Comissão Nacional de Eleições fala em 10 milhões e
meio de eleitores registados e faz balanço positivo. No entanto, à DW África,
analista reitera que houve problemas e que os desafios se mantêm.
A Comissão Nacional de Eleições de
Moçambique (CNE) faz "um balanço positivo" do recenseamento eleitoral
que terminou esta sexta-feira (9.05), em Moçambique. "Tendo em conta que
conseguimos chegar muito perto da meta que tínhamos estabelecido, que nos foi dada
como previsão pelo Instituto Nacional de Estatística - 12 milhões de eleitores
- conseguimos chegar aos 10 milhões e 500 mil, eleitores, o que representa
86,36% de execução. Por isso, é um balanço extremamente positivo", afirma
o porta-voz da CNE, Paulo Cuinica.
Também do ponto de vista organizativo o organismo se diz satisfeito, uma vez que conseguiu soluções quando as enchentes dificultaram a logística e porque a CNE consegiu ultrapassar as consequências nefastas do conflito político-militar.
"Podia ter corrido
melhor" diz analista
O elevado número de eleitores registados
não é, no entanto, sinónimo de excelência, como se notou ao longo do processo.
Em termos técnicos, por exemplo, houve problemas com o equipamento e faltou
energia elétrica em alguns lugares, principalmente no interior do país.
Face ao paradoxo entre números e dificuldades, o jurista e especialista em
média Ericino de Salema questiona a nota positiva que a CNE atribuiu ao
recenseamento eleitoral, considerando que este foi "um processo
viciado". "Duvido e desconfio do sucesso que se atribui ao
recenseamento eleitoral", começa por afirmar o jurista, considerando que
"há problemas" e "que poderia ter corrido melhor, mesmo tirando
regiões como Gorongosa e Muxungué que, de certa forma, estão em conflito ou sob
tensão político-militar".
"Os próprios partidos políticos e as organizações da sociedade civil poderiam fazer um pouco mais para que a afluência fosse de outro nível. Os números foram apresentados, mas ninguém os auditou", afirma.
A influência do conflito RENAMO - Governo
Por outro lado, um processo que deveria ser
independente acabou por ser afectado por contendas políticas entre o Governo da
FRELIMO e a RENAMO, o maior partido da oposição. O registo que deveria ter
terminado a 29 de abril foi prolongado por mais dez dias, para que os
residentes de 8 regiões do distrito da Gorongosa, zona de conflito, pudessem
ser recenseados, principalmente o líder da RENAMO, Afonso Dhlakama.
O processo ficou refém dos avanços e recuos nas mesas de negociações que
visam pôr fim à tensão político-militar no país. Pode-se com tudo isso afirmar
que o Governo e a RENAMO manipularam o recenseamento eleitoral consoante os
seus interesses? Ericino de Salema responde "não necessariamente" e
explica que "o processo talvez não tenha merecido a abertura e
profundidade que seriam esperadas, tendo em conta que já estamos em democracia
há duas décadas". "Claro que a FRELIMO e a RENAMO acabaram também
envolvendo a questão do recenseamento naquilo que são os diferendos que as
opõem", reitera, no entanto.
E como o recenseamento eleitoral é cíclico, todos
os problemas podem voltar a acontecer se não forem tomadas medidas. E ainda há
desafios, segundo Ericino de Salema que lembra que Moçambique "tem órgãos
eleitorais permanentes já há algum tempo", mas "era suposto que a
educação cívica fosse também permanente". Ou seja, segundo o analista,
seria necessário que, "durante estes 5 anos, aqueles que recebem salários
mensalmente cuidassem de praticar a educação cívica junto dos cidadãos, sobre
os seus direitos fundamentais e a participação política". "Agora, em
períodos eleitorais, haveria educação eleitoral: como votar e por aí fora. A
questão é muito mais profunda do que podemos supor", conclui.
Fonte: Deutsche Welle – 09.05.2014
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