sábado, novembro 10, 2012

DIZER POR DIZER - Desgovernação da Igreja em Pemba


Por Pedro Nacuo

“…POIS tudo, Senhor, é transformado em objecto de compra e venda, os serviços, o trabalho, a terra, o corpo humano, os órgãos, o sangue, as pessoas, as crianças, as mulheres, o tempo, a educação, as notas, os votos, os próprios eleitores, a consciência dos cidadãos…até as religiões entram no circuito de compra e venda. É caso para perguntar, o que não se vende em Moçambique” Dom Ernesto Maguengue, ex- bispo de Pemba, exaltando a vida e obra de Samora Machel, no dia 25 de Setembro de 2012.


Terá sido das mais famosas declarações do prelado, antes de apresentar o seu pedido de renúncia, que para o justificar, acaba de pôr à disposição, uma carta de 53 páginas, onde escorrem, agradavelmente, os seus feitos, as suas obras. Bonito para se ler. Mas também, a carta está à venda!

Do que se pode encontrar na leitura da brochura, cujo título é Chamados a fazer memória de Cristo em Pemba, sobre tudo o que aconteceu, para que o prelado tivesse decidido, pelos vistos, com muita mágoa, a sua renúncia, ressalta o carácter ingovernável que a Igreja, em Pemba, tem-se agarrado nos últimos tempos.
É de triste memória, lembrarmo-nos que durante cinco anos, a Diocese de Pemba viveu sem bispo, estava sob a direcção de um administrador apostólico, no caso, o Arcebispo de Nampula, Dom Manuel Vieira Pinto, que, de quando em vez, tinha que se deslocar a esta região para celebrar missas e gerir o que havia por gerir.

Tudo porque, o anterior bispo, Dom Januário Nhancumbe, teria decidido, voluntariamente, sair, alegando motivos de doença, podendo haver outras motivações que desfilaram intramuros. Levou tempo para que se resignasse oficialmente, daí ter deixado a diocese órfã durante muitos anos.

Dom Januário ainda está vivo. Quem veio cortar o ciclo de orfandade, foi o Dom Tomé Makweliua, que depois veio a ser substituído por Dom Francisco Chimoio, este que veio dar lugar ao jovem bispo, ora demissionário e que deixa bastas recordações em Pemba.

Mas no fundo, no fundo, há algo que não se diz: que existe certa resistência da Igreja local (falamos de padres, sobretudo) de se submeterem a uma autoridade representada por uma pessoa que não seja de Cabo Delgado. É o que se ouve, por cá! Sabendo-se embora, que, por outro lado, há igualmente rixas internas decorrentes da origem dos padres existentes. Chega-se ao localismo!

É assim: a Igreja historicamente radicou-se no distrito de Namuno (Sul da província), onde nasceu a primeira missão, em 1922, depois veio a de Nangolo (distrito de Muidumbe, norte da província), vem Mahate, arredores da capital provincial, a seguir Mbuo, distrito de Mueda e mais tarde o resto das que se sucederam. Aqui nasce a outra dificuldade (quase artificial) de indicar quem seja de Cabo Delgado para assumir as mais altas funções da Diocese, reconhecidas que são as diferenças de carácter étnico que imperam.

É dizer: aquilo que em política tem sido, algumas vezes discutido, nalguns casos abertamente, a etnicidade, sabe-se lá, tribalismo ou regionalismo, na Igreja está incubado e as reacções surgem sob forma de cabala, como esta de que terá sido vitima o Dom Ernesto Maguengue.

O sacerdote sacramentino, Padre Christopher Mahendra, autor da carta, considerada difamatória contra Dom Ernesto Maguengue e o ministério sob a sua responsabilidade, que terá sido largamente publicada, é de origem indiana e passou por Pemba por pouco tempo. Encontrou o terreno fértil para a intriga, fez o que fez e foi-se em boa hora. Numa palavra: destruiu e se foi! Como é fácil…

Agora? De novo mergulhados na orfandade, que pode ser igual ou pior que daquele lustro sem pastor directo, planos e projectos adiados, não sendo de todo valorizável, a ideia de que tenha havido uma interferência política, em virtude das posições consideradas controversas e aparentemente alinhadas, do Bispo Dom Ernesto Maguengue...

O que ressalta é que a Igreja, em Pemba, claro, dizendo por dizer, está quão frágil quanta divisão reina nela própria. Qualquer mal intencionado não precisa de muito trabalho para baralhar as cartas e ficar a rir-se. Atenção, estava a dizer por dizer!

Fonte. Jornal Notícias – 10.11.2012

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