O pensamento de: Fernando Ernesto Ketulo *
A província da Zambézia, no geral, e a sua capital, Quelimane, em particular, estão a passar por um período pós-eleitoral calmo e tranquilo.
Muitos pensavam que haveria confusão depois das eleições. O medo era tal que o Governo mobilizou uma força militar descomunal para Quelimane. Crianças viram pela primeira vez carros de assalto a circularem nas vias públicas. Eu já os tinha visto vezes sem conta nos tempos da guerra civil
(1976/1982). Coisa para esquecer. A FIR (Força de Intervenção Rápida) chegou a disparar gás lacrimogéneo e balas de borracha para uma multidão que se juntou perto das mesas de voto. As pessoas queriam evitar que alguns mal intencionados do partido FRELIMO levasse urnas com votos a favor do seu candidato para troca nas mesas. Houve até um observador que me disse ter visto uma senhora numa viatura de marca RVR tentando chegar junto da escola onde ele era observador com urnas no interior da viatura. A pronta intervenção dos populares impediu que a senhora se aproximasse e foi obrigada a se retirar rapidamente.
Aparentemente não houve fraude! E a vitória de Manuel de Araújo foi resultado de um esforço conjugado e da própria experiência do MDM que teve de trazer fiscais da sua confiança. E se calhar a presença de muitos americanos enviados pela sua embaixada no Maputo deve ter tido muito peso. O que eles queriam mesmo? Eram apenas observadores?
Manuel de Araújo, do MDM, foi o justo vencedor.
Aquilo que dizíamos ser uma batalha desigual entre o pequeno David e o temido Golias aconteceu!
Duas observações: Manuel de Araújo deve ter-se apercebido de que a luta era mesmo desigual e a opção foi fazer uma ante-campanha. Se do lado da FRELIMO ia gente de posses, com carros de luxo, na sua maioria “jovens mestiços da classe média/alta conhecidos na praça”, no MDM ia gente da classe média/baixa, jovens montados em bicicletas e/ou a pé, na sua maioria taxistas de bicicletas e vendedores das barracas ou ambulantes, a fazer um eloquente contraste. O próprio candidato apareceu ao longo de toda a campanha com a mesma camisa azul. Não se sabe se era a mesma ou eram várias, mas iguais.
Logo que os resultados começaram a ser divulgados houve uma explosão de alegria em toda a cidade.
Uma festa que só terminou às seis da manhã do dia oito. Isso faz-me crer que a festa já estava organizada e se houvesse batota teria havido muita confusão.
Se calhar por isso o Governo mobilizou tal força descomunal.
Por todo lado houve uma sensação de alívio, de tipo, finalmente, a nossa segunda independência. E tenho quase certeza que o que se comemorava nem era tanto a vitória do MDM, mas a derrota do partido FRELIMO. Mesmo gente que não foi votar e até me arrisco a dizer que mesmo gente do partido FRELIMO comemoraram. Na verdade, os “camaradas” nunca tiveram muitos apoiantes na Zambézia, eles próprios sabem disso. Nas últimas eleições gerais em que teve uma vitória retumbante aqui na Zambézia o partido FRELIMO perdeu em vários distritos (Milange, Morrumbala, Molócuè...) e isso ainda lhe persegue.
Mas pelo sim e pelo não! Há um grande receio que paira sobre o eleitorado aqui, sobretudo aqueles que são funcionários do aparelho do Estado: vai haver uma espécie de ajuste de contas nos gabinetes e nos secretários de bairro. E temos de ter em conta que há muita gente do partido FRELIMO que (sobre)vivia das receitas do município e que agora vai ver isso dissipar-se, e provavelmente até perder emprego: os vereadores.
Uma coisa fica desde já clara! O MDM não vai resolver em dois anos os inúmeros problemas que a FRELIMO criou em 35 anos. Por isso as pessoas só estão a comemorar a derrota do partido FRELIMO aqui na Zambézia. Há muitos elementos que podem ser trazidos aqui para análise.
Por enquanto as coisas vão normalmente aqui na terra do coqueiro.
O que se comenta por todo o lado é que para o MDM o próximo ponto é Nampula.
* Mestre em Estudos Africanos
Docente universitário
Fonte: Correio da Manhã in Mocambique para todos- 13.12.2011
3 comentários:
Comemoracao que se compara com uma segunda independencia. O que significa isso? Se o sentimento 'e esse, entao 'e preciso aprofundar a analise. Por que 'e que tal sentimento surge? Independencia em relacao a que? Acho que a situacao nao nos devia levar ate a esse ponto. A comemoracao devia ser simplesmente para um protagonismo maior em relacao aos problemas que afligem aos municipes. Postura diferente quanto a gestao da coisa publica. O afastamento de individuos viciados, com comportamento de cabritos, que acham que o que existe 'e para apenas eles e suas familias. Esse 'e que devia ser o epicentro da comemoracao. Afastamento de cabritos das suas machambas. Independente estamos so que ha muitos cabritos. O combate a um cabrito nao devia ter significado de independecia, mas sim alivio.
Caro anónimo,
Não acha que esta Frelimo age como se Mocambique fosse uma propriedade dela?
Se formos analisar com profundidade ainda concluiremos que a festa nem só foi ou é para quelimanenses. São moçambicanos de todo Mocambique, e vivendo em diferentes partes do mundo que estão a festejar de facto a derrota da Frelimo em Quelimane. Porquê será?
Fala-se abertamente que Quelimane é uma zona libertada.
Caro anónimo, o melhor é analisarmos sem rodeios sobre como os moçambicanos se sentem em relação esta Frelimo. Para a Frelimo ainda há tempo para se afirmar como apenas um dos partidos moçambicanos e não como dona de Mocambique e de moçambicanos.
Quanto a Victoria do MDM pode-se considerar que e um momento de avanço de uma historia estagnada durante 35 anos. Na verdade, o que nos interessa não e a vitoria do MDM, mas a consciencialização dos Frelimistas sobre o verdadeiro pulsar desse "maravilho" povo. A pior coisa do que perder um pai ou uma mãe, e saber de que Niassa, ainda tem muito por pagar pela máxima burrice que ostenta no pais. Mesmo com terras vendidas aos brasileiros, estradas esburacadas, cimento a custar ate 700 Mt/saco, consciente ou inconscientemente continuamos a testemunhar a vitoria dos piores colonizadores da nossa péssima historia. Que povo sem...!
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