Na semana ante-passada, ficámos a saber que o grupo de doadores que apoiam o Orçamento de Estado, oficialmente conhecidos como Parceiros de Apoio Programático, suspenderam a ajuda financeira ao Governo de Moçambique.
Esta decisão vem juntar-se à do Fundo Monetário Internacional, do Banco Mundial e do Reino Unido, que, depois de ter sido destapado o escândalo das dívidas ocultas, acharam por bem parar de dar dinheiro a uma governação dedicada à extravagância financeira.
Nós saudamos com vigor a decisão dos doadores. Na nossa opinião, tal decisão só peca por ser tardia, pois avisámos, neste mesmo espaço, que há muito que os doadores, em nome da “ajuda”, estavam a financiar a militarização do Governo da Frelimo e, consequentemente, a liquidação da democracia.
Até aqui, pelo que se sabe, todos os largos milhões de dólares foram usados em actividades pouco claras, entre as quais pontifica a aquisição de armas e meios de repressão, enquanto a outra parte do dinheiro serviu para a criação de empresas e para o enriquecimento da habitual matilha predadora, que se outorgou o poder supremo sobre Moçambique e sobre os moçambicanos.
Não faltaram avisos à comunidade internacional de que estava a financiar e a acarinhar monstros que, de há um tempo para cá, dedicava-se ao canibalismo sobre o povo e a uma agenda insana de destruição. Foi preciso que a insanidade da matilha predadora e o seu voraz apetite pelo dinheiro atingisse níveis inimagináveis para que os doadores acordassem.
Mais vale tarde do que nunca, lá diz o adágio popular. Mas a questão que ainda se deve colocar é: por que é que, com todos os avisos servidos, os doadores permitiram que as coisas chegassem ao ponto a que chegaram? Têm os doadores quota-parte de responsabilidade perante o caos em que estes senhores mergulharam um país inteiro?
Há muito que os doadores sabiam que em Moçambique não havia nenhuma agenda de luta contra a pobreza, mas, sim, de enriquecimento absoluto de certos grupos. Os doadores sabiam que tal riqueza absoluta estava a ser criada com os dinheiros dos contribuintes nacionais e dos seus países, que acreditavam que estavam a ajudar o povo moçambicano.
Os doadores assistiram, aqui, ao apetrechamento da Polícia, que depois foi usada na “vitória” eleitoral “arrancada” e, mais tarde, para a perseguir e matar os opositores políticos. Sabiam disto tudo e, mesmo assim, decidiram tomar posição contra o povo moçambicano e contra Moçambique, mantendo o financiamento a um grupo de criminosos.
As armas que foram usadas em Zimpinga na tentativa de assassinato de Afonso Dhlakama foram compradas com o dinheiro dos doadores. Também os fundos de compensação àqueles criminosos que dali saíram vivos são da comunidade internacional. É o mesmo dinheiro que é usado para compensar os esquadrões da morte. Os doadores sabem disso tudo. Por que é que não pararam com o financiamento destas actividades terroristas, só os doadores nos podem dizer.
Qual é a diferença que existe entre financiar as actividades do grupo terrorista designado “Estado Islâmico”, que decapita pessoas, e financiar um grupo que mata a população e lança os corpos para uma vala comum? Se o Ocidente se arrepia com as imagens das atrocidades cometidas pelo grupo designado “Estado Islâmico”, achamos nós que devia arrepiar-se também com os milhares de irmãos nossos que foram e estão sendo mortos por serem simpatizantes de um partido diferente do partido dos criminosos. A única diferença, aqui, é que o grupo “Estado Islâmico” que actua em Moçambique foi criado e equipado com o dinheiro do Ocidente (embora, em rigor, ainda esteja por apurar devidamente qual o papel da mão do Ocidente na criação do grupo terrorista internacional baptizado como “Estado Islâmico”).
Se a comunidade internacional quer sair disto tudo com alguma dignidade, mais do que suspender a ajuda, deve exigir responsabilização. Ajudar é responsabilidade. O facto de Armando ter colocado uma sobrinha na Procuradoria e um sobrinho no Tribunal Supremo e um amigo de infância no Tribunal Administrativo deve ser um mote para a responsabilização começar. Todo este esquema de administração familiar da Justiça tinha como finalidade bloquear qualquer tipo de responsabilização.
Nem mesmo as promessas de Nyusi de “desinfectar a casa” nos devem hipnotizar. “Desinfectar” significa matar todas as bactérias. Ora, uma das bactérias nesta pandemia da dívida é também Filipe Nyusi, que subscreveu as facturas em nome do Ministério da Defesa, onde era ministro. Se a acção de “desinfectar a casa” significa limpar todas as bactérias, estamos perante um caso de promessa de suicídio político. Nós não acreditamos que Nyusi pretenda envenenar-se e morrer politicamente juntamente com as outras bactérias, pelo que este palavreado de promessas não nos deve desconcentrar na exigência da responsabilização. E os doadores têm aqui uma grande responsabilidade para repararem os danos que já causaram a este povo ao financiarem os seus carrascos.
(Editorial, Canal de Moçambique, Canamoz - 12.05.2016 )
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