quinta-feira, dezembro 29, 2011

Desmobilizados de guerra escrevem ao Presidente a denunciar ameaças da secreta moçambicana

Maputo, 29 dez (Lusa) - Os desmobilizados de guerra de Moçambique denunciaram ao Presidente moçambicano, Armando Guebuza, a suposta criação de brigadas pelos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE) para amedrontar os "veteranos", que ameaçam manifestar-se à escala nacional.

Numa carta a que a Lusa teve acesso, enviada à Presidência da República, Nações Unidas, União Europeia e diversos serviços diplomáticos, incluindo a embaixada de Portugal em Maputo, o Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique diz que os "veteranos" são vítimas de ameaças dos serviços secretos do país.

Segundo o documento, o Governo, através do SISE, "criou brigadas a nível central, provinciais, distritais, conselhos municipais, postos administrativos, localidades, povoados, para amedrontar os desmobilizados e milicianos (antigos paramilitares) com alegações de que não podem ouvir nem participar em reuniões com aquele grupinho de manifestantes".

Em novembro, Jossias Matsena, porta-voz do Fórum dos Desmobilizados, grupo que reivindica o pagamento de uma pensão mensal de 12.000 meticais (cerca de 300 euros), foi preso, presente ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo e absolvido dois dias após ser detido, num processo sumário que a Liga dos Direitos Humanos considerou "obscuro".

Jossias Matsena foi detido por polícias, "à saída da embaixada dos Estados Unidos da América, em Maputo", na posse um documento de "incitamento à violência", no qual apelava aos "cidadãos e às embaixadas para se retirarem da capital do país" porque o Fórum queria "ajustar contas com o Governo".

O líder daquele movimento, Hermínio dos Santos, denunciou o desaparecimento do seu colega, afirmando que terá sido atraído pela secreta moçambicana com uma falsa informação para se deslocar à embaixada norte-americana.

No mês anterior, Jossias Matsena foi um dos rostos da concentração das 1.500 pessoas, na maioria desmobilizados de guerra, que estiveram em frente ao gabinete do primeiro-ministro, Aires Ali, e exigiram que fossem recebidas pelo Conselho de Ministros.

Na altura, um forte contingente policial esteve nas imediações a vigiar o grupo de manifestantes, que incluía viúvas e órfãos de combatentes mortos durante o conflito que, de 1976 a 1992, opôs o Governo da FRELIMO (hoje partido no poder) à guerrilha da RENAMO (na oposição).

Em declarações hoje à Lusa, Jossias Matseana disse que ainda é perseguido pelos serviços secretos "mesmo no chapas" (transportes semi-coletivos de passageiros) e que a ação é extensiva a "todos os membros" do Fórum dos desmobilizados.

Na carta entregue ao chefe de Estado moçambicano, o Fórum dos Desmobilizados de Guerra de Moçambique ameaçam, por isso, realizar manifestações pacíficas à escala nacional, "sem olhar para mais nada, até que apareça quem de direito para resolver por definitivo os casos contidos nos documentos que estão na Presidência".

MMT

Lusa/Fim

Fonte: Jornal Notícias - 29.12.2011

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