Por LOBÃO JOÃO
O encontro havido no domingo, na cidade de Nampula, entre o Chefe do Estado, Armando Guebuza, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, para além de ter servido para analisar a actuação, em Março último, da Polícia de Intervenção Rápida (FIR) no desalojamento dos homens armados que estavam acampados ilegalmente na sede provincial da “perdiz”, também foi usado para discutir questões candentes da economia nacional, como, por exemplo, a importância dos mega-projectos para o desenvolvimento do país.
“Chamei-lhe à atenção sobre a importância da paz para a economia nacional. Disse-lhe para se aconselhar junto de especialistas sobre a importância e actividade dos mega-projectos”, afirmou ontem, em Maputo, o Presidente da República, falando a jornalistas, numa conferência de imprensa que serviu de contra-ponto aos pronunciamentos públicos de Dhlakama, feitos momentos depois de sair da audiência com Guebuza, na cidade de Nampula.
“Nem toda a gente (incluindo Dhlakama) entende o que é que os mega-projectos podem significar para o desenvolvimento do país”, referiu Guebuza, naquilo que em parte foi o reiterar das declarações feitas recentemente, por exemplo, na abertura da reunião da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional, segundo as quais os proveitos dos grandes projectos virão a médio e longo prazos.
Dhlakama dera ênfase ao facto de Guebuza ter manifestado abertura para encontros futuros visando a continuidade do diálogo com vista à manutenção da paz, algo que, segundo o presidente da Renamo, o Chefe do Estado evitava, contrariando a atitude do seu antecessor, Joaquim Chissano.
O líder da Renamo acusara Guebuza de inicialmente ter sido duro no seu relacionamento com o principal partido da oposição moçambicana, frisando que isso contribuiu para um clima de instabilidade política que culminou com os incidentes de 8 de Março, em Nampula, que se saldaram na morte de um agente da FIR e detenção de antigos guerrilheiros da Renamo.
Guebuza evitou entrar em detalhes sobre o que foi discutido no segundo encontro que manteve com Dhlakama desde que subiu ao poder em 2004 (o primeiro realizou-se a 8 de Dezembro de 2011, também em Nampula), mas frisou que, para além dos futuros encontros, que podem ter lugar em qualquer ponto do território nacional, estava disposto a dialogar a “todo o momento”, mesmo por via telefónica.
“Falamos de vários assuntos como, por exemplo, as forças armadas (que Dhlakama entende que estão partidarizadas, mas o Governo desmente)”, afirmou, sublinhando o “clima de abertura” do encontro. “Ele colocou questões como a revisão do pacote eleitoral. Ficou claro que este assunto está em boas mãos, ou seja, está a ser discutido na Assembleia da República”, acrescentou Guebuza.
As três bancadas parlamentares, designadamente da Frelimo, Renamo e MDM, não se entendem em relação a este assunto, mormente no que concerne à composição e, sobretudo, ao número de elementos da Comissão Nacional de Eleições (CNE). A Renamo defende uma composição partidarizada e mais alargada. A Frelimo, por seu lado, defende uma cada vez menos partidarização e redução do número de integrantes.
Com efeito, o grupo parlamentar da Renamo propõe uma CNE com 21 membros, a Frelimo pretende a manutenção dos actuais 13 e o MDM quer apenas sete.
Actualmente, cinco membros daquele órgão são designados pelos partidos políticos ou coligações de partidos com assento na Assembleia da República, e os restantes oito pela sociedade civil.
DIFERENTES VISÕES SOBRE ACTUAÇÃO DA FIR
O líder da Renamo disse publicamente que o desalojamento dos desmobilizados de guerra da Renamo da sede política provincial em Nampula constituiu “uma provocação” por parte da FIR. Sobre este aspecto, o Presidente da República diz ter um entendimento diferente:
“Tenho a minha maneira de ver as coisas. O que tenho conhecimento é que os homens armados da Renamo dispararam contra a polícia e esta respondeu para a manutenção da ordem”, disse Guebuza, ajuntando que Dhlakama também manifestou, uma vez mais, vontade de renegociar o Acordo Geral de Paz (AGP), assinado em Roma.
“Nós dissemos que não é possível”, referiu de forma categórica Guebuza.
A uma pergunta sobre se o assunto da desmobilização definitiva dos homens armados da Renamo não constitui prioridade nos diálogos com Dhlakama, o Chefe do Estado respondeu positivamente. “Tal deve ser um processo, que ainda não tem calendário”, clarificou.
Um jornalista quis saber se os pronunciamentos esporádicos do líder da Renamo, sobre a possibilidade de organização de manifestações à escala nacional, não visam a obtenção de ganhos financeiros, tal como tem sido especulado na praça pública. O Presidente respondeu não ter conhecimento que Dhlakama esteja a usar essa estratégia para ganhar dinheiro.
“Acho que fala porque quer ser ouvido. Mesmo que tivéssemos que dar dinheiro, iríamos tirar donde? Do Orçamento do Estado?”, questionou Guebuza.
Sobre o aparato de segurança protagonizado pela polícia moçambicana nas proximidades da residência de Dhlakama, em Nampula, o Presidente da República explicou que o objectivo do Estado justamente o de proteger o líder da Renamo.
“Temos muita preocupação com a segurança dele”, indicou, vincando que os homens armados da Renamo já não são só um problema para a população, mas também para a própria Renamo. “E o Estado não podia estar alheio a isso”, enfatizou.
Fonte: Diário de Mocambique - 19.04.2012
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