Em Sofala, centro de Moçambique, reina um clima de medo no seio das populações devido às movimentações de homens armados da RENAMO e das forças de defesa e segurança governamentais.
Testemunhos escutados pela DW África, nas antigas zonas de conflito da Gorongosa e Muxungue, relatam novos confrontos militares ocorridos na semana passada.
A equipa de reportagem da DW África, observou no local, um reforço das tropas governamentais, motivo pelo qual as populações voltaram a refugiar-se nas vilas de Gorongosa e no posto administrativo de Muxungue.
No posto de Vunduzi constatou-se a presença notória de homens fortemente armados, tanto do exército moçambicano como elementos da RENAMO. Os populares confirmaram que na noite da última quinta-feira (12.11) se registaram novos confrontos perto da serra da Gorongosa. Facto que levou Mateus Pedro a abandonar a sua casa para se refugiar na vila. “As pesssoas estavam sentadas e de repente começaram a ouvir tiros. Entao saí do campo e fui buscar as filhas e mulher e levei-as para a vila de Gorongosa.
A outra vítima é Florinda Guiraze mãe de uma menor paralítica, que nas últimas duas semanas está sem-abrigo. Sem grandes opções, escolheu viver na segurança dos corredores do hospital rural de Gorongosa temendo novos ataques militares à sua comunidade: “Eu vivo aqui, durmo nesta varanda do hospital. Não tenho familia aqui na vila de Gorongosa” conta Florinda. “O meu outro filho morreu no último conflito armado. Preferi levar esta minha filha porque não podia correr com ela. Os outros estão com saúde por isso ficaram lá.”
A reportagem da DW Africa recolheu o testemunho de um casal que na manhã de sexta-feira (13.11), abandonou a sua casa para se refugiar em Muxungue. As nossas fontes confirmaram a entrada naquele povoado de carros militares das tropas governamentais e, pelo outro lado, homens armados da RENAMO bloquearam a circulação normal da população naquela região.
Especialistas dizem que o país não pode suportar nova guerra
A agência de notícias Lusa refere-se a dois politólogos moçambicanos que mostram sinais de uma aposta "num confronto e numa solução militar", mantendo o país numa situação "crítica e delicada". Segundo contam à agência de noticias “há sinais que favorecem a leitura de que se aposta na solução militar. O acontecimento na Beira, os ataques às caravanas do líder da RENAMO e as movimentações de meios militares dão indicações nessa direção", afirmou João Pereira, professor de Ciência Política na Universidade Eduardo Mondlane (UEM).
Mas por outro lado, o académico acrescenta que a via militar, não poderá resolver a crise, pois a RENAMO e o seu braço armado contam com uma base social alargada, as forças de defesa e segurança não têm capacidade para derrotar uma guerrilha em todo o território e a situação económica do país não aguenta uma nova guerra por muito tempo. O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, deve resolver rapidamente a situação, apostando no diálogo com a RENAMO, porque, nos próximos tempos, poderá ter de gerir uma situação social complicada, devido à tendência de aumento da inflação, retração dos investimentos e abrandamento da economia”, disse à agencia Lusa.
José Macuana, também docente de Ciência Política na UEM, refere-se à exigência da RENAMO de apenas aceitar o diálogo sob presença de mediadores internacionais,. O politólogo defende que esse tipo de intervenção não terá solução sem vontade política. "Podem chamar-se quantos mediadores quiserem, mas se não existir essa vontade, que é básica, não vai ajudar em nada, já se fez isso antes e não deu em nada", enfatizou.
Desconhece-se o paradeiro de Afonso Dhlakama
A tensão política em Moçambique tem-se agudizado desde que o Governo anunciou o desarmamento compulsivo do braço armado da RENAMO, a maior força política da oposição moçambicana.
Recorde-se que o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, continua a não ser visto em público desde o passado dia 09 de outubro, altura em que foi desarmada à força a sua guarda pessoal.
Fonte: Deutsche Welle – 16.11.2015
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