O líder da UNITA, maior partido da oposição em Angola, Isaías Samakuva,
apelou hoje em Luanda aos angolanos para que não se deixem "enganar"
para que não haja "fraude" nas eleições previstas para setembro deste
ano.
Isaías Samakuva falava hoje para milhares de militantes da União Nacional
para a Independência Total de Angola (UNITA) que se deslocaram à Praça da
Família, junto do Largo da Independência, em Luanda, para participarem numa
manifestação "por mais transparência eleitoral".
Esta manifestação, que decorreu na capital angolana, Luanda, e em várias
capitais provinciais, tinha inicialmente sido convocada devido à ausência de
uma resposta do Tribunal Supremo a um recurso interposto pela UNITA,
contestando a nomeação de Suzana Inglês para presidente da Comissão Nacional
Eleitoral (CNE), que incorreu em várias ilegalidades.
Na quinta-feira, o Tribunal Supremo impugnou a nomeação de Suzana Inglês e
anulou o concurso público feito para a escolha de um presidente para a CNE,
contudo a manifestação teve hoje lugar, com vista a pedir transparência no
processo eleitoral.
"Eles continuam a violar a lei, se violam a lei assim o que é que nos
garante que no dia da votação vão fazê-la como está na lei, se eles não cumprem
com a lei, nada nos garante que no dia da votação tudo corra de acordo com a
lei", referiu Isaías Samakuva, várias vezes aplaudido pelos manifestantes,
na sua maioria jovens.
Para o líder da UNITA, o que se tem verificado até agora "apesar de
muitas discussões, de muito diálogo" é uma "tendência de fazer
eleições fraudulentas".
"A única forma de mudarmos esta situação é com o voto, já tentámos a
guerra, vimos que a guerra é só sofrimento. Então, não presta, concordamos
todos que agora é pela democracia, mas chegamos na democracia e há alguns
também que querem nos enganar, vamos aceitar?", questionou Samakuva.
Os receios da UNITA na condução deste processo eleitoral foram
exemplificados pelo líder com o caso Suzana Inglês, que considerou ser "a
ponta do icebergue" de várias irregularidades, o pedido, esta semana, de
levar à Assembleia Nacional uma proposta para alteração da Lei Eleitoral
aprovada em dezembro.
Segundo Isaías Samakuva, as propostas de alterações são relativas ao voto
nos quartéis e igualmente ao voto antecipado.
"Em 2008, houve votos nos quartéis e nos quartéis só entram militares
(...) pior ainda é que os votos feitos nos quartéis, depois ninguém mais sabe
deles, e quantos homens temos nas forças armadas? Não temos menos de 150 mil
homens (...) e esses votos sob as ordens do comandante em chefe das forças
armadas (Presidente José Eduardo dos Santos) pesa no cômputo geral. Então é
fraude", disse Samakuva, que inicialmente tinha um discurso escrito, mas
acabou por falar de improviso.
Ao lado do líder da UNITA estiveram vários dirigentes do partido, tendo
alguns deles também feito curtas intervenções.
Até ao final da manifestação, que contou com um contingente reforçado da
Polícia Nacional, não houve registo de nenhum incidente.
Fonte: RTP - 19.05.2012
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