Por Maria Ivone Soares
Quinta-feira
19 de Abril de 2012
Senhora Presidente da Assembleia da República
Solicitei a
palavra para, neste momento impar, dirigir-me aos ilustres mandatários do povo,
bem como aos moçambicanos que nos ouvem pela rádio e demais meios de
comunicação.
Com grande
emoção saúdo ao Presidente Afonso Macacho Marceta Dhlakama filho desta Nacao
que soube colocar de parte as diferenças ideológicas que tem com o Presidente
Guebuza e promoveu o diálogo. Diálogo esse a muito anunciado pelo Pai da nossa
Democracia e que de certo modo apazigua os corações de milhões de moçambicanos.
Excelências,
Como jovem
moçambicana que sou posso ficar admirada e triste com o discurso contra a
modernidade e contra os novos meios de comunicação social que o Chefe de Estado
fez recentemente.
Nos jovens há
um grande descontentamento. E o Facebook, o Twitter, o MySpace… são meios que
se vislumbram úteis para manifestar posições livremente, dado que todas as
outras formas de manifestação usadas foram severamente repreendidas levando a morte de inocentes que
se manifestavam fazendo uso da prerrogativa constitucional que a Lei-mãe
confere.
O grande
problema não é representado pelos meios que os jovens utilizam para se fazerem
ouvir, que como disse são os únicos possíveis.
O grande problema, o verdadeiro problema é representado pelas causas do
descontentamento.
Um jovem que
não seja da Frelimo não tem perspectivas de enquadramento em Moçambique. A
Partidarização do Estado em todas as suas ramificações só admite membros,
simpatizantes, familiares de membros da Frelimo.
A
competência, a qualidade e a formação dos jovens são requisitos relegados a um
plano terciário.
Em substância, o grande problema volta a
ser a Frelimização do Estado.
Até quando este horrível problema prevalecerá?
A verdadeira democracia deve ser praticada!
A Constituição define todos os moçambicanos como sendo
iguais, independentemente da raça, credo religioso, filiação partidária.
Alguém entre nós acredita que isso seja aplicado?
Ninguém de boa-fé acredita que sim!
É sabido que a história de um País que sai de uma
guerra é escrita por quem detém o Poder. Quem tem o Poder escreve a história e
pode escrever todas as mentiras possíveis.
A Frelimo não tem 50 anos como Partido Politico. Como
Partido Politico a Frelimo nasceu em 1977 declarando-se Partido
Marxista-Leninista, amigo de Cuba, da China, da Bulgária, da Rússia e de
todos os países então Comunistas.
O Partido Frelimo tem 35 anos de vida como Partido
Politico. Antes era um movimento que incluía várias sensibilidades.
Só depois da conclusão da guerra, com a assinatura do
Acordo Geral de Paz foram realizadas as primeiras eleições multipartidárias em
Moçambique e foi reconhecida a democracia como forma de governação.
Reconhecimento, infelizmente, só teórico porque na prática a Frelimo manteve,
desde sempre, aquela que era a sua génese como Partido Comunista que identifica
o Partido com o Estado e o Estado com o Partido.
Por isso, meus senhores, temos muita estrada por
percorrer para chegar a verdadeira democracia.
A Frelimo oferece a maioria dos jovens o desemprego,
indu-los ao álcool, às drogas, à prostituição.
A outra imagem que a Frelimo tem é aquela de corrupta.
Todos os dias, nos jornais estão dezenas de casos de
desvio de fundos públicos, roubos, sequestros, violência.
Um povo pode aguentar as diferenças sociais que todos
os dias vemos?
Poucos têm uma imensa riqueza que mostram
destemidamente. Outros, a maioria, não sabe o que vai comer amanhã.
O povo em geral e os jovens em particular estão
cansados. E vossas excelências mesmo sabendo não aceitam sacrifícios preferindo
amealhar toda riqueza do país em prejuízo da maioria.
Nestes dias, discutiu-se o salário mínimo nacional
para os vários sectores. Mediamente o valor gira em torno dos (3.000,00Mts)
três mil meticais. Note-se que são três mil meticais para quem tem emprego
porque a maioria dos jovens não o tem.
É preciso mudar este cenário actual e mudar
rapidamente. E para tal, assumam como primeiro objectivo o tratamento
indiscriminado de todos os Moçambicanos e uma melhor distribuicao dos recursos.
Isso só será possível com a despartidarizacao do Estado.
Concluíndo, como bem disse o jovem historiador Egidio
Vaz, “o Partido Frelimo nasceu em 1977” ,
aliás o que se pode facilmente comprovar recorrendo aos documentos emitidos
pela própria Frelimo.
Esta, meus senhores, da idade do Partido Frelimo é
mais uma mentira dentre tantas contadas por quem diz que fez e não fez, faz e
não faz, sabendo somente ser carrasca do povo.
Muito obrigada,
Deputada Maria Ivone Soares
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