Por Machado da Graça
Olá Inácio
Como está a tua saúde? Espero que bem. Do meu lado está tudo OK.
Mas queria falar-te de uma notícia que acabo de ouvir na Rádio Moçambique.
Uma notícia que me lembrou o velho ditado que diz que quem brinca com o fogo acaba por se queimar.
Pois, segundo essa notícia, a Frelimo decidiu constituir uma comissão para lidar com as actuais exigências da Renamo. E a notícia indica os nomes dos quatro elementos que formam essa comissão.
Ora, por espantoso que te possa parecer, eu não conheço nenhum daqueles quatro nomes. E tens que reconhecer que eu sou uma pessoa bastante conhecedora da realidade nacional…
Mas que significado pode ter a nomeação desta comissão formada por quatro ilustres desconhecidos?
Sabendo-se que a Renamo está a colocar questões de altíssimo nível, desde a falta de cumprimento do que foi assinado no Acordo Geral de Paz até à composição dos órgãos eleitorais, da discriminação dos seus membros nas forças de defesa e segurança até às perseguições nos locais de trabalho, para que serve esta comissão?
Pois serve, precisamente, para não fazer nada mas permitir à Frelimo dizer que respondeu às preocupações da Renamo e até nomeou uma comissão para encetar o diálogo. Serve para fingir que se está a fazer alguma coisa quando, na verdade, não se está a fazer rigorosamente nada.
À exigência, igualmente absurda, da Renamo de que o Chefe de Estado se desloque à Gorongosa para negociar debaixo de uma mangueira, a Frelimo responde com a nomeação de uma não-comissão, sem qualquer relevo, poder ou capacidade, dizendo que é a sua forma de estabelecer o diálogo.
Como digo antes, quem brinca com o fogo às vezes queima-se. Só que, neste caso, são uns que brincam com o fogo mas somos todos nós que nos arriscamos a ficar queimados.
Com dois exércitos armados e em pé de guerra a enfrentarem-se, separados apenas por um regato, brincadeiras e politiquices de baixo estofo, como esta, só podem conduzir ao agravar de uma situação que já está perigosamente grave.
No pé em que as coisas estão não são as constantes referencias à paz e à unidade nacional, em todos os discursos, que farão manter essa paz.
Alguém vai ter que entender que o tempo em que se afastava o espectro da guerra com conversas inconsequentes com Afonso Dlakama parece ter acabado. Agora a conversa é com os generais da Renamo e esses não estão interessados em conversas inconsequentes e sim em conversações sérias sobre assuntos graves.
Tudo o que não seja isso só fará com que os dedos façam mais pressão sobre os gatilhos.
O que nenhum de nós quer, pois não Inácio?
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ in Mocambique para todos – 16.11.2012
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