Reflexão de: Adelino Buque
Aceitem os meus sinceros cumprimentos, senhores membros da Comissão Política do partido FRELIMO, desejando que todos estejam bem de saúde, bem como as vossas famílias. Camaradas! Esta carta deve ser entendida como sendo de um membro que se sente defraudado com a falta de algum posicionamento dessa Comissão Política em relação a matérias sensíveis do quotidiano da nossa sociedade, particularmente, em relação às renúncias dos edis de Quelimane, Cuamba e Pemba. Eu até poderia escrever esta carta à camarada Carmelita Namashulua, Ministra da Administração Estatal, que tutela os municípios; à camarada presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo Ndlovo, na qualidade de membro da Comissão Política afecta à Zambézia; à camarada Margarida Talapa, em Cabo Delgado; e à camarada Alcinda Abreu, no Niassa. Mas penso que para um assunto tão sério quanto sensível, o melhor é dirigir-me à Comissão Política do nosso glorioso partido FRELIMO como órgão. Acho o momento oportuno para o fazer, porque as eleições intercalares já aconteceram e esperam-se resultados apenas, sendo que esta carta em nada irá influenciar as tendências.
Camaradas! A nossa Comissão Política em nenhum momento se posicionou em relação às renúncias dos edis dos municípios de Cuamba, Quelimane e Pemba.
Não para estar de acordo ou não, mas para mandar uma mensagem à sociedade moçambicana sobre o seu pensamento. Não sabe a sociedade moçambicana sobre as reais causas da renúncia dos edis, em especial os munícipes dos municípios abrangidos pelas resignações. Os renunciantes ignoraram por completo as pessoas que as levaram ao poder. Sobre isto, a Comissão Política ficou calada, ignorando que seriam as mesmas pessoas a levarem outras pessoas aprovadas por essa Comissão Política ao poder. A Comissão Política não se pronunciou sobre o momento político em que as renúncias eram anunciadas. A Comissão Política manteve-se num silêncio sepulcral em relação aos custos políticos, económicos e, quiçá, sociais do acto. Por outras palavras, a Comissão Política do Partido FRELIMO manteve-se indiferente aos acontecimentos políticos mais importantes do momento. Caros Camaradas! Confesso, não compreendo esta atitude. É verdade que, a nível público, esses edis renunciantes disseram, cada um, o que fosse melhor para a ocasião, mas aos seus eleitores nada!
E, não sei se, os membros da Comissão Política acreditaram nas versões apresentadas pelos renunciantes!
Provavelmente não seja eu sozinho que não compreendo. Pode ser que haja mais camaradas e cidadãos nacionais indignados com o silêncio da Comissão Política sabido que é o órgão político mais importante que faz a gestão política do dia-a-dia e orienta o Governo, porque se trata do partido no poder.
As suas responsabilidades são acrescidas. Não se trata aqui de uma Comissão Política de um partido qualquer das dezenas inscritos no Ministério da Justiça, trata-se do Partido no Poder. Camaradas! Da vossa serenidade e responsabilidade depende a estabilidade sociopolítica e económica da nossa sociedade. Nós estamos em paz sim, mas queremos continuar a viver em paz e desfrutar de tudo quanto ela nos oferece.
Da vossa distracção pode resultar uma catástrofe nacional, por isso, compreendam as razões desta inquietação. Se houver lugar à responsabilização de algum membro da Comissão Política por não ter feito as leituras políticas que se impunham, que tenha induzido os outros em erro, que se responsabilize, mas não deixem o país resvalar para a anormalidade.
Aprendi na FRELIMO que nos órgãos colegiais existe espaço para a responsabilidade individual. Aliás, estamos no Ano Samora Moisés Machel e lembro-me que na ofensiva política e organizacional o Presidente irritava-se com as respostas sobre “quem é o responsável aqui? Somos nós”. Ele não aceitava isso, não só ele como qualquer pessoa sensata não aceita isso.
Sobre as campanhas eleitorais!
Permitam-me, camaradas chefes, que faça um reparo ao que têm sido as nossas campanhas eleitorais. Continuamos a usar de forma excessiva a ostentação material, símbolo de poder económico, em uma sociedade com carências elementares. Isto notou-se muito em Quelimane, Pemba e Cuamba. Os outros candidatos pareceram-me modestos. É hora de a Comissão Política se pronunciar ou deliberar sobre isto. Não faz sentido andarmos de luxo em lugares cuja atenção dos dirigentes deixa muito a desejar e pedir que votem em nós, que vamos melhorar o que não fizemos. Porque é que não usamos os recursos compatíveis com o local onde vamos e com pouca ostentação? Outro reparo, Camaradas Chefes, tem a ver com a mensagem sobre a juventude. Sei que isto não é pacífico, mas os nossos jovens têm por vezes discursos piores que dos mais velhos, os jovens devem se libertar, olhar para as coisas de forma crítica e não pensar no chefe.
A FRELIMO tem capacidade de liderar mudanças reais, os jovens da FRELIMO devem pensar em função da conjuntura nacional e internacional, não devem se preocupar com o “politicamente correcto”. Contudo, devem actuar dentro de um quadro político responsável. Não queremos “Malemas”, mas queremos jovens que usam a própria cabeça para pensar. Infelizmente, como sabem, já não sou jovem, mas incentivo os jovens a ganharem personalidade própria e desafiarem jovens que emergem noutras formações políticas.
Neste artigo, não comento, propositadamente, as projecções dos resultados das eleições intercalares de Quelimane, Cuamba e Pemba.
- Fonte: CORREIO DA MANHÃ in Mocambique para todos - 12.12.2011
21 comentários:
Tenho quase certeza que oque o Buque fez foi só " ter tomates" e dizer oque deve estar alojado na alma de muitos camaradas por ai. Essa frelimo tem mesmo que mudar ou vai ser mudada.
O que não não é mudado.
Nelson, é como disseste noutro canto ou mesmo aqui - as eleicões intercalares já constituem um dos maiores pontos da agenda do congresso dos "camaradas".
Foi no facebook onde "profetizei" que a tragédia da Frelimo em Quelimane engrossaria a lista dos assuntos a serem discutidos no X congresso. Parece que falhei foi na previsão do tempo. A discussão pode acontecer bem antes do congresso basta que a frelimo escute com atenção vozes como a do Adelino Buque. Eu avisei também que muitas cabeças iam rolar...
No meu Blog publiquei ha mais ou menos um mes um artigo sobre as provaveis causas por detras da demissao dos Edis e questionava exactamente este silencio do Partidao quanto aos verdadeiros motivos dessas demissoes. Quem quizer pode aceder atraves do site: www.ismaelmussa.blogspot.com
Bem aja o Adelino Buque pela coragem. Parabens.
Nguiliche
Estamos no caminho do fim dos iluminados. Nampula deve completar a libertacao.
Caros, afinal a nós que não somos membros nem simpatizantes da Frelimo, valeu-nos o direito de questionar sobre a renúncia forcada dos edis mesmo quando ainda não se tinha posto em prática. Os membros e simpatizantes da Frelimo tiveram problemas da disciplina partidária, mas no fundo, os mais sensatos questionavam. Depois da grande derrota que a máquina da Frelimo sofreu, muitos já não engolem sapos. É o caso de Adelino Buque.
Mais valeu que o MDM e Manuel de Araújo assumiram o desafio. Mais valeu que nós apoiamos à formiga.
Aprendemos que vencer a Frelimo é possível.
Caro Nguiliche,
Claro que Nampula tem assumir o dever de libertacão, ainda que isso tenha que se estender em todo o país.
Entretanto, neste momento há muita coisa por fazer e uma delas é evitar que a Frelimo provoque caos na oposicão.
Tens razão Reflectindo, quando dizes que "neste momento há muita coisa por fazer e uma delas é evitar que a Frelimo provoque caos na oposição" mas também convenhamos e necessário que a oposição se organize, de facto, e faca uma purificação nas suas fileiras, pois nem tudo que brilha e ouro. Todos aqueles que tem rabo preso por não prestarem contas de fundos públicos, estarem com processos a correr na PGR por venda de isenções do partido ou estarem ilegalmente filiados há mais de um partido e muito mais que não permite, agirem em consciência e livres da chantagem do regime, devem merecer uma atenção especial e uma censura firme. Porque de contrario, estaremos a libertar o pais de um punhado de mafiosos para substituir por outros iguais ou talvez piores. Aproveitemos este momento de euforia e de alegria pela vitoria do nosso irmão Araújo e pela libertação de Quelimane para reflectir e sanar algumas praticas nocivas que também estão no interior dos partidos da oposição. A liberdade tem necessariamente custos e este e um deles. Estamos juntos pela democratização do nosso querido Moçambique.
Tens razão Reflectindo, quando dizes que "neste momento há muita coisa por fazer e uma delas é evitar que a Frelimo provoque caos na oposição" mas também convenhamos e necessário que a oposição se organize, de facto, e faca uma purificação nas suas fileiras, pois nem tudo que brilha e ouro. Todos aqueles que tem rabo preso por não prestarem contas de fundos públicos, estarem com processos a correr na PGR por venda de isenções do partido ou estarem ilegalmente filiados há mais de um partido e muito mais que não permite, agirem em consciência e livres da chantagem do regime, devem merecer uma atenção especial e uma censura firme. Porque de contrario, estaremos a libertar o pais de um punhado de mafiosos para substituir por outros iguais ou talvez piores. Aproveitemos este momento de euforia e de alegria pela vitoria do nosso irmão Araújo e pela libertação de Quelimane para reflectir e sanar algumas praticas nocivas que também estão no interior dos partidos da oposição. A liberdade tem necessariamente custos e este e um deles. Estamos juntos pela democratização do nosso querido Moçambique.
Nguiliche
As mudancas podem ser feitas de forma civilizada, nao à moda do norte de africa, sem correr o risco de apanhar balas de "boracha", basta sabermos aproveitar o momento. Por que temos que continuar a adiatar...! O futuro é hoje, amanha é uma imaginacao.
O Reflectindo tem razao quando afirma que devemos evitar que a Frelimo provoque o caos na Oposiçao, mais do que nunca precisamos de estar atentos!
Por outro lado, o MDM nao pode ficar complacente com a vitoria em Quelimane, há muito trabalho pela frente e muitas coisas devem ser corrigidas e/ou melhoradas!
O que nao entendi no artigo do Buque e' quando ele fala que "queremos viver em paz e bla bla"!! O que e' que se esta' a passar mesmo?? Por a Frelimo nao ganhar nalgum sitio, a paz fica ameacada?? Quer nos dizer o Buque que hoje, ao andar pela Beira ou Quelimane, se sente em zona do inmigo, terreno hostil?? Deixa de ser Mocambique?? Se entendi bem o texto dele, isto poe a descoberto as ditas credenciais democraticas dos membros deste partido! Se nao acreditam num Mocambique que nao seja so Frelimo, entao muitos dissabores podem estar a caminho!!Agora quando alerta aos "transporta-pastas" do seu partido a tomar alguma atitude para la do "sim-senhor", devo concordar plenamente com ele!!
Caro Jonathan
Devo confessar a parte do texto em que Adelino Buque põe em questão a paz havia me passado despercebido. Portanto, agradeco-te muito por este alerta.
De facto, Buque parece estar convencido que só há paz se a Frelimo estiver no poder. Agora o que não percebi é se ele acha que a Frelimo vai fazer guerra se perder o poder. A Convocacão de eleicões após a renúncia forcada dos edis de Quelimane, Cuamba e Pemba foi por cumprimento das regras da democracia.
Se a Frelimo está arrependida por ter provocado as eleicões intercalares, eu etou super feliz, pois que elas valeram para a medicão do pulsar da democracia em Mocambique. Acho que muitos mocambicanos também ficaram felizes por saberem que MUDANCA TRANQUILA, advogada pela Renamo em 2004, é possível. Não precisamos de guerra do tipo Norte de África. Na noite do dia 7 do corrente mês, muitos mocambicanos que me contactaram manifestaram o mesmo. Agora esperamos que a Frelimo aceite este como o melhor caminho a percorrer.
Um sms de um amigo super-frelimista que reside em Quelimane,mostrava assim um explicito receio que a oposicao "se vingue" agora que tem o poder!! Isso, aliado 'a "preocupacao do Buque", me faz crer que, dentro da Frelimo existe plena consciencia que a actuacao deste partido e' potencialmente prejudicial a muios cidadaos e isso poder propiciar a sentimentos vingativos, de revolta, de "pagar pela mesma moeda", uma vez trocada a posicao das mesas (turn the tables). Acho que e' esse ponto que aflige o Buque e provavelmente muitos frelimistas, neste momento! Mas, se essa aflicao existe, estarao os membros desse partido a dizer-nos eles que "tem plena consciencia que o seu partido nao vale nada"??
A oposicao esta apenas preocupada em trabalhar em prol das populacoes que lhes deu confianca! Esta a ver-se isso na Beira e certamente sera visto em Quelimane!! Nao ha tempo para vingancas!! Situacoes de roptura so podem vir a acontecer se, numa atitude de cobardes, a Frelimo achar que a sua nova missao for sabotar e minar a governacao destes autarcas da oposicao!!
Neles reina um medo ou criam medo em seus camaradas com imaginacão que de que os oprimidos de hoje se vingarão amanhã. Edson Macuácua veio sempre com esse discurso, após a criacão do MDM.
Eles devem estar a pensar que se um outro partido vier ao poder decretará coisa igual como "os comprometidos", mas que a partir de 1987 foram lembrados e até usados na guerra contra a Renamo. Mas se o ciclo fosse vinganca, para lado algum é que iamos. Aliás, nem há razão para vinganca porque desde 2008 já se nota que muitos sendo portadores do cartão do partido no poder, votam pela oposicão. Isto significa que pela mudanca são muitos mocambicanos sem distincão da cor partidária.
Os comentarios sao interessantes e, interessante e saber que o tema suscita e suscitou interesse de muitas pessoas, quanto ao que as diferentes sensibilidades dizem sobre o conteudo da carta, chamar a atencao para nao ler partes dissociadas de um todo, se pretende compreender a essencia da mesma, simplesmente isso, o resto deixo a fertil imaginacao de cada leitor e, muito obrigado pelas observacoes. Adelino Buque
Caro Adelino Buque
Muito obrigado pela reaccão aos comentários da sua carta.
Qualquer leitura que não vá ao seu pensamento, é só a si que cabe clarificar.
Nota: pela reaccão do autor da carta actualizei esta postagem.
Parabens Buque. Creio que voce é muito sincero e humilde. Mesmo onde deixou oportunidades para os compatriotas reflectirem, tem a bondade de clarificar. Assim é o espaço publico. Cada um apresenta as suas ideias para serem debatidas. As conclusoes saiem a partir do debate. Voce ja fez a sua parte. Parabens.
Moçambique nao deve ser refém de belicistas, os pacifistas tambem lutam para o bem de Moçambique. Vamos acordar a nossa massa cerebral. Nao precisamos mais de puxar gatilhos para nada. Usemos a arma da razao.
Os camaradas da Comissao politica que nao reagiram sobre as reais causas das renuncias, devem saber que mesmo assim, sao culpados. Porque parece que nao, a responsabilidade moral pesa sobre eles. Só para lhes lembrar, a responsabilidade moral é clara respondendo a tres perguntas fundamentais: de qué somos responsaveis? Diante de quem? e por fim, de que modo? É tempo de começarmos votar com cabeça e nao com... o kg de arroz que nos ofecerem no tempo de campanha será que depois continuam a dar-nos quando ganham? "Em tempo de mudança tudo muda e o que nao munda é mudado". Feliz Natal compatriotas
Acho que a renuncia foi propositada para:
1 - Criar uma situacao em que as pessoas se deviam (politicamente)concentrar perante uma ameaca da Renamo em realizar as manifestacoes em Dezembro. Notemos que esse processo ocupou quase todo periodo de Dezembro anterior ao Natal.
2 - Medir a reputacao do partido e dai encetar estrategias para os momentos cruciais, ou obter subsidios para o debate no congresso.
So que os resultados estao sendo explorados de varias formas. Alguns ate usam o vocabulario "libertacao", um termo que nunca tinha ouvido nos pleitos anteriores. Capitalizando isso a situacao no terreno pode ser muito complicada, e ate com contornos imprevisiveis porque vai ser identificado o opressor do qual as pessoas devem-se libertar. Para mim, estas eleicoes embora deliberadas galvanizaram um sentimento contrario ao que se queria.
E' salutar que o nosso concidadao Buque tenha perseguido o seu artigo de opiniao, para medir o seu pulso nas varias esferas de opiniao. A forma como as pessoas aqui neste blog veem os factos e os interpretam, e' certamente diferente do que seria observado num blog de um "camarada". E' exactamente essa diversidade que faz Mocambique e ligar, encontrar "terreno-comum" entre esses varios micro-cosmos, e' o caminho a seguir para fortificar o nosso pais. Ora, essa cultura nao existe entre "nos". Penso que aqui na blogosfera ha' muito ja' ficou patente quem costuma "fugir" dos debates, quem ve a fogueira e prefere ficar no "frio"!
O artigo do Buque causou furor (dentro do seu partido) porque na Frelimo as pessoas ha muito deixaram de se expressar, as suas opinioes, sejam quais forem e do que se trate, acabam sendo diluidas por um mutismo que tende a ser mais ruidoso que o proprio trovao. Para mim, e' dificil acreditar que tal acontece apenas ao nivel publico! E' preciso que as pessoas se expressem, e' preciso que elas mostrem as suas inquietacoes, e isso deveria ser valorizado para o bem desse partido!
Quanto a nos aqui neste forum, seria louvavel que o concidadao Buque esclarecesse a "questao da Paz" que realcou no seu artigo! Eu, devo dizer, nao entendi do que ele falava, dai ter tentado as minha propria interpretacao desse trecho! Agora, nao se tratando de um "texto poetico", e se estando a falar de um assunto concreto (derrota da Frelimo nas eleicoes intercalares), que nao e' "segredo do Estado", esta' no proprio interesse do concidadao Buque, que o mesmo nao seja "mal interpretado"!!
Espero que todos os leitores deste importantissimo blog para Mocambique tenham passado um optimo Natal! Vao desde ja, os meus votos que a passagem do ano seja "muito mais melhor ainda", hehe!
Abraco a todos e que Mocambique seja melhor em 2012!!
Enviar um comentário