Todos nós conhecemos a histórica opacidade do
aparato estatal desenvolvido pela Frelimo, enquanto força política única no
controlo dos misteres governamentais há 37 anos.
Também sabemos da grande cambalhota que a maior parte dos seus dirigentes teve que fazer para se adaptar à convivência multipartidária decorrente dos conflitos internos e da Constituição aprovada em 1990.
Por isso que democracia, pluralismo e transparência são palavras que é mais
ou menos fácil pronunciar, mas cuja prática continua muito aquém do que seria
de esperar, mesmo que este ano celebremos 20 anos de Paz.
A paranóia do secretismo, por oposição à transparência, continua a ser o
mote para a maior parte dos dirigentes estatais, mesmo que por vezes isso os
acabe por cobrir de ridículo. A obsessão em manter “secreto” o local do paiol
onde ocorreram as explosões que vitimaram uma centena de moçambicanos, foi
ridicularizada pelas fotos acessíveis em tempo real na internet através do
programa “Google Earth”. Ficou conhecido o boçalismo governamental quando
tentou “negociar” com os suecos a publicação de uma auditoria às bolsas
concedidas a Moçambique, decorrente do direito que todos os Nórdicos têm em
saber como é gasto cada centavo desembolsado na cooperação internacional.
Até agora ninguém sabe o que o Governo acordou com a Igreja Católica, num
documento que assinala o relacionamento institucional entre Moçambique e o
Vaticano, pós Concordata e o Acordo Missionário.
Por estes e muitos outros exemplos não deve deixar de ser saudada a decisão
governamental em aderir à Iniciativa de Transparência na Indústria Extractiva
(ITIE), um sector que promete, nos próximos anos, ser pródigo em dividendos
para o país e, por isso mesmo, à partida, motivo de inúmeras interrogações por
parte da opinião pública, já nesta altura muito céptica a expressões
politizadas e manipulativas do tipo “Cahora Bassa é nossa”.
Dos ecos que nos chegam de Quelimane, o local onde foi lançado o segundo
relatório da ITIE, há também muitas interrogações quanto às reais intenções em
de facto assegurar a maior transparência nas operações da indústria extractiva.
Eventualmente, pelos factos que emergiram do último relatório e que,
consubstanciam alguma da crítica que tem sido feita à forma como o Governo tem
negociado os grandes projectos.
A título de exemplo, os pagamentos feitos em 2009 pela indústria extractiva
representam apenas 2,3% do total das receitas do Estado para o mesmo ano. Mais
significativo, ao serem desagregadas as rubricas dos pagamentos efectuados,
descobre-se que dois terços dos desembolsos correspondem a retenções na fonte
dos impostos dos trabalhadores(25%) e descontos às empresas que prestam
serviços ao sector (42%). Daí resulta que a contribuição fiscal directa das
empresas extractivas equivale apenas a 1% da receita do Estado. Segundo uma
análise que publicamos nesta edição, a Sasol, por força dos acordos com o
Governo, acordos que são desconhecidos da opinião pública, pagou de IRPC
(imposto sobre rendimento) em 2009 o equivalente a USD 3600, o que equivale a
380 vezes menos que o que a contraparte moçambicana no projecto, a CMH
(Companhia Moçambicana de Hidrocarbonetos) pagou e esta apenas tem 25% do
projecto contra os 70% da Sasol.
Apesar de ser difícil o trabalho através dos números, podemos afirmar que
este é já um reflexo positivo de um tal relatório.
Não deixa contudo de ser preocupante, as referências que são feitas à sistemática obstaculização por parte do Governo em se conhecerem os regimes fiscais de que beneficiam as empresas do sector extractivo. Não admira que perante este posicionamento do Governo, das empresas inquiridas sobre a disponibilidade em publicitarem o seu regime fiscal, seis responderam favoravelmente, sete negativamente e 10 nem sequer se pronunciaram, não se sabendo também os nomes das entidades abrangidas pelas respostas.
Não deixa contudo de ser preocupante, as referências que são feitas à sistemática obstaculização por parte do Governo em se conhecerem os regimes fiscais de que beneficiam as empresas do sector extractivo. Não admira que perante este posicionamento do Governo, das empresas inquiridas sobre a disponibilidade em publicitarem o seu regime fiscal, seis responderam favoravelmente, sete negativamente e 10 nem sequer se pronunciaram, não se sabendo também os nomes das entidades abrangidas pelas respostas.
Esta posição governamental leva-nos a outra interrogação decorrente dos
gritantes conflitos de interesse patenteados pelos vários funcionários seniores
do Ministério dos Recursos Minerais envolvidos em empresas do sector, a começar
pelo próprio coordenador governamental na ITIE.
Costuma-se dizer que quem não deve, não teme, e esta tem que ser a posição
governamental na ITIE, para que, de facto, a intenção de adesão não seja apenas
o cumprir de agenda decorrente dos compromissos com as instituições de Bretton
Woods.
Caso contrário, estamos perante mais um exercício, idêntico ao dos
brasileiros perante os britânicos, a propósito da abolição da escravatura no
século XIX: Para inglês ver!
Fonte: SAVANA - 18.05.2012
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