CRÓNICA
Por: Gento Roque Cheleca Jr., em Bruxelas
« A bússola do destino não falha » (Arrone Fijamo Cafar, in Ecos de Inhamitanga)
Gostaria de iniciar esta crónica cometendo um subterfúgio involuntário, animado pela vitória eleitoral do MDM e do seu candidato Manuel de Araújo, porquanto, neste momento, é o coração que pilota a cabeça e não o inverso.
Se algumas borbulhas inundarem o texto, escrito de papel nos joelhos, com medo de perder o comboio da felicidade, tal é da inteira responsabilidade do coração. Um coração que não se enganou quando agourou a vitória de Manuel de Araújo nas intercalares de 7 de Dezembro passado. Basta um pequeno exercício de arqueologia para avivar a memória dos mais incautos.
Já o disse em crónicas anteriores, escrever para os jornais requer um trabalho de parto não menos cuidadoso, tal como os ‘maziones’ temperam seus enfermos no Rio Jordão, assim são os cuidados a ter com a língua que devemos às monções. A língua portuguesa, dizia o velho Chaleca no seu eterno sono, foi trazida ao nosso país de naus. Hoje é um dos nossos semáforos culturais. E quem disse que errar é a morte do artista?
O verdadeiro vencedor destas eleições foi, sem dúvida, o povo ‘Chuabo’, este que há mais de trinta e cinco anos ouve os mesmos motes e as mesmas homilias eleitoralistas. Apesar de serem catequizadas quase sempre por novos obreiros, a escola e as políticas empregues são exactamente as mesmas.
Já o disse o zambeziano Arrone Fijamo Cafar “para os malandros, Deus reserva um dia especial. E então é que são elas…”. Levou algum tempo, mas Quelimane pode hoje ter um novo futuro e uma nova esperança, que o paleio eleitoralista lhe tinha roubado.
Ainda recordo-me das pedradas que recebi, não faz dois meses, quando defendi publicamente a candidatura de Manuel de Araújo para resgatar a cidade das mãos daqueles que a transformaram na capital provincial mais desdentada do país. O futuro, como se tivesse feito um pacto com ele, veio dar-me razão, afinal era preciso dizer basta, chegou o tempo da mudança! Aleuia! Aleuia, Aleuia!
Eu sei que no passado foram feitas muitas asneiras no Município de Quelimane. Mas este não é tempo para se pensar em criar na Zambézia em geral, e Quelimane em particular, um tribunal que julgasse crimes de consciência, até porque, o que urge neste momento é a salvação imediata do doente que está em estado terminal.
Quelimane como muitas das autarquias do país precisam de ser salvos. Se for necessário, há que fazer uma cerimónia em águas de Bons Sinais, para a salvação da cidade, cujo título de quarta maior cidade não dependeu de malabarismos de secretaria, conquistou-a por merecimento próprio. A liturgia do sofrimento, dizem os mais entendidos em brocardos, tem os seus mistérios. Quem sabe não é a força dos Fijamos, Alonis, enfim, dos machuabos no geral, que desta vez quiseram colocar um filho da terra à frente dos destinos da cidade. Quem sabe? “A bússola do destino não falha”.
Nos mistérios africanos, é bom que nos convençamos disso, senhores leitores, não há ciência que o explique, eles permanecem tapados por um véu inviolável até os fins dos tempos. Desejo as maiores felicidades ao Manuel de Araújo, ao MDM que o ancorou, e a todos os ‘chamuales’ (amigos) ‘maquelimanenses’ em geral pela escolha certa!
‘Kockikuro’ (Obrigado)
PS: Estou profundamente grato aos leitores que me têm escrito de diversas partes do mundo. Seja ela positiva ou negativa, o termómetro de um colunista é a reacção dos leitores. Penso que o mais importante em qualquer trabalho não é a ausência de falhas, ninguém neste vale de lágrimas foi formatado para atingir o altar da perfeição.
O mais importante, dizia, é a coerência da arte, quando bem aplicada funciona como uma linha férrea. Por isso, caros leitores, os erros nos seres humanos são necessários, sempre, para nos confrontarmos com o tamanho da nossa incapacidade e da nossa ignorância como mortais.
Fonte: Wamphula Fax – 12.12.2011
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