Por Pedro Nacuo
A Educação em Cabo Delgado acaba de nos trazer revelações muito
graves sobre o seu desempenho, nomeadamente, a sua triste contribuição para a
baixa qualidade do ensino no nosso país. Ao ter sido muito transparente trazendo
a sua verdadeira face nos distritos, disse que terá feito um bom trabalho para a
sociedade e ajudou-nos a dar resposta a algumas inquietações.
O que a Educação disse há duas semanas, num encontro de avaliação da
qualidade de ensino, na verdade, uma auto-avaliação do sector, é que realmente
estamos mal. Temos escolas que durante o primeiro trimestre deram apenas uma
aula de determinada disciplina curricular. É apenas um exemplo.
Mueda aparece como o pior exemplo, porque numa escola local isso ocorreu em
quase todas as disciplinas e nalguns casos nucleares. Quer dizer, há turmas que
em três meses do ano de 2012 viram uma vez o professor de uma dada disciplina.
Não se colocam motivos de doença, nem de abandono de lugar, só está dito que
isso aconteceu de forma recorrente em algumas escolas, que foram visitadas pela
inspecção escolar integrada.
O atropelo a muitas normas e obrigações escolares vem desfilado no
estudo-constatação feito pela própria Educação e, no fim, quando se pretendeu
avaliar a qualidade dos docentes, chegou-se a uma outra triste revelação,
segundo a qual até há professores que assinam sumários de aulas ainda não
dadas.
Se é verdade que há conteúdos não leccionados, é também verdade que há
professores que faltam durante um trimestre inteiro às aulas e para taparem a
lacuna assinam o livro de turma como se tivessem estado em frente dos alunos, os
mesmos que no fim do ano lectivo devem ser avaliados, conforme a programação
curricular, em pé de igualdade com aqueles que normalmente tiveram aulas e
professores à sua frente durante todo o ano. Estamos perante algo acima de um
procedimento disciplinar que é chamado a dar a sua força.
Não nos ocorre que isso tenha de ser apresentado como simples constatação,
resultante de um estudo feito internamente e se batam palmas ao relatório por
simplesmente ter trazido com isenção o seu trabalho.
Parece-nos motivo para que se saiba o que aconteceu com os professores que
durante um trimestre não visitaram sequer uma vez determinada turma onde era
suposto fossem três vezes por semana; aqueles que disseram documentalmente que
deram determinada matéria durante muitas vezes, quando na verdade nem sequer
entraram na sala…
Precisamos é de saber o que veio ou vem a seguir a esta constatação, embora
saibamos que ainda não aconteceu nada, porque somos amigos, irmãos e tios dos
professores que assim se comportaram, aliás se comportam.
Depois teremos de corromper os professores para “oferecerem” notas aos nossos
filhos, que não têm culpa alguma, já que no fim do ano as avaliações vão exigir
tudo o que foi adiado pelo professor faltoso, mentiroso e, sobretudo, injusto,
perante a sociedade e o Estado que, mesmo assim, lhe paga.
Sinceramente, precisamos de um outro seminário, para nos serem apresentadas
as medidas que foram tomadas para cada caso, sobretudo na Escola Secundária de
Mueda. Se disse por dizer, dependerá dos desenvolvimentos dos quais
impacientemente esperamos.
Fonte: Jornal Notícias - 28.04.2012
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