com o Conselho Municipal. E assim vamos continuar nesse ambiente de trabalho.

Em Moçambique, os municípios ainda dependem do Governo Central em termos financeiros. Em que nível estão os níveis de colecta de receitas no município da Beira?

A cidade da Beira recebe fundos do Governo Central através do Fundo de Compensação Autárquica, mas não está atado a esses fundos. O Conselho Municipal esforça-se no aumento de receitas internas. Exigimos metas aos nossos colectores de receitas e estão a lograr sucessos. Nós começámos o primeiro mandato com receitas nos mercados na ordem de oito mil meticais/dia e hoje estamos a cobrar 64 mil met-icais/dia. Os mercados são uma das principais fontes de receitas.
Os nossos orçamentos andam por volta dos 700 a 800 milhões de meticais/ano e as colectas internas cobrem cerca de 60% do nosso or-çamento. Por outro lado, a cidade da Beira é uma escola na gestão do fundo da redução da pobreza urbana. Nós não fazemos o que acontece em outras cidades onde os edis ou administradores entregam dinheiros. Nós recebemos a transferência do Governo Central que são um pouco mais de 14 milhões de meticais e metemos no Banco Terra. Os conselhos consultivos recebem e seleccionam os projectos e submetem à revisão e estudo da viabilidade da comissão técnica constituída por funcionários do Conselho Municipal e membros da sociedade civil. Este por sua vez propõe a homologação dos projectos aprovados do Conselho Municipal. O nível de desembolsos ultrapassou no primeiro ano sete milhões de meticais. Este é um caso de estudo e de divulgação, mas ninguém divulga.

Recandidatura nas mãos dos partidários do MDM Senhor Presidente, está no fim do seu segundo mandato, vai avançar para a corrida do terceiro mandato?

Eu sou cidadão filiado a um partido político que é o Movimento Democrático de Moçambique. Os órgãos do partido é que vão determinar quem são os candidatos aos municípios. A minha posição está entregue ao partido. Pensamos nós que em Abril ou Maio o MDM fará apresentação pública dos seus candidatos.

Se o MDM indicar o seu nome para candidato do partido na Beira, vai aceitar disputar o terceiro mandato?

Eu continuo e continuarei a ser escravo do partido e a servir o partido.

Há quem diga que se o MDM apostar num outro candidato para a Beira pode vir a perder, porque há mais pessoas que apoiam a figura do presidente do município tido como vítima da Renamo do que propriamente do partido.

O Daviz Simango nunca foi vítima nem será vítima da Renamo. A minha expulsão foi normal, é uma coisa que acontece. O Daviz Simango não venceu as eleições de 2008 por ter sido vítima, venceu porque tinha uma equipa de trabalho que vinha exercendo algo palpável. E hoje, à frente do município, Daviz mantém uma outra equipa profissionalizada. Eu penso que qualquer elemento deste grupo de trabalho é elegível a presidente do Conselho Municipal.

O MDM vai concorrer em todos os municípios?

Sim, vamos aos 43 municípios.

O partido considera a possibilidade de apoiar candidatos independentes?

Ao nível do MDM se aparecerem figuras que se identificam com os manifestos do partido é claro que terão o nosso apoio. Nós não somos egoístas. Somos por um Moçambique para todos, temos uma visão patriótica, o que interessa o MDM é que de facto as figuras comunguem connosco, tenham simpatias connosco e peguem nos nossos manifestos como cavalo de batalha para o desafio eleitoral.

Guebuza é quem tem patrões estrangeiros nos seus negócios

Num passado recente, Sérgio Vieira disse ao SAVANA que o MDM era um partido ao serviço de interesses estrangeiros e com agendas estranhas à nação moçambicana. No último fim-de-semana, o Presidente Armando Guebuza, disse, na qualidade de presidente da Frelimo, que chega de patrões estrangeiros.
Qual é opinião do presidente do MDM em relação a esses pronunciamentos?

É com certa tristeza que alguns ainda continuam a comentar que o MDM está ao serviço de patrões estrangeiros. Os grandes sócios de Guebuza nos seus negócios são estrangeiros, os grandes assessores de Guebuza não são moçambicanos, os grandes financiadores e colaboradores do Orçamento do Estado não são moçambicanos. Afinal de contas quem tem patrões estrangeiros? É o próprio Armando Guebuza que tem patrões estrangeiros.
A primeira cidade moçambicana a assinar acordos de gemelagem com o município da Beira foi Quelimane da era Araújo. Há quem diga que aquilo foi uma estratégia para drenar dinheiro do município da Beira para Quelimane, numa altura em que Araújo não tinha acesso às contas do município para implementar o seu manifesto.

É preciso compreender que nós vamos continuar a assistir tecnicamente o município de Quelimane.
Nós ganhámos Quelimane com muito suor, precisamos de manter o município, precisamos de revalidar o mandato. Também é preciso ver que o MDM é um partido que tem um departamento de governação local. E este departamento harmoniza a forma de estar do MDM na sua governação local. Por isso é natural que tivéssemos uma ge-melagem com o município de Quelimane, permitindo dessa forma que a ideologia política e de governação do MDM se mantenha.
É bom compreender que não se pode drenar dinheiro de um município para outro município. É importante saber que o município da Beira tem gemelagens com outros municípios e o mesmo sucede com Quelimane.

Manuel de Araújo quando chegou à presidência do município de Quelimane apostou naquilo que chamou de competência técnica, integrando no seu executivo membros de outros partidos, como a Frelimo. Como é que o MDM encarou essa situação?

Os edis são eleitos. Nós como partido político não interferimos naquilo que é selecção a dedo das pessoas. Nós temos um perfil próp-rio. Porém, é importante também que qualquer edil seja rodeado de pessoas competentes, é natural que qualquer um de nós esteja rodeado de pessoas que ajudam a resolver problemas e não pessoas que ven-ham apenas para complicar.

A manutenção de vereadores que eram de Pio Matos não chegou a criar alguma crispação no partido?

É preciso perceber que o mandato de Quelimane foi extremamente curto, era preciso estudar o ambiente de Quelimane. Era preciso aprender com essas pessoas como é que as coisas eram feitas e nós aprendemos. Daviz Simango quando chegou no município da Beira também fez o mesmo.

Tem mantido alguma relação com o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama?

Não falo com ele deste 2008.

Alguns analistas criticam aquilo a que chamam de concentração de poderes na figura do presidente do MDM. Porque mudaram as regras de jogo?

Não é bem assim. O presidente do MDM não concentra poderes. Porém, há situações próprias dum partido recém-criado que devem ser percebidos.
Considera-se um homem rico?

Considero-me rico porque vou deixar um legado. Na minha presidência no município da Beira aprendi e aprendo muito com os munícipes, parceiros e colaboradores.

Estamos a falar do património. Temos informações de que o presidente está a construir um condomínio em Inhamizua…

Sou moçambicano e como moçambicano invisto no meu país. Tenho investimentos na área imobiliária. É muito importante saber que muito antes de ser autarca já tinha esses investimentos. Sou um engenheiro civil que chegou ao município da Beira com mais de 20 anos de experiência.

Fonte: SAVANA – 29.03.2013

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