A pretensão dos militares do autodenominado Comando Militar foi transmitida à classe politica guineense numa reunião de cerca de uma hora no Clube do Exército em Bissau, que serviu para os revoltosos darem explicações sobre as razões da sua intervenção armada de quinta-feira à noite.
"Foi uma reunião de esclarecimento do Comando Militar que ontem [quinta-feira] tomou o poder na Guiné-Bissau, reconheceram que efectivamente houve alteração da ordem Constitucional mas disseram que não estão interessados minimamente em manter o poder e por isso convocaram a classe política para esclarecer as razões e os motivos que estiveram na origem deste levantamento", disse Agnelo Regalla, antigo porta-voz do falecido Presidente guineense, Malam Bacai Sanhá.
"Dizem que sentem uma certa quebra de confiança que se foi agravando entre os diferentes poderes, o poder castrense, o Governo e a Presidência da República, e posteriormente explicaram à classe política que querem que se encontre uma solução que permita o rápido retorno à ordem constitucional", acrescentou ainda o líder da UM.
Questionado sobre se essa solução passaria pela exclusão do actual primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, e o Presidente interino do país, Raimundo Pereira, o dirigente da UM disse que foi isso que os militares disseram.
"É uma das regras que foi estabelecida por eles (militares), na medida em que, efectivamente, foram os elementos que os militares consideram que conduziram (o país) até esta situação de desconfiança", sublinhou.
Agnelo Regalla disse que os militares confirmam a detenção de Carlos Gomes Júnior e Raimundo Pereira, salientando que ambos estão vivos.
"Disseram-nos que estão detidos e se estão nessa condição é porque estão vivos e graças à Deus é bom que toda gente saiba que estão vivos, porque, pelo menos nós, da União para Mudança, não compactuamos com situações de derramamento de sangue. Achamos que já chega de sangue derramado neste país", afirmou Agnelo Regalla.
O líder da UM disse ainda que os militares pediram aos políticos para que encontrem uma fórmula de Governo até que o país realize eleições legislativas e presidenciais o que, admitiu, poderia passar pelo Governo de unidade nacional ou de transição dependendo da formulação que os políticos entenderem dar.
"Foi uma ideia avançada pelos militares até as eleições legislativas e presidenciais. Novas eleições presidenciais neste caso", respondeu Agnelo Regalla à pergunta sobre se este governo podia ser denominado de transição ou de unidade nacional. Os militares não fixaram prazos para a realização de eleições.
"Não houve prazos. Eles lançaram a bola aos políticos que agora vão informar as suas estruturas dirigentes dos partidos e já amanhã (sábado) voltam a reunir-se no Parlamento para apresentar um esboço aos militares", disse Agnelo Regalla.
A Lusa ainda quis obter as reações de outras forças políticas, mas todas disseram que não pretendiam falar.
Notou-se a ausência do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, no poder), embora fosse visível a presença de elementos dessa força politica mas que mantinham divergências profundas com o líder do partido, Carlos Gomes Júnior.
(RM/Lusa) in Rádio Mocambique - 14.04.2012
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