Espinhos da Micaia
Por Fernando Lima
Perguntam-me do exterior se terá sido avisado “excluir” a “terceira força política do país” das próximas eleições legislativas.
Os sublinhados são meus e correspondem a outras tantas inverdades das labaredas que os pirómanos instalados na CNE (Comissão Nacional de Eleições) decidiram atear quando faltam menos de dois meses para irmos a votos.
Afinal, não foi apenas o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) que foi parcialmente chumbado na maioria dos círculos eleitorais e, como nunca disputou eleições, o título de terceira força é… politicamente assinalável, mas precisa de ser testado a 28 de Outubro.
De qualquer forma é assim que foi interpretada a decisão da CNE de excluir, total ou parcialmente, 27 formações políticas moçambicanas das próximas eleições.
E é importante a CNE ter a noção de percepções em terreno movediço como são a preparação das eleições. Não é por acaso que a Renamo, o maior partido da oposição, concentra parte das suas energias, no combate ao que percebe como sendo uma fonte de manipulação e roubo da sua verdadeira expressão política em democracia representativa. Os rios de dinheiro gastos em recenseamentos de raiz são uma das faces mais ilustrativas da desconfiança permanente perante os homens que se abrigam em instalações de triste memória: antes e depois da independência.
Publicamente, a CNE e o seu braço técnico apenas gozam do apoio tácito da Frelimo. É natural, pois é o único partido que somou sempre vitórias nas disputas multipartidárias realizadas após 1992.
Porém, o cenário poderia ser diferente.
E no caso vertente, se cada um dos comissários escrevesse naqueles papelinhos amarelos de tampo de secretária, a palavra transparência, tínhamos meio caminho andado para eliminar a crise em que, mais uma vez, estamos envolvidos.
Não me parece um tratado de física nuclear, tornar públicos os motivos de exclusão de listas e candidatos. Da mesma forma que devia ser pela positiva, toda a aproximação aos partidos políticos para superarem as deficiências da sua documentação. Temos um país real que consegue dar cartão de recenseamento a 9,5 milhões de eleitores mas não consegue produzir um BI (Bilhete de Identidade) para cada cidadão. Perceber como trapaça incapacidades várias é outra incapacidade. Para não lhe chamar miopia e arrogância.
A mesma transparência acrescida à clarividência facilmente poderiam deixar perceber que quem escolhe os eleitos para as assembleias são os cidadãos, por mérito ou demérito dos partidos que os escolheram. O autismo dos pirómanos da CNE, ofuscados pelas mordomias de que estão rodeados, fez-lhes perder de vista os objectivos últimos de uma eleição. E que faz debitar a jusante conspirações e golpes de secretaria que acabam por chamar à colação personalidades e instituições que deveriam estar acima de qualquer suspeição.
Positivamente, espero que o Conselho Constitucional, não obstante o zelo excessivo acusado nas deliberações sobre os candidatos presidenciais, saiba emendar a mão à CNE, abrindo a porta a soluções que a obstinação dos comissários da CNE e os seus doutos jurisconsultos não quiseram ou souberam acolher.
A distância que nos separa da fantochada não é muita.
O descrédito está mesmo ao dobrar da esquina.
Fonte: SAVANA (Sexta, 11 Setembro 2009)
Por Fernando Lima
Perguntam-me do exterior se terá sido avisado “excluir” a “terceira força política do país” das próximas eleições legislativas.
Os sublinhados são meus e correspondem a outras tantas inverdades das labaredas que os pirómanos instalados na CNE (Comissão Nacional de Eleições) decidiram atear quando faltam menos de dois meses para irmos a votos.
Afinal, não foi apenas o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) que foi parcialmente chumbado na maioria dos círculos eleitorais e, como nunca disputou eleições, o título de terceira força é… politicamente assinalável, mas precisa de ser testado a 28 de Outubro.
De qualquer forma é assim que foi interpretada a decisão da CNE de excluir, total ou parcialmente, 27 formações políticas moçambicanas das próximas eleições.
E é importante a CNE ter a noção de percepções em terreno movediço como são a preparação das eleições. Não é por acaso que a Renamo, o maior partido da oposição, concentra parte das suas energias, no combate ao que percebe como sendo uma fonte de manipulação e roubo da sua verdadeira expressão política em democracia representativa. Os rios de dinheiro gastos em recenseamentos de raiz são uma das faces mais ilustrativas da desconfiança permanente perante os homens que se abrigam em instalações de triste memória: antes e depois da independência.
Publicamente, a CNE e o seu braço técnico apenas gozam do apoio tácito da Frelimo. É natural, pois é o único partido que somou sempre vitórias nas disputas multipartidárias realizadas após 1992.
Porém, o cenário poderia ser diferente.
E no caso vertente, se cada um dos comissários escrevesse naqueles papelinhos amarelos de tampo de secretária, a palavra transparência, tínhamos meio caminho andado para eliminar a crise em que, mais uma vez, estamos envolvidos.
Não me parece um tratado de física nuclear, tornar públicos os motivos de exclusão de listas e candidatos. Da mesma forma que devia ser pela positiva, toda a aproximação aos partidos políticos para superarem as deficiências da sua documentação. Temos um país real que consegue dar cartão de recenseamento a 9,5 milhões de eleitores mas não consegue produzir um BI (Bilhete de Identidade) para cada cidadão. Perceber como trapaça incapacidades várias é outra incapacidade. Para não lhe chamar miopia e arrogância.
A mesma transparência acrescida à clarividência facilmente poderiam deixar perceber que quem escolhe os eleitos para as assembleias são os cidadãos, por mérito ou demérito dos partidos que os escolheram. O autismo dos pirómanos da CNE, ofuscados pelas mordomias de que estão rodeados, fez-lhes perder de vista os objectivos últimos de uma eleição. E que faz debitar a jusante conspirações e golpes de secretaria que acabam por chamar à colação personalidades e instituições que deveriam estar acima de qualquer suspeição.
Positivamente, espero que o Conselho Constitucional, não obstante o zelo excessivo acusado nas deliberações sobre os candidatos presidenciais, saiba emendar a mão à CNE, abrindo a porta a soluções que a obstinação dos comissários da CNE e os seus doutos jurisconsultos não quiseram ou souberam acolher.
A distância que nos separa da fantochada não é muita.
O descrédito está mesmo ao dobrar da esquina.
Fonte: SAVANA (Sexta, 11 Setembro 2009)
1 comentário:
"A distância que nos separa da fantochada não é muita."
Será?
Penso ser zero, 0, logo...
neste momento, ser uma autêntica
FANTOCHADA.
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