A juventude moçambicana, sobretudo o Parlamento Juvenil, órgão o qual eu duvidei da sua existência e dos seus objectivos, acaba de obter uma vitória moral, ao conseguir desviar a Lei do Serviço Militar da promulgação pelo Chefe do Estado para o Conselho Constitucional, com vista à fiscalização preventiva da sua constitucionalidade.
Temos de reconhecer que, se não tivesse sido o Parlamento Juvenil, esta lei teria sido, tal como foi aprovada, promulgada. O facto de ter sido remetido ao Conselho Constitucional, mesmo que depois se julgue não haver inconstitucionalidade, é, sem dúvida, uma dupla vitória para a juventude e uma bofetada para os deputados que a aprovaram, mesmo perante estas penumbras. Dupla vitória porque esta juventude conseguiu contrariar o interesse obsceno de um grupinho de deputados por nós eleitos para nos representar.
O Parlamento Juvenil trouxe aquilo que, nós jovens, há bastante tempo precisávamos: um órgão juvenil que lutasse pelos nossos interesses, já que o Conselho Nacional da Juventude transformou-se num campo de batalhas políticas e de preparação dos “politicamente correctos”.
Hoje, vimos a emergência de uma juventude ávida de se libertar das amarras políticas e de disciplinas partidárias. Uma juventude que procura uma nova forma de ser e de estar; que procura, igualmente, estar no campo de independências partidárias. Oxalá que o Parlamento Juvenil continue a andar por este caminho, distanciando-se dos interesses de quaisquer partidos políticos. Sei que não será fácil, mas, conforme escrevi numa dessas colunas, temos de acabar com a instrumentalização política da juventude. A juventude tem de passar a ser dona dela mesma. Temos de obrigar os candidatos às eleições a negociarem acordos connosco. Temos de decidir o que nós queremos e como queremos. Não podemos continuar a ser úteis em períodos eleitorais e descartáveis após o processo.
Tal como disse António Frangoulis, num evento do Parlamento Juvenil, citado pelo Jornal Zambeze, também julgo que “não existe nenhum herói ético que não tenha sido rebelde”. Nesta procissão, muito se vai dizer da juventude que se posicionar contra interesses políticos e dos que a apoiam. Aliás, alguns já defendem que os que criticam o Governo são “frustrados”, “politicamente alienados”, entre outros adjectivos. Isso não é verdade. O que há é vontade de a juventude assumir, de uma vez por todas, o seu papel como o presente e o futuro deste país. Basta de discursos políticos do tipo “a juventude é o futuro da nação”. Esta já é futuro da nação há mais de 20 anos. Quando vai ser presente?
Precisamos de criar um país modelo em que os nossos dirigentes não se enriqueçam, ilicitamente, em nome de libertadores da pátria. Devemos fazer com que os nossos representantes não tomem decisões que os convém, que nos instrumentalizam. A aprovação, mesmo contra a vontade da juventude, da Lei do Serviço Militar, o qual condiciona o acesso ao emprego ao jovem que não tenha cumprido o serviço militar, é um dos exemplos do que um ministro que esteja dentro das suas faculdades não pode anuir.
Um dos leitores do meu artigo, intitulado “Juventude a MC Roger é perigosíssima” emitiu um comentário interessante que passo a citar algumas partes: “trata-se da minha geração que está passando o testemunho aos mais novos. Trata-se de uma faixa etária experiente, que se esconde com subtileza, para não aparecer no difícil calvário de assumir culpas. De forma simplista, a minha geração condena a juventude, atribuindo todos os pecados possíveis, mas não avança, um dedinho, para abrir alas e dar espaço à juventude. Diz-se que ela, a juventude, deve conquistar o seu espaço – o que não deixa de ser verdade – mas a amplitude dos problemas dos jovens passam pela cedência de uma série de chaves-mestre.
Em 1964 aquando do início da luta armada de libertação nacional, em todas as famílias, não havia o culto pela MENTIRA, todas as pessoas eram educadas na base da VERDADE. Não estou dizendo que não se mentia, estou sim a dizer que a mentira era imediatamente decifrada. A juventude daquela época era educada a sacrificar-se para ter algo, procurar caminhos revestidos com certa dignidade para chegar longe. A Verdade imperava na rua, em casa, na igreja, no mercado. Qualquer espécie de mentira era combatida pela sociedade. Foi assim que se identificou o colonialismo como um mentiroso que nos dizia ter descoberto, que éramos Província Ultramarina, que tínhamos que adorar o Deus europeu, etc. Por isso, galvanizados pela VERDADE, vencemos o impositor europeu.
Em 1977 éramos verticais, obedecendo a verdade em toda a sua dimensão, contra tudo e todos, e embarcamos para o Socialismo. Não quero deixar a impressão de que se tivéssemos embarcado pelo Capitalismo deixaríamos de ser verdadeiros, nada disso, podíamos ser capitalistas mas dentro dos paradigmas da VERDADE. As carências eram tais que mesmo assim havia coesão na sociedade. A minha geração começou a fraquejar, fustigada de todos os cantos, precisando de ser rica. A minha geração não explicou, devidamente, aos seus descendentes o que houve, e o que estava acontecer. Isso significa que começámos a venerar a mentira no lugar da verdade. Construir, em famílias de destaque, o OCULTISMO. Na sociedade, há famílias de referência para copiar, servir de modelo, mas o erro, o desvio, o corta-mato estava sendo pregado em famílias de cópia. Em 1984 entrámos numa situação em que não se respeitava a Constituição da República, mas também não havia problemas, não invocava-se à sua violação, não se combatiam nem eram desencorajados os actos contrários aos estabelecidos. Os juristas encontraram um elegante termo para tapar a vergonha, e chamaram de Constituição Intercalar. Na Constituição estava escrita uma coisa e o comportamento na sociedade, em gente nobre, era totalmente diferente, incaracterístico. Desta lacuna nasceu a pequena burguesia que temos em Moçambique. Foi mais uma etapa de esperteza e sorte do que de dedicação, trabalho e inteligência. Não explicámos devidamente a juventude, como ficámos ricos de dia para noite, onde arranjamos dinheiro de ontem para hoje. .
Hoje, queremos uma juventude íntegra que não lambe-botas, que não é corrupta, que não faz cábula nos exames, que é patriota, etc. etc. etc. Bonito apreciar esta fuga para frente. Eu, pessoalmente, tenho filhos jovens que me fazem perguntas difíceis de responder, porque me embaraçam, muitas delas me envergonham. Pode-se compreender que eu não sou rico, não tenho nada, fiel aos regulamentos e sem mudar de estilo, meus filhos me condenam pela pobreza na família. Na VII Conferência de Quadros, na Matola, levei para lá os meus manuais do Partido e em fórum próprio coloquei algumas das perguntas dos meus filhos. Não tive resposta dos camaradas que faziam parte do meu grupo. Coloquei também, só para me aliviar moralmente, e criar uma situação de que procurei apoio em gente com quem partilho a vida desde que estámos livres do colono, mas não encontrei resposta, não haverá resposta. Ora, para a juventude isso constitui fraude de testemunho, fraude no cumprimento da lealdade humana de pai para filho. Pelas carências, meus filhos correm o risco de terem, no MCRoger, o melhor protótipo de cópia...
Peguemos num pequeno pormenor: Não são os jovens que falsificam documentos, como tendo sido Antigos Combatentes da Luta de Libertação Nacional. E isto não devia acontecer, nem seria assunto para ser exibido à juventude. FIZEMOS!!! Um descuido, que começou por favorecer quem nunca pegou em arma, multiplicou- se negativamente em vários quadrantes do nosso país... Roubar um bem público, apropriar-se de coisa alheia, servir-se de oportunidade sem pudor ficou PROCEDIMENTO NORMAL. Situações ilícitas, vergonhosas multiplicaram- se pelo país, a partir duma geração que tinha a obrigação de evitar... Por isso, caros compatriotas, MCRoger é cópia visível de um velho escondido em alguma gravata. A imagem do músico é replicável na geração, onde supostamente, devia ir buscar conselhos. Não estou encorajando que seja a melhor via, não estou dizendo que assim estamos bem NÃO, NUNCA, estou simplesmente a trazer um conjunto de dados para todos compreendermo-nos, que a espelhada degradação de valores, e visível na juventude deve ser corrigida na geração imediatamente superior. Porque em Chókwe e em Cheringoma não foram constituídos espécie de Congressos das duas gerações (geração dos pais e geração dos filhos), para analisar o futuro da juventude em conjunto???”, fim da citação...
Fonte: O País online
Nota: Concordo contigo Mabunda, mesmo a juventude 8 de Marco foi rebelde, alguns jovens ficaram a fazer rebeldia nas cidades nos seus postos de trabalho e outros foram fazer guerra. Claro, chegou um momento que dividiu os jovens, pois os não rebeldes ficaram ricos do dia para noite e os rebeldes foram marginalizados. Mas uma questão é de como seria enriquecer ilicitamente todos os jovens que fossem passivos?
Temos de reconhecer que, se não tivesse sido o Parlamento Juvenil, esta lei teria sido, tal como foi aprovada, promulgada. O facto de ter sido remetido ao Conselho Constitucional, mesmo que depois se julgue não haver inconstitucionalidade, é, sem dúvida, uma dupla vitória para a juventude e uma bofetada para os deputados que a aprovaram, mesmo perante estas penumbras. Dupla vitória porque esta juventude conseguiu contrariar o interesse obsceno de um grupinho de deputados por nós eleitos para nos representar.
O Parlamento Juvenil trouxe aquilo que, nós jovens, há bastante tempo precisávamos: um órgão juvenil que lutasse pelos nossos interesses, já que o Conselho Nacional da Juventude transformou-se num campo de batalhas políticas e de preparação dos “politicamente correctos”.
Hoje, vimos a emergência de uma juventude ávida de se libertar das amarras políticas e de disciplinas partidárias. Uma juventude que procura uma nova forma de ser e de estar; que procura, igualmente, estar no campo de independências partidárias. Oxalá que o Parlamento Juvenil continue a andar por este caminho, distanciando-se dos interesses de quaisquer partidos políticos. Sei que não será fácil, mas, conforme escrevi numa dessas colunas, temos de acabar com a instrumentalização política da juventude. A juventude tem de passar a ser dona dela mesma. Temos de obrigar os candidatos às eleições a negociarem acordos connosco. Temos de decidir o que nós queremos e como queremos. Não podemos continuar a ser úteis em períodos eleitorais e descartáveis após o processo.
Tal como disse António Frangoulis, num evento do Parlamento Juvenil, citado pelo Jornal Zambeze, também julgo que “não existe nenhum herói ético que não tenha sido rebelde”. Nesta procissão, muito se vai dizer da juventude que se posicionar contra interesses políticos e dos que a apoiam. Aliás, alguns já defendem que os que criticam o Governo são “frustrados”, “politicamente alienados”, entre outros adjectivos. Isso não é verdade. O que há é vontade de a juventude assumir, de uma vez por todas, o seu papel como o presente e o futuro deste país. Basta de discursos políticos do tipo “a juventude é o futuro da nação”. Esta já é futuro da nação há mais de 20 anos. Quando vai ser presente?
Precisamos de criar um país modelo em que os nossos dirigentes não se enriqueçam, ilicitamente, em nome de libertadores da pátria. Devemos fazer com que os nossos representantes não tomem decisões que os convém, que nos instrumentalizam. A aprovação, mesmo contra a vontade da juventude, da Lei do Serviço Militar, o qual condiciona o acesso ao emprego ao jovem que não tenha cumprido o serviço militar, é um dos exemplos do que um ministro que esteja dentro das suas faculdades não pode anuir.
Um dos leitores do meu artigo, intitulado “Juventude a MC Roger é perigosíssima” emitiu um comentário interessante que passo a citar algumas partes: “trata-se da minha geração que está passando o testemunho aos mais novos. Trata-se de uma faixa etária experiente, que se esconde com subtileza, para não aparecer no difícil calvário de assumir culpas. De forma simplista, a minha geração condena a juventude, atribuindo todos os pecados possíveis, mas não avança, um dedinho, para abrir alas e dar espaço à juventude. Diz-se que ela, a juventude, deve conquistar o seu espaço – o que não deixa de ser verdade – mas a amplitude dos problemas dos jovens passam pela cedência de uma série de chaves-mestre.
Em 1964 aquando do início da luta armada de libertação nacional, em todas as famílias, não havia o culto pela MENTIRA, todas as pessoas eram educadas na base da VERDADE. Não estou dizendo que não se mentia, estou sim a dizer que a mentira era imediatamente decifrada. A juventude daquela época era educada a sacrificar-se para ter algo, procurar caminhos revestidos com certa dignidade para chegar longe. A Verdade imperava na rua, em casa, na igreja, no mercado. Qualquer espécie de mentira era combatida pela sociedade. Foi assim que se identificou o colonialismo como um mentiroso que nos dizia ter descoberto, que éramos Província Ultramarina, que tínhamos que adorar o Deus europeu, etc. Por isso, galvanizados pela VERDADE, vencemos o impositor europeu.
Em 1977 éramos verticais, obedecendo a verdade em toda a sua dimensão, contra tudo e todos, e embarcamos para o Socialismo. Não quero deixar a impressão de que se tivéssemos embarcado pelo Capitalismo deixaríamos de ser verdadeiros, nada disso, podíamos ser capitalistas mas dentro dos paradigmas da VERDADE. As carências eram tais que mesmo assim havia coesão na sociedade. A minha geração começou a fraquejar, fustigada de todos os cantos, precisando de ser rica. A minha geração não explicou, devidamente, aos seus descendentes o que houve, e o que estava acontecer. Isso significa que começámos a venerar a mentira no lugar da verdade. Construir, em famílias de destaque, o OCULTISMO. Na sociedade, há famílias de referência para copiar, servir de modelo, mas o erro, o desvio, o corta-mato estava sendo pregado em famílias de cópia. Em 1984 entrámos numa situação em que não se respeitava a Constituição da República, mas também não havia problemas, não invocava-se à sua violação, não se combatiam nem eram desencorajados os actos contrários aos estabelecidos. Os juristas encontraram um elegante termo para tapar a vergonha, e chamaram de Constituição Intercalar. Na Constituição estava escrita uma coisa e o comportamento na sociedade, em gente nobre, era totalmente diferente, incaracterístico. Desta lacuna nasceu a pequena burguesia que temos em Moçambique. Foi mais uma etapa de esperteza e sorte do que de dedicação, trabalho e inteligência. Não explicámos devidamente a juventude, como ficámos ricos de dia para noite, onde arranjamos dinheiro de ontem para hoje. .
Hoje, queremos uma juventude íntegra que não lambe-botas, que não é corrupta, que não faz cábula nos exames, que é patriota, etc. etc. etc. Bonito apreciar esta fuga para frente. Eu, pessoalmente, tenho filhos jovens que me fazem perguntas difíceis de responder, porque me embaraçam, muitas delas me envergonham. Pode-se compreender que eu não sou rico, não tenho nada, fiel aos regulamentos e sem mudar de estilo, meus filhos me condenam pela pobreza na família. Na VII Conferência de Quadros, na Matola, levei para lá os meus manuais do Partido e em fórum próprio coloquei algumas das perguntas dos meus filhos. Não tive resposta dos camaradas que faziam parte do meu grupo. Coloquei também, só para me aliviar moralmente, e criar uma situação de que procurei apoio em gente com quem partilho a vida desde que estámos livres do colono, mas não encontrei resposta, não haverá resposta. Ora, para a juventude isso constitui fraude de testemunho, fraude no cumprimento da lealdade humana de pai para filho. Pelas carências, meus filhos correm o risco de terem, no MCRoger, o melhor protótipo de cópia...
Peguemos num pequeno pormenor: Não são os jovens que falsificam documentos, como tendo sido Antigos Combatentes da Luta de Libertação Nacional. E isto não devia acontecer, nem seria assunto para ser exibido à juventude. FIZEMOS!!! Um descuido, que começou por favorecer quem nunca pegou em arma, multiplicou- se negativamente em vários quadrantes do nosso país... Roubar um bem público, apropriar-se de coisa alheia, servir-se de oportunidade sem pudor ficou PROCEDIMENTO NORMAL. Situações ilícitas, vergonhosas multiplicaram- se pelo país, a partir duma geração que tinha a obrigação de evitar... Por isso, caros compatriotas, MCRoger é cópia visível de um velho escondido em alguma gravata. A imagem do músico é replicável na geração, onde supostamente, devia ir buscar conselhos. Não estou encorajando que seja a melhor via, não estou dizendo que assim estamos bem NÃO, NUNCA, estou simplesmente a trazer um conjunto de dados para todos compreendermo-nos, que a espelhada degradação de valores, e visível na juventude deve ser corrigida na geração imediatamente superior. Porque em Chókwe e em Cheringoma não foram constituídos espécie de Congressos das duas gerações (geração dos pais e geração dos filhos), para analisar o futuro da juventude em conjunto???”, fim da citação...
Fonte: O País online
Nota: Concordo contigo Mabunda, mesmo a juventude 8 de Marco foi rebelde, alguns jovens ficaram a fazer rebeldia nas cidades nos seus postos de trabalho e outros foram fazer guerra. Claro, chegou um momento que dividiu os jovens, pois os não rebeldes ficaram ricos do dia para noite e os rebeldes foram marginalizados. Mas uma questão é de como seria enriquecer ilicitamente todos os jovens que fossem passivos?
1 comentário:
Grane artigo. Um artigo, diga-se, para tirar ilações.
Abraços
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