As gerações mais novas de moçambicanos parecem ter esquecido o sofrimento causado pela guerra entre Renamo e Frelimo, mas os antigos combatentes não querem regressar ao conflito, afirmou hoje (quinta-feira) autor dum livro sobre os 15 anos de confronto armado.
Numa reflexão sobre o legado actual daquele período, o académico norte-americano, entrevistado pela agência Lusa, disse que "as pessoas que lutaram na guerra sabem o custo
"Desse ponto de vista, essa geração é bastante adversa e está preocupada com o que acontece", defendeu Stephen A. Emerson, explicando que a impressão que retirou durante as entrevistas e trabalho de campo que realizou, e que o preocupa, "tem a ver com a geração mais nova, que não está consciente desse legado".
É para esse exercício de memória que espera contribuir com o livro editado em inglês, intitulado "A Batalha por Moçambique: A Luta Frelimo-Renamo 1977-1992", o qual elaborou após mais de uma década de investigação, incluindo entrevistas com membros dos dois movimentos e informações dos arquivos militares da antiga Rodésia (actual Zimbabwe) até agora desconhecida.
Numa mesa redonda ontem (quinta-feira) no Instituto Real de Relações Internacionais (Chatham House), Emerson, que também trabalhou como analista de informação para o Ministério da Defesa dos EUA e outras organizações, afirmou que um dos objectivos foi desfazer alguns mitos.
Uma das questões que tentou clarificar no livro foi o envolvimento dos Serviços Secretos da Rodésia na criação da Renamo e o alegado envolvimento dos Flechas, um grupo de antigos operacionais da polícia política portuguesa, a Direcção-Geral de Segurança (PIDE/DGS).
"Uma parte era narrativa da Frelimo para retratar a Renamo como conservadores", explicou, referindo que muitos dos membros iniciais eram precisamente antigos membros do movimento rival.
Grande parte do livro centra-se nas movimentações militares e operacionais dos dois lados e no fracasso tanto da Renamo como da Frelimo em vencer a guerra, que acabou, em sua opinião, devido a diversos factores: um país dizimado, guerrilheiros cansados do conflito, pressão dos líderes religiosos e "uma janela de oportunidade aberta pelo fim da Guerra Fria e pelo colapso da União Soviética".
Stephen Emerson espera que o livro mostre às novas gerações de moçambicanos "o que os seus pais e ou avós passaram, para não tomarem por garantido o que têm, e que percebam que é preciso fazer cedências e alcançar compromissos".
"É uma estratégia melhor, com melhores resultados do que recorrer à violência e conflito", concluiu.
Fonte: Rádio Mocambique - 31.01.2014
Sem comentários:
Enviar um comentário