Maputo (Canalmoz) – O Grupo de 16 deputados eleitos pelas listas da Renamo que tomou posse na primeira sessão da Assembleia da República dirigida pelo chefe de Estado Armando Guebuza, está a partir de ontem declaradamente a desafiar o líder tradicional do partido, Afonso Dhlakama, presentemente acantonado em Nampula, na rua das Flores.
O grupo deu ontem uma conferência de Imprensa no Kaya Kwanga, em Maputo, acusando indirectamente o presidente Dhlakama de procurar “bodes expiatórios” para tentar justificar por “norma e de forma repetida” os “sucessivos desaires eleitorais”.
O Grupo está desavindo, aparentemente, com o que tem sido o seu habitual líder, Afonso Dhlakama, por este estar a usar interpostas figuras, sem, no seu entender, qualquer representatividade legítima no seio do partido, para os acusar de “traidores” e “ameaçar”, “com severas medidas punitivas” quando na verdade, segundo um comunicado distribuído na conferência de Imprensa “na III sessão ordinária da Comissão Política Nacional do Partido, reunida de 19 a 21 de Novembro de 2009 na cidade de Nampula, com a agenda única “análise do decurso do processo eleitoral atinente às eleições Presidenciais, Legislativas e Provinciais de 28 de Outubro de 2009 o que ficou decidido foi que a Renamo assumindo a sua responsabilidade de manter a paz e a estabilidade, condições fundamentais para o desenvolvimento sócio-económico e o estabelecimento do Estado de Direito e de Justiça Social, iria liderar manifestações populares pacíficas em todo o território nacional”, coisa que até agora não aconteceu em absoluto.
“A partir dessa altura, os membros e simpatizantes da Renamo aguardavam pelo início das manifestações de repúdio aos resultados eleitorais” mas o Conselho Constitucional acabou por “validar os resultados” e “o Partido (Renamo) não reagiu” como havia “deliberado a Comissão Política nem deu perspectivas aos membros e simpatizantes sobre as manifestações”.
“Contra todas as expectativas e ante o espanto de membros e simpatizantes do Partido, viu-se nos órgãos de comunicação social, o presidente do Partido e seguidamente vários porta-vozes transmitindo uma outra vertente de algo que não tinha abordado”. Andaram a dizer “que os membros eleitos das assembleias provinciais e os deputados da Assembleia da República eleitos pelas listas da Renamo estavam proibidos de tomar posse dos respectivos órgãos” quando, segundo o G-16 da Renamo afirma que não foi nada disso que foi deliberado na sessão atrás já referida da Comissão Política Nacional, em Nampula.
“É nosso entendimento que as posições do Partido são tomadas ou em sede da Comissão Política Nacional nos termos do nr. 4 do artigo 31 dos Estatutos do Partido ou em sede do Conselho Nacional”, lê-se no comunicado distribuído ontem à imprensa.
No mesmo comunicado lê-se ainda que ao abrigo do artigo 24 do Estatutos da Renamo “o Conselho Nacional é o órgão deliberativo do Partido no intervalo entre dois congressos”.
“A posição dos membros das assembleias provinciais e dos deputados (da Assembleia da República) não tomarem posse não foi decisão de nenhum desses órgãos (do Partido)”, expressa claramente o grupo que ontem resolveu quebrar o silêncio em clara afronta ao seu próprio líder tradicional que agora corre o risco de ter de se demitir ou de os expulsar a todos como já aconteceu com outros.
Com o que ontem aconteceu no Kaya Kwanga está claro que o grupo está desavindo com Afonso Dhlakama.
O grupo chega mesmo a falar em “artes mágicas” quando se “constata que mesmo os mais próximos de Dhlakama acabaram por tomar posse em todas as assembleias provinciais e na Assembleia da República”.
A crise interna na Renamo é tão grave que a certa altura, a um indivíduo de nome Meque Braz, que para o grupo é um “paraquedista usado por Dhlakama” para os denegrir, perguntam: “acaso sabe o senhor Meque Braz quanto dinheiro recebeu o Partido através da sua representação parlamentar desde 1994 e que percentagem foi destinada aos desmobilizados de todo o País para fazerem os seus projectos, para hoje vir dizer que a desgraça dos desmobilizados se deve à tomada de posse dos deputados a 12 de Janeiro de 2010? ”
“Desde 1994 com sucessivos bodes expiatórios não acha senhor Meque Braz que chegou o momento de se reflectir, discutir e encontrar os motivos e verdadeiros responsáveis dos desaires eleitorais no lugar de distrair a opinião pública?”, conclui o grupo dos 16 deputados da Renamo agora em clara e aberto desafio a Afonso Dhlakama.
(Fernando Veloso)
Fonte: CanalMoz (05.02.2010)
Reflectindo: Agora fica claro que os deputados da Zambézia tomaram posse à revelia de Afonso Dhlakama, mas ainda fica a pergunta de se AD acha que continua líder da Renamo.
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