A Auditoria interna levada a cabo na Cruz Vermelha de Moçambique (CVM) concluiu que nos últimos dois anos houve irregularidades na gestão de recursos naquela organização humanitária.
No relatório do inquérito os auditores da Federação Internacional da Cruz Vermelha referem-se à inexistência de registos no sistema de contabilidade da instituição de grande parte das operações e aquisições feitas em nome da CVM nos anos de 2012 e 2013, situação que, segundo eles, “torna extremamente difícil determinar o verdadeiro estado de saúde financeira da organização”.
De acordo com o documento, de cuja cópia o “Notícias” teve acesso, desde 2012 que a gestão financeira da CVM deixou de observar as regras de “procurement”, passando a obedecer a critérios e deliberações do secretário-geral, Américo Ubisse.
O documento refere ainda que os dados relativos ao exercício financeiro de 2013 foram afectados alegadamente devido a uma avaria ocorrida no servidor em Novembro último, facto que condicionou a fiscalização das contas da instituição.
Com efeito, algumas questões suscitadas na carta aberta lavrada no primeiro trimestre deste ano pelos trabalhadores da CVM coincidem com algumas conclusões apresentadas no relatório de auditoria, nomeadamente com relação ao desvio de fundos da instituição, o conflito de interesses, o nepotismo, a tentativa de venda de bens, entre outras.
Sobre a compra de kits de primeiros socorros para posterior venda sem observação dos procedimentos administrativos, bem como a revenda de roupas doadas pela Cruz Vermelha portuguesa são outras questões levantadas na carta aberta dos trabalhadores, que aparecem confirmadas no relatório da auditoria.
Por exemplo, relativamente às alegações referentes às aquisições, o relatório da auditoria refere que a pintura da sede da CVM foi feita sem se observar os procedimentos de compra e sob controlo da assistente do secretário-geral, e que a compra dos kits de primeiros socorros terá sido directamente solicitada por este, sob assistência do director de Planificação e Operações.
Em relação às contas da instituição nunca foram apresentadas as reconciliações bancárias e registo das transacções bancárias e do fundo de maneio solicitadas pelo Departamento de Finanças.
À altura da realização da auditoria a Cruz Vermelha tinha mais de 100 contas bancárias, número que os trabalhadores consideraram, na sua carta aberta, de inadequado ao nível de actividades realizadas pela instituição
Nas recomendações o relatório de auditoria indica que a Direcção da CVM deverá criar uma equipa de gestão interina, recrutada fora da actual equipa, para garantir maior imparcialidade e independência no processo em curso.
“Deve convidar-se uma empresa de auditoria externa de renome para uma auditoria abrangente e recomenda-se que seja feita imediatamente para se determinar a saúde financeira da CVM e ajudar a restaurar a credibilidade junto aos parceiros”, lê-se no documento.
Contactado a-propósito pela nossa Reportagem, o presidente em exercício da CVM, José Fernandes Jr., disse que a decisão que vai colocar fim aos problemas existentes, nomeadamente o processo disciplinar que corre contra Américo Ubisse e processo-crime instaurado a partir das queixas suscitadas à sua gestão deverá ser conhecida com a reunião da Comissão Central.
“O que nós estamos a fazer agora é gerir a instituição de acordo com as recomendações feitas pelos auditores internacionais enquanto aguardamos pelo desfecho do processo. A decisão sobre tudo o que está a acontecer será tomada em sede da Comissão Central, que deverá reunir a 17 de Maio próximo”, disse José Fernandes.
Fonte: Jornal Notícias - 07.05.2014
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