Para o professor James Liebman e cinco dos seus estudantes que analisaram o caso nos últimos cinco anos, os eventos em Corpus Christi são “emblemáticos de um monumental falhanço do sistema de justiça”. Uma investigação incompleta, uma acusação leviana, um julgamento apressado, uma sentença irrevogável e a execução de um inocente – “Tudo o que podia correr mal correu mal neste caso”, resume o académico.
O crime aconteceu numa noite de Fevereiro de 1983. Avisada da presença de um homem perigoso empunhando uma faca, Wanda ligou para a polícia. Quando chegaram à estação, os agentes encontraram a mulher esfaqueada. Carlos De Luna foi detido 40 minutos mais tarde, com base na descrição da única testemunha ocular.
Para Liebman, a rapidez de todo o processo terá sido uma espécie de “compensação” pelo atraso na resposta à chamada de Wanda Lopez. “A polícia poderia ter evitado o homicídio e não o fez”, especula o professor.
Num artigo intitulado “Anatomia de uma Condenação Injusta”, o académico e a sua equipa reconstituíram todos os passos seguidos na investigação, acusação e julgamento. O que encontraram, escrevem, foi uma sucessão de “erros grosseiros e oportunidades perdidas que levaram as autoridades a acusar Carlos DeLuna por um crime cometido por outro indivíduo”. A sua investigação, de 780 páginas, está disponível na página da Columbia Human Rights Law Review desde ontem.
Segundo argumentam na revisão do caso, os sinais de que a polícia tinha prendido o homem errado eram evidentes desde o início. A testemunha que identificou um hispânico disse que o homem tinha bigode e barba de quinze dias, envergava uma camisa de flanela cinzenta e fugira em direcção a Norte; DeLuna foi detido a leste da estação de serviço, semi-nu (vestia uma camisa branca que foi encontrada sem uma única pinga de sangue) e com a cara barbeada.
Mais importante, notou a equipa de Columbia, o verdadeiro responsável pela morte de Wanda Lopez foi identificado por DeLuna aos seus advogados. Tratava-se de Carlos Hernandez, um homem violento, que andava armado com uma faca e com quem tinha estado num clube de striptease na noite do crime. Hernandez, de compleição física semelhante, entrara na estação de serviço para comprar cigarros. De Luna fugiu quando o viu a lutar com a funcionária.
No entanto, os advogados de defesa desvalorizaram o relato como uma “fantasia”, chegando mesmo a classificar Carlos Hernandez como “um fantasma”. Mas não só Hernandez existia, como era conhecido das autoridades, preso por vários roubos em lojas de conveniência e ataques com facas. Um detective de Corpus Christi soube, semanas depois do ataque, que Hernandez se gabava de ter matado Wanda Lopez. Depois de ter sido preso pelo homicídio de outra mulher, constatou-se que a faca era a mesma arma do crime na estação de serviço. Mas nenhum destes factos foi tido em conta na defesa e na condenação de Carlos DeLuna, que antes de ser executado por injecção letal em Dezembro de 1989, repetiu ao capelão da cadeia que o matavam por um crime que não cometera
Fonte: Rádio Mocambique - 16.05.2012
Sem comentários:
Enviar um comentário