O canal televisivo moçambicano STV mostrou 13 corpos em decomposição no distrito de Macossa, centro de Moçambique, confirmando a existência de cadáveres abandonados junto à principal estrada do país.
Segundo a edição de hoje do jornal O País, pertencente ao mesmo grupo da STV, nove dos 13 corpos estão debaixo da ponte sobre o rio Piro e quatro encontram-se próximos do rio, em Macossa, província de Manica, a apenas três quilómetros do distrito de Gorongosa, na província de Sofala.
No sábado, jornalistas de vários órgãos de comunicação social, incluindo a Lusa, testemunharam e fotografaram 15 corpos espalhados no mato, no distrito de Gorongosa, nas proximidades de uma suposta vala comum denunciada por camponeses, cujo acesso está vigiado por militares.
Dos 15 corpos encontrados, quatro foram largados numa pequena savana, a cerca de 200 metros do cruzamento de Macossa para o interior, e os outros foram deixados debaixo de uma ponte próxima da Nacional 1, a principal estrada de Moçambique.
O local onde foram depositados estes corpos fica a seguir à ponte sobre o rio Muare, no sentido Gorongosa-Caia, e onde se tem feito, ainda que de forma tímida, extracção ilegal de ouro.
As zonas apontadas quer pela Lusa quer agora pela STV ficam muito próximas, no limite das fronteiras entre os distritos de Gorongosa e Macossa e também entre as províncias de Sofala e Manica. Dada a grande proximidade dos locais referidos, as descobertas dos órgãos de comunicação social poderão envolver os mesmos corpos.
Entretanto, vários jornalistas acompanharam uma delegação do distrito de Gorongosa para averiguar a existência de corpos abandonados na sua área da sua jurisdição mas não descobriram nada.
Confrontado com a revelação da STV no distrito vizinho de Macossa, o administrador de Gorongosa, Manuel Jamaca, disse tratar-se de "um cenário bastante triste", acreditando que aquelas pessoas foram mortas noutro local.
"Tenho a convicção de que estas pessoas não foram mortas neste local. É uma zona residencial e os camponeses, aqui residentes, ter-nos-iam informado, caso se tivessem apercebido de movimentos estranhos", disse Manuel Jamaca à STV e ao O País.
A primeira descoberta de corpos abandonados naquela região do país foi divulgada pela Lusa no sábado, numa zona próxima do local onde camponeses alegam ter visto uma vala comum com mais de cem cadáveres.
Em conferência de imprensa realizada na terça-feira, a Polícia da República de Moçambique (PRM) disse que não encontrou provas da existência de corpos abandonados na Gorongosa.
Os 15 cadáveres encontrados pelo grupo de jornalistas em que se incluía a Lusa são de mulheres e homens jovens, uns deixados recentemente no lugar e outros sem roupas, e já parcialmente consumidos por animais necrófagos.
Quanto à vala comum principal, segundo os camponeses, localiza-se na zona 76, entre Muare e Tropa, no posto administrativo de Canda, distrito da Gorongosa, uma região que se mantém sob vigilância de militares e da polícia e que tem sido marcada por confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).
As autoridades locais desmentiram na sexta-feira passada a existência da vala comum, antes da divulgação das imagens dos corpos encontrados nas suas imediações.
Mas as testemunhas reiteram a sua versão. "É verdade, vimos os corpos", afirmou um dos camponeses, que não se quis identificar, contando que o grupo em que seguia foi atraído pelo forte cheiro de putrefacção exalado pelos cadáveres.
A Comissão de Direitos Humanos de Moçambique quer apurar a veracidade dos relatos, adiantado que, a confirmarem-se, é um caso "muito preocupante" e instando o Ministério Público a investigar.
O Escritório do Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos informou na quarta-feira estar em contacto com as autoridades moçambicanas para aceder à zona onde se encontram os corpos abandonados.
Fonte: LUSA – 05.05.2016
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