sábado, setembro 12, 2009

UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE A EDUCAÇÃO NO PAÍS

Por Viriato Caetano Dias

Nem a “revolução verde”, muito menos os miraculosos “7 milhões de meticais” - figas do actual Governo – podem tirar o país da masmorra política, económica e social em que se encontra, somente à Educação. É aqui, na Educação, que se joga o nosso futuro.

Cá estou eu, tal como outrora vos prometi, irei falar-vos sobre a Educação. Não são em duas ou três páginas que se exauriam o tema em reflexão. Ainda assim, permitam-me a ousadia para fazer uma autopsia cuidadosa e meticulosa a este sector, chave para o desenvolvimento do nosso país, tal como referiu o actual Reitor da Universidade de Évora, Dr. Jorge Araújo, que não há nenhum país que se desenvolva sem uma aposta firme, muito segura e consistente na qualificação da população.

Cada país possui a sua própria grandeza. E cabe a cada país, dentro dessa grandeza, pentear o seu próprio ego. Uns fazem-no usando o petróleo que ostentam; o artesanato, o azeite, o vinho, o café, as pepitas de ouro, os jazigos de diamantes, etc. Outros são os que se regozijam por questões de índole religioso, chamando a si o epicentro do mundo. Mas o nosso país não é nenhum líder mundial nem em petróleo, nem em pepitas de ouro, muito menos em jazigos de diamantes. A nossa única grande riqueza é o povo que somos. Somos um povo diferente dos outros e sabemos, claro, mesmo diante das dificuldades impostas pelos apetites humanos e da natureza alheia, fazer a diferença pelo que sempre fomos: vitoriosos. Por isso, é preciso manter aquilo que nos torna únicos. Mas às vezes, me pergunto: afinal onde é que anda a coragem que destruiu a grande muralha de ferro imposta pela dominação colonial? Será que já não somos mais capazes de vencer os obstáculos que o destino coloca na nossa frente, por exemplo: a pobreza, as hecatombes mental e naturais, o analfabetismo generalizado, a corrupção, a inércia, o lambebotismo óssea, o preconceito, a letargia, o obscurantismo? Todos estes males só podem ser vencidos, não com políticas cáusticas nem com discursos empeçonhados, mas sim com uma educação responsável. A educação é, como se sabe, um dos fundamentais pilares da sociedade. Nesse pilar assenta tudo o que somos e, em consequência directa, tudo o que construímos. Quanto num país a educação é fraca advém-se a qualidade de vida do seu povo. É para aqui, na educação, que temos de caminhar e é aqui que temos de dar o nosso melhor.

Em 34 anos de história nunca um governo fez tão pouco para o sector da educação como este. Este governo limitou-se a parir uma centena de escolas, meia dezena de universidades e ainda encetou reformas curriculares supérfluas com um único objectivo: fazer a estatística e cortar fitas como sóis dizer-se. Esqueceu-se, porém, que numa guerra contra o analfabetismo o mais importante e decisivo não é apenas a construção de mais salas de aulas, expansão das universidades ou reformas curriculares importadas “made in Bolonha, etc”, pelo contrário, é o factor humano. O Homem, no dizer de um filosofo, é a medida de todas as coisas. No lugar de formar professores, capacitar os já existentes, melhorar as condições de vida e de trabalho dos professores, e dos alunos, apetrechar as escolas com meios necessários para levar o barco a um bom porto, mudar o actual currículo que mais não é uma vergonha tacanha, optou o executivo a fazer o contrário. Ou seja, fez o ´check-in` antes mesmo de fazer as malas, como diria o escritor Daniel da Costa. Por causa da estatística, a maior parte das universidades funcionam sem instalações próprias, ou seja, no período da manhã funcionam as escolas primárias / secundárias X e de noite as universidades ou institutos superiores Y. O que muda são os horários, os professores e os programas são praticamente os mesmos. Quanto as escolas inauguradas, muitas delas já nem sequer existem, porque o ciclone “Flávio” fustigou tudo. É preciso se precaver para que um outro (que o diabo seja surdo e mudo) não traga mais prejuízo às contas do Estado. E as consequências da velocidade da pressa e do improviso estão à vista: hoje em dia, no nosso país, por causa dos nossos métodos actuais de educação, ninguém quer ser enfermeiro, electricista, torneiro, mecânico, alfaiate, jardineiro, agricultor, pedreiro, carpinteiro, etc, toda a gente quer ser doutor e engenheiro. Senhor doutor ou senhor engenheiro, para os males dos seus pecados. E o país vai dando pinos atrás de pinos. Será que no conselho de ministros alguém já parou para perguntar quanto gasta o país para importar um mecânico ou um torneiro? Um rio de dólares! É sempre mais caro importar que formar internamente.

Outro erro, não menos grave, é o facto do nosso governo estar à reboque dos doadores, que impõem políticas desfasada de qualquer nexo, para o cumprimento de metas quiméricos que só cabem na cabeça de quem as concebeu. Juntar cursos de importância vital para o país para poupar dinheiro, por exemplo, História e Geografia, é um acto que não forma, mas sim desinforma. Seria o mesmo que dar uma dose superior acima do estipulado ao doente, só porque esse apresenta febres altas. Na esteira ponto, Vítor Trindade, um dos conceituados investigadores da Universidade de Évora na formação de professores, escreveu na obra a ele homenageado “Ensino, Qualidade e Formação de Professores, p. 109) o seguinte, cito na íntegra: “as reformas educacionais, que desde o final do século passado se redimensionaram e se propagaram nas grandes democracias, sob comandos de agências financeiras e económicas, recorrentemente têm pressionado, de preferência, aos países emergentes, com “argumentos” de “empréstimo salvadores” para a execução de planos de formação de seus professores, priorizando práticas de aprendizagem e ensino, idealizadas pelas nostalgias de uma escola elitista que ainda figura, com poucas críticas, num passado de memórias triunfalistas”. O sublinhado no texto é meu.

Sempre me bati por uma educação justa e igualitária, que valorizasse toda a estrutura de base de uma escola, desde o director até a um simples empregado de limpeza. Procurei, feito fiscal, salvaguardar os interesses dos professores (colegas), mas também dos estudantes, pois compreendo que o sucesso de qualquer trabalho depende de todos, sem prejuízos de terceiros. Um bom professor antes de tudo deve conhecer a origem sócio-económica e cultural dos alunos e as suas expectativas. A minha satisfação enquanto docente nunca encontrou recompensa cabal apenas quando transmitia os conhecimentos, mas sim quando os estudantes descobrissem por si os trilhos certos à percorrer sem que eu soltasse um único brado. E tenho que concordar com o meu amigo, quiçá um dos mais nobres historiadores da actualidade, Professor José Hermano Saraiva, quando diz que a importância de uma aula não está naquilo que se ensina, mas sim naquilo que se descobre. Posso daí orgulhar-me que poucos, muito poucos mesmo (sem exagero), não cabem os dedos da minha mão, os casos de desistência ou abandono escolar. Devo dizer que o sucesso escolar era uma meta constante. Afinal, como na vida, a satisfação do que fazemos está na perfeição. Os números, esses vem sempre depois. Além disso, como todos sabemos há uma questão fundamental no processo de aprendizagem: para aprender é preciso querer-se aprender..


O aviso à navegação surgiu na semana passada pela voz da Naima Sal, inspectora-geral do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e veio a público dizer que mais de três mil professores abandonam o Sistema Nacional de Educação por ano, partindo para outros destinos a procura de melhores condições de vida ou para prosseguir com os seus estudos. Vindo de onde vem estas palavras, é caso para dizer que os próximos anos serão de crise, provavelmente a dita crise nacional comece aqui: na educação. É necessário, antes que seja tarde demais, mudar o sistema e não as pessoas, como diria o outro (anónimo) o problema não está propriamente nas moscas é da lixeira que está a feder. Ficou a lição.

Temos que ser realista em dois aspectos, primeiro que não é fácil trabalhar com mentalidades, é um processo continuo, longo e às vezes sinuoso, mas também atendendo os factores de ordem circunstancial. Estamos a falar de uma área sensível no xadrez de vários sectores no país, porquanto todos os anos a avalanche de novos petizes para estudar é cada vez maior, e nem sempre é possível enquadrar a todos como era desejado. Nenhuma planificação pode ser cabal num país onde a maior parte da sua população é analfabeta, sendo também impossível prever o número exacto dos que optam pelos trilhos da educação. Não quero com isso reconhecer a razão da fragilidade do pelouro da educação. As feridas no sector da educação no país são causadas por um único factor: recursos humanos. Quando os recursos humanos deixam de carburar como devia ser, as consequências pesam sobre quem possui o trono. Em Moçambique como em qualquer outro país, as instituições fazem a sua grandeza com pessoas qualificadas.

Se medidas adequadas não forem imediatamente tomadas para evitar os casos improviso e o surgimento precoce de várias instituições de ensino superior, bem como a criação de diplomas ministerial visando à adopção de programas alheio de ensino, como são os casos de “Processo de Bolonha” e a “Passagem Automática”, só para citar, quão cogumelos em tempo de chuva, sem que se tenha em conta os factores internos apresentados acima, corre o país sérios risco para o aparecimento de um novo tipo de analfabetismo: dos “senhores doutores” que não saberão redigir um simples requerimento ou que, mesmo sabendo falar politicamente bem, terão grandes problemas na escrita e no conhecimento em geral, conhecimentos esses necessários para colocar o país a andar para a frente. Já há exemplos, infelizmente.

Não podemos continuar a fazer as coisas em função dos pensamentos dos outros. Este país de vencedores não pode prostituir-se mentalmente. Somos capazes de fazer a diferença como somos. Não temos que andar à espreita aos cantos do mundo para ver o que é que o país X ou Y fez, pois nem sempre o improviso é a melhor via. Há que levar à treta os melhores exemplos, desde que os mesmo se enquadrem com a realidade do país. Com uma aposta firme na educação podemos chegar muito longe. Temos os exemplos do Japão e de Cabo Verde, países insulares, digamos, Ilhas vulcânicas, sem grandes argumentos em termos de riqueza no subsolo, tem mostrado ao mundo inteiro que os recursos humanos são a chave para o desenvolvimento de qualquer país. A Suiça é outro exemplo a seguir, um país banqueiro como costuma se dizer, têm uma das economias mais ricas do mundo à custa dos recursos humanos.

Finalmente, quero concordar com um dos raros políticos que muito admiro, Eng.º José Sócrates, Primeiro-ministro de Portugal, quando diz que o dever de um governo não é apenas dar educação ao seu povo, mas sim uma boa educação.

8 comentários:

macua disse...

Gostei imenso deste artigo, pois tem alguns pontos que merecem reflexao. Contudo, estou em crer que o autor eh bastante pessimista ou perdeu toque com a realidade educacional no pais. Algumas coisas que contou sao justificaveis. Por exemplo, a rapida extensao de universidades e campus universitarios em todo o pais resultou da pressao popular sobre assimetrias regionais, os do sul tinham mais chance de ter nivel superior do que nos os do norte e do sul. Hoje em dia, um natural de Balama, ou Mitucue, tem uma possibilidade de perseguir ensino superior e ser tambem doutozinho tal como o Rungo de Gaza. Eh verdade que a expansao das universidades, por exemplo da UP eh rapida demais e deixa parecer, politicamente pressionada ou usada. Sobre a passagem automatica, tu nao estas em favor mas eu sou 100% em favor para o ensino primario. A intencao eh fazer com que, ate 2015 todos saibam ler e escrever. Eh bom que todos saibam ler e escrever para votarem conscientemente. Analfabetismo absoluto em Mocambique, homens (38%) e mulheres (72%. est, 2007). Esta gente como pode compreender om programa de um partido, votar sabendo o que estao a fazer? So poderao votar por motivacao tribal ou manipulacao. Mocambique nao eh primeiro pais a adoptar passagem automatica, primeiro foi Uganda a mais de 30 anos atras e depois Tanzania junto com Zanzibar. O resultado disso eh de em Uganda a taxa de analfabetismo eh de 3%. Sobre a teoria colocada no texto, primeiro qualidade e quantidade depois, eh apenas uma percepcao, porque outro pode ver vantagem de comecar com a massificacao do ensino e depois exigir qualidade. Qualidade pode surgir dentro de competicao que envolve muitos concorrentes, por exemplo, para entrar numa universidade ou no mercado laboral. Para finalizar, onde diz que Mocambique copia politicas ou modelos de fora, isso eh verdade, mas nem sempre isso eh negativo. Nao eh so na educacao onde isso acontece, mesmo na empresa das telecomunocacoes, ja nao existem aqueles telefones fixos das ruas. Como no estrangeiro as pessoas andavam com celulares tambem os celulares foram trazidos para o pais. Coisas positivas de fora nao tem mal aproveitarmos, copiarmos ou imitarmos com o nosso distintivo que eh a nossa identidade. Infelizmente, nao tenho como, gostaria de ti mostrar o curriculo actual do ensino primario em Mocambique para vermos se coisa iqual existe em alguma parte do planeta.

Viriato Dias disse...

Macua,

Obrigado pelo comentário. Creio que mais do que importante para espelharmos a realidade do país, acabou deixando algumas achegas úteis para melhorarmos o nosso sistema de educação. Quero chamar a sua atenção num aspecto. É preciso fazer pouco levando muito tempo do que o muito para depois remediar. Não basta expandir o ensino superior quando não existem salas de aulas nem professores qualificados. Uma universidade é uma coisa séria, deve ser encarada com seriedade e não com meros improvisos.

Não pense meu caro amigo, Macua, que os resultados serão positivos. Pelo contrário. Vamos ter uma nova vaga de doutores que nem saberão escrever. Além de mais vai pesar no orçamento do Estado. Universidade sim, desde que hajam condições para o efeito. As passagens automáticas são um improviso europeu, está a estragar as crianças. Ou seja, as crianças ao fim da 5ª classe não sabem nem ler nem escrever. Visite a uma das escolas para ver in-loco. É uma realidade amigo Macua.

Que se façam as coisas mais com seriedade e não com sentido populista.

Uma abraço e disponha sempre.

macua disse...

Alo Viriato,
Sobre a questao das universidades tens razao mais do que basta. Nao sei caracterizar exactamente a qualidade de estudantes formados por outras universidades no nosso pais, apenas poderia dizer algo sobre a minha, mas isso eh irrelevante. Tu tambem ja disseste que passaste por la, mas pelo que ecreves e de forma como ti mostras coerente com suas ideias, nao me parece que la foste mal formado. Geralmente, mocambicanos quando vao em pos graduacao no Brasil, Portugal, Australia, Inglaterra, la conseguem enquadrar-se bem e ate acabam excellendo. Nao conheco nenhum caso de estudante que se licenciou em Mocambique e que tenha sido rejeitado fora. Quanto, a passagem automatica interessa-me mais. Alias, nos chamamos semi-automatica, porque ela realiza-se apenas em algumas classes do ensino primario e nas nao examinaveis. Sao semi-automaticas tb porque por qualquer razao, o pai notar que seu filho nao deve passar, pode comunicar a escola para interromper a transicao naquele ano. Os alunos ate 5a classe nao sabem escrever o nome deles? Bom, isso eu ja venho ouvindo dizer muito antes da introducao da passagem semi-automatica. Um artigo cientifico que escrevi na revista 'Mathematics Studies in Mathematics'em 2007, dedica-se exactamente aos efeitos e consequencias da passagem automatica em Mocambique. Fiz entrevistas a 342 professores primarios, 601 alunos do ensino primario e 90 pais e encarregados da educacao. A pergunta era simples, queria ouvir o que eles achavam acerca da passagem semi-automatica na 1a classe e porque. Os dados sao bastante interessantes, mas, infelizmente nao posso passar o artigo para este blog por cause de direitos de autor e o artigo eh 'peer review'. Ja reparaste que quando uma crianca da 1a classe, com os seus, digamos 6 anos, reprova duas vezes de ano, ele perde espaco na escola e fica definitivamente nao escolarizada? E se for uma rapariga, abre-se espaco para um ciclo geracional de analfabetos? A expansao da rede educacional nao atinge apenas o nivel superior, ja estenderam ensino secundario para todos os distritos.
Quanto a mim, e para finalizar, para assegurar a qualidade de educacao das nossas criancas em Mocambique, deveria haver maior envolvimento dos pais. Ou seja, pais deverima assumir a responsabilidade numero 1, na garantia da escolaridade das criancas, por exemplo: Investindo, encorajando, controlando e colaborando com as escolas para saber o dia a dia da vida escolar da crianca. Em Mocambique eh normal os pais so saberem da vida escolar da crianca no fim do ano quando esta vem comunicar o resultado. Ai onde estas, talves num pais do primeiro mundo, qual eh a atitude e comportamento dos pais para com a educacao dos seus filhos? No nosso pais, existe sempre a percepcao de que o governo eh responsavel por tudo incluindo na garantia da educacao dos meus filhos porque sou taxpayer. Eh pura mentira, nem este nem outro e nem nenhum governo vai garantir nem educacao e nem saude para ninguem. Tudo requere investimento pessoal e suor para furar os todos os obstaculos.

macua disse...

Alo Viriato,
Sobre a questao das universidades tens razao mais do que basta. Nao sei caracterizar exactamente a qualidade de estudantes formados por outras universidades no nosso pais, apenas poderia dizer algo sobre a minha, mas isso eh irrelevante. Tu tambem ja disseste que passaste por la, mas pelo que ecreves e de forma como ti mostras coerente com suas ideias, nao me parece que la foste mal formado. Geralmente, mocambicanos quando vao em pos graduacao no Brasil, Portugal, Australia, Inglaterra, la conseguem enquadrar-se bem e ate acabam excellendo. Nao conheco nenhum caso de estudante que se licenciou em Mocambique e que tenha sido rejeitado fora. Quanto, a passagem automatica interessa-me mais. Alias, nos chamamos semi-automatica, porque ela realiza-se apenas em algumas classes do ensino primario e nas nao examinaveis. Sao semi-automaticas tb porque por qualquer razao, o pai notar que seu filho nao deve passar, pode comunicar a escola para interromper a transicao naquele ano. Os alunos ate 5a classe nao sabem escrever o nome deles? Bom, isso eu ja venho ouvindo dizer muito antes da introducao da passagem semi-automatica. Um artigo cientifico que escrevi na revista 'Mathematics Studies in Mathematics'em 2007, dedica-se exactamente aos efeitos e consequencias da passagem automatica em Mocambique. Fiz entrevistas a 342 professores primarios, 601 alunos do ensino primario e 90 pais e encarregados da educacao. A pergunta era simples, queria ouvir o que eles achavam acerca da passagem semi-automatica na 1a classe e porque. Os dados sao bastante interessantes, mas, infelizmente nao posso passar o artigo para este blog por cause de direitos de autor e o artigo eh 'peer review'. Ja reparaste que quando uma crianca da 1a classe, com os seus, digamos 6 anos, reprova duas vezes de ano, ele perde espaco na escola e fica definitivamente nao escolarizada? E se for uma rapariga, abre-se espaco para um ciclo geracional de analfabetos? A expansao da rede educacional nao atinge apenas o nivel superior, ja estenderam ensino secundario para todos os distritos.
Quanto a mim, e para finalizar, para assegurar a qualidade de educacao das nossas criancas em Mocambique, deveria haver maior envolvimento dos pais. Ou seja, pais deverima assumir a responsabilidade numero 1, na garantia da escolaridade das criancas, por exemplo: Investindo, encorajando, controlando e colaborando com as escolas para saber o dia a dia da vida escolar da crianca. Em Mocambique eh normal os pais so saberem da vida escolar da crianca no fim do ano quando esta vem comunicar o resultado. Ai onde estas, talves num pais do primeiro mundo, qual eh a atitude e comportamento dos pais para com a educacao dos seus filhos? No nosso pais, existe sempre a percepcao de que o governo eh responsavel por tudo incluindo na garantia da educacao dos meus filhos porque sou taxpayer. Eh pura mentira, nem este nem outro e nem nenhum governo vai garantir nem educacao e nem saude para ninguem. Tudo requere investimento pessoal e suor para furar os todos os obstaculos.

Viriato Dias disse...

Macua,

Mais uma vez agradeço o seu comentário. Realmente estudei na UP durante 3 anos. Não concordei com algumas políticas do então reitor que mais tarde veio a ser seguido pelo actual. Tive mesmo a obrigação de sair. Não me compadeço com um ensino em dificuldades, com o improviso e o faz de contas. Sou contra este tipo de ensino. Infelizmente a UP envereda por esses caminhos. Porém, tal como outrora escrevi, tenho a obrigação de agradecer certos professores que lá estão, aqueles que agem com profissionalismo.

Estou agora fora do país. Na segunda maior universidade de Portugal, a Universidade de Évora. Aqui, apesar de coisas boas e más, há uma coisa de que me orgulho, é o aluno que vai à pastagem e não o inverso. Ou seja, o professor leva o alno à pastagem e cabe a ele comer. Não há obrigações a cumprir. Nada de perseguições às pessoas, enfim, o aluno sai já preparado. Em Moçambique, apesar do ensino ser muito duro e exaustivo está totalmente desfasado de lógica, ou seja, é muito extenuado. Aprende-se muita coisa evasiva. Se tu fazes história, por exemplo, acabas não saindo um historiador, mas sim outra coisa qualquer. Tal deve-se a um factor crónico, o currículo é improvisado ou não é tido em função da realidade do país e da região.

Quanto a expansão das escolas secundárias, volto a dizer a mesma coisa. O importante não é expandir é garantir condições para que as crianças que entra pela escola pela primeira vez tenham o mínimo de condições. Por exemplo, a alimentação, saúde e acima de tudo, no caso vertente, professores qualificados. Abrir escolas é fácil, difícil é ter a qualidade de ensino pretendido. Mais vale levar muito tempo a formar com qualidade do que o improviso. Uma criança mal preparada torna-se uma constipação para o país. Sou a favor de mais escolas, mais universidades desde que hajam condições para tal. Caso contrário, vamos assistir uma cambada de doutores sem o mínimo de conhecimento. Assim não é formar, é desinformar o povo. Veja lá.

O facto de um estudante que se licenciou em Moçambique e que tenha facilidade na adaptação não se deve a qualidade do nosso ensino, engana-se quem assim pensa. Deve-se, porém, há dois factores. Primeiro são as fontes que são abundantes, segundo quem vem para a Europa tem necessariamente que se esforçar, porque as condições aqui obrigam a isso. Brinca-se muito, mas também há muito trabalho.

O nosso governo deve fazer a diferença sim, evitando políticas populistas. É possível, basta que o Sistema se interesse pela educação. Nenhum partido africano com a génese da Frelimo se intereça muito pela educação de qualidade, porque custaria caro ao próprio sistema.

Um abraço

macua disse...

Abracao, Dr. Viriato.

macua disse...

Abracao, Dr. Viriato.

Musiwa disse...

Grato, pela análise feita da nossa educação.