domingo, maio 06, 2012

‘MINÉRIOS NÃO MATAM FOME’ – FIRMINO MUCAVELE

Maputo, 6 Mai (AIM) – O economista moçambicano Firmino Mucavele considera que, mesmo com o desenvolvimento da indústria de mineração, Moçambique não irá a lado nenhum se não apostar na agricultura.


Citado num longo artigo publicado na semana passada pela Rádio Moçambique, a emissora pública nacional, Mucavele disse que os recursos minerais acabam, não matam a fome e os recursos provenientes da sua exploração não garantem segurança alimentar.

Segundo Mucavele, “70-80 por cento do investimento em recursos minerais é estrangeiro e dos retornos só 20 por cento ficam em Moçambique”.

Mucavele, economista, foi recentemente distinguido pela Nova Parceria para o Desenvolvimento de África (NEPAD), em reconhecimento dos seus esforços para o desenvolvimento da agricultura do continente.

“(os recursos minerais) não vão servir para combater a pobreza. Apenas contribuirão para a imagem do país, sem representar solução para a segurança alimentar, nem para o nosso desenvolvimento com sustentabilidade”, acrescentou ele.

A semelhança do que muitos sugerem, Mucavele defende reformas profundas ao sector agrário em Moçambique, com adopção de uma estratégia pragmática e realísticas capaz de transformar a agricultura de subsistência em comercial.

A fonte considera que o país só irá ter uma agricultura com elevados níveis de produção e de produtividade e que contribua para o desenvolvimento dos outros sectores quando apostar na agricultura comercial, com pequenas e médias empresas.

Mas em Moçambique não existe articulação entre as diferentes cadeias de valores e as políticas e acções definidas para os diversos sectores de desenvolvimento denotam falta de harmonia e congruência.

“Em consequência, nenhuma acção ou política tem sucesso. Se há financiamento de semente, não há financiamento de transporte nem de armazenamento. Se há uma linha férrea, não há agro-processamento. Não há ligação entre a produção, processamento, armazenamento e distribuição”, disse Mucavele.

Outro problema apontado por Mucavele prende-se com a fraca investigação e a falta de ligação entre esta e a extensão e inovação. Este problema está ligado a falta de investimento nessa componente e a não valorização do potencial dos poucos quadros formados existentes no país.

Para ilustrar a gritante falta de quadros, Mucavele apontou a existência de apenas 800 técnicos de extensão rural, um número que tem de atender cerca de 800 mil quilómetros quadrados e cerca de 36 milhões de hectares de terra arável.

A contrastar essa situação, no Malawi, por exemplo, há 10 anos, existiam 3.150 extensionistas e a Swazilândia 2.300, isso quando o primeiro (Malawi) tem uma superfície de apenas 118.484 quilómetros quadrados, e a Suazilândia tem apenas 17.364.

No âmbito do programa de desenvolvimento agrícola, PESA, Moçambique projecta atingir um máximo de seis a oito mil extensionistas, mas, mesmo assim, o número continuará muito abaixo das necessidades.

Igualmente, o académico apontou o problema relacionado com o excesso de planos e estratégias que, na verdade, a sua implementação nunca chega ao fim.

“Não estaríamos a inventar a roda! A União Europeia, por exemplo, durante 50 anos seguiu as mesmas políticas. De políticas temos uma riqueza inesgotável. Precisamos é de pegar em algumas delas e implementá-las, juntando a teoria à prática”, disse ele.
(AIM)
MM/DT

Fonte: AIM - 06.05.2012

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