A Igreja
Católica moçambicana apelou hoje ao Governo e à Renamo para que abandonem as
armas e retomem de imediato o diálogo, deplorando "a incoerência entre o
que se diz e o que se faz".
"Apelamos ao Governo e à Renamo [Resistência Nacional Moçambicana]
para o abandono absoluto das armas, a retomada imediata do diálogo eficaz entre
as partes em conflito, envolvendo outras forças vivas da sociedade", disse
o arcebispo de Maputo, Francisco Chimoio, após um encontro do Presidente da
República, Filipe Nyusi, com a Conferência Episcopal moçambicana.
Segundo Francisco Chimoio, o apelo resulta dos clamores que chegam aos
líderes católicos e que os levam a manifestar preocupação com a "contínua
deterioração" da situação político-militar.
O arcebispo de Maputo referiu que os clamores são traduzidos pelos
"muitos gritos das famílias enlutadas que choram a morte dos seus filhos
caídos em combate, dos deslocados internos que são obrigados a abandonar suas
casas e outros bens para se refugiarem no mato, dos deslocados externos que
deixam o próprio país perante o risco de perderem a vida".
O líder católico mencionou também os agricultores que não podem trabalhar a
terra e os investidores "que vêem o fracasso dos seus negócios pela
insegurança progressiva", além dos empresários do ramo do turismo, cujos
empreendimentos estão a falir, aumentando o desemprego, e a "população em
geral, que sente os preços a aumentar e o metical a desvalorizar-se".
Lamentando "a incoerência entre o que se diz e o que se faz",
Francisco Chimoio deixou ainda um apelo a todos os moçambicanos para "a
construção da paz através de gestos de reconciliação e da convivência civil e
democrática e respeito pelas diferenças e responsabilidade pelo desenvolvimento
do país".
Moçambique vive momentos de incerteza política, provocada pela recusa da
Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de Outubro do ano
passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama
vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.
O Governo tem em curso uma operação de recolha de armas em posse da Renamo,
cujo líder, Afonso Dhlakama, não é visto em público há um mês.
A polícia iniciou a operação de recolha de armas da Renamo no dia 09 de
Outubro, quando forças especiais cercaram e invadiram na Beira a casa do líder
do principal partido da oposição e prenderam por algumas horas sete elementos
da sua guarda.
O cerco só terminou quando Dhlakama entregou 16 armas da sua guarda pessoal
ao grupo de mediadores do diálogo entre a Renamo e o Governo, que por sua vez o
deixou à responsabilidade da polícia de Sofala.
A operação policial ocorreu um dia depois de o líder da oposição ter
reaparecido na serra da Gorongosa, ao fim de duas semanas em parte incerta.
Antes dos acontecimentos na Beira, registaram-se três incidentes em três
semanas com a Renamo, dois dos quais envolvendo a comitiva do presidente do
partido.
A 12 de Setembro, a caravana de Dhlakama foi emboscada perto do Chimoio,
província de Manica, num episódio testemunhado por jornalistas e que permanece
por esclarecer.
A 25 do mesmo mês, em Gondola, também na província de Manica, a guarda da
Renamo e forças de defesa e segurança protagonizaram uma troca de tiros, que
levou à partida do líder da oposição para lugar desconhecido.
Uma semana mais tarde, forças de defesa e segurança e da Renamo
confrontaram-se novamente em Chicaca (Gondola), com as duas partes a
responsabilizarem-se mutuamente pelo começo do tiroteio.
Fonte: Lusa – 08.11.2015
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