quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Frelimo e os partidos da oposição (1)


Por Régio Conrado

Há sempre uma coisa que deve ser levada em conta quando se quer falar ou discursar em torno do partido Frelimo, partido de vanguarda, das massas e do povo, que é buscar um pouco da sua conjuntura histórica, para não incorrer num vazio nas nossas possíveis divagações e desequilíbrio da nossa estrutura de pensamento.

Assim, a história do nosso país independentemente da vontade de alguns que por algumas deformações ou algum orgulho mesquinho não reconhecem esta verdade objectiva, coincide com a história da Frelimo como movimento que nasce da consciência de revolta contra o passado, onde somente éramos simples espectadores das epopeias do outro homem, do homem branco, do homem ocidental, do português.

A Frelimo apareceu  para  restituir a nossa dignidade, a nossa pujança, o nosso orgulho, pois a Frelimo é o povo representado nos mais altos ideais da humanidade. Este partido, o partido da revolução,  da negação da exploração do homem pelo homem, do espírito explorador, do tribalismo e regionalismo. É o partido fundamentado por uma moral estruturada dentro da vontade do povo, aliás é lá onde ele nasce. A Frelimo queiramos ou não, sem apelar a nenhuma autoridade e nem imposição, a Frelimo é o cerne da recuperação da nossa dignidade como pessoas humanas. Quanto tempo fomos vistos como bestas de trabalho? Animais de carga? Quantas vezes fomos chicoteados porque não tínhamos passes, caderneta ou outra coisa parecida? Quantos não nos chamaram estúpidos, sem capacidade de pensar e de aprofundar? Afinal em tão pouco tempo esqueceram todas essas barbaridades. Quem não conhece o seu passado é condenado a repeti-lo, sentenciou Sam Nujoma.

A Frelimo não aceitou tudo isto. Viu que havia um imperativo moral categórico para lutar a favor deste povo que, por sinal, é a base da existência da Frelimo. A Frelimo é a vontade do povo. Reconheçamos ou não, esta verdade não precisa de muitos exercícios filosóficos e históricos para perceber. É uma questão de olhar para os factos e ver a verdade.

Se estamos recordados, se irmos a história de Moçambique, independentemente dos problemas epistemológicos que ela possa ter, podemos conseguir ver e ler como é que a Frelimo e os seus homens, homens do povo, homens que nasceram no ventre da escravatura, do chicoteio mental e físico, homens que decidiram entregar as suas vidas para levar os seus próximos a uma vida de ser vivida. Será isto irreconhecível? Não tem importância a vida destes homens que se entregaram por todos nós? Hoje não precisamos de andar com passes que nos distinguem de brancos e negros, de crianças adultas, como Mouzinho de Albuquerque nos chamou um dia. Temos hoje a capacidade de dizer que isto não quero ou isto quero. Foi algo que apareceu por acaso, foi uma magia que expulsou o colonialista? Objectivamente não. Foi a Frelimo, este partido que mesmo nas adversidades soube desempenhar o seu papel de esperança dos povos de Moçambique, dos que serão e são moçambicanos. Não se insiste a ninguém para ver isto. Todos, mesmo os que hoje aparecem a tentar desconfigurar estas verdades objectivas como lacaios de não sei lá quem, homens sem solo, homens que não têm a mesma visão que tiveram aqueles jovens de 1964. Trazer a paz, independência e riqueza para o povo. Custa o que custar temos de vencer, foram estas as palavras que Matias  Mboa atribui a Guebuza no seu livro “Memórias de uma luta clandestina”.

Ademais, a resposta decisiva ao regime colonial português deu-se quando três organi­zações nacionalistas, a MANU (União Nacional Africana de Moçambique), UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique) e UNAMI (União Nacional Africana para Independência de Moçambique), sediadas respectiva­mente no Tanganyika (hoje, Tanzania), Zimbabwe (ex-Rodésia do Sul) e Malawi (ex-Niassalândia), decidiram constituir-se numa única Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), em Junho de 1962. A FRELIMO simbolizava e simboliza nesse e neste momento, o culminar de um processo de resistência secular do povo moçam­bicano, conduzida isolada e localmente contra o colonialismo de 500 anos.

No entanto, por outro lado, marcava o início de novos desafios, uma etapa de contradições de outro tipo. Não se tratava apenas de conduzir militarmente a luta pela liquidação total e completa do colonialismo, mas de iniciar, ao mesmo tempo, o processo de construção e consolidação da unidade nacional, numa dimensão político-cultural mais abrangente para a edificação de um Estado-Nação.

Pouco antes do início da luta armada, havia nos dirigentes a consciência de que a tarefa não se restringia a mobilizar e organizar as massas para a luta imi­nente, mas que essa organização devia efectivar-se «com os olhos postos no futuro», como testemunha Marcelino dos Santos (REIS, 1975: 39).

Em 1967, após três anos de luta armada, Eduardo Mondlane, então Presidente da Frelimo, reflectia com os militantes e simpatizantes da FRELIMO sobre o significado das tribos ou grupos étnicos moçambicanos na luta de libertação nacional. A preocupação principal de Moçambique era a conso­lidação da unidade interna. E fazia ver que não havia antagonismos entre a reali­dade de vários grupos étnicos e a unidade nacional, que esta era uma constru­ção político-cultural de todos os moçambicanos e a luta de libertação nacional um processo de criação de uma nova realidade (idem, p. 79).

No decorrer da luta, sobretudo no período de 1967-1969, vários aconteci­mentos e crises no seio da Frelimo foram mostrando que a construção da uni­dade nacional era um processo de contradições. Surgiram movimentos separatis­tas que culminaram com a saída de altos dirigentes da Frelimo; divergências políticas sobre a estratégia militar, a definição do inimigo e a participação dos brancos na luta; divergências ideológicas e teóricas sobre o modelo de desenvol­vimento económico, a emancipação da mulher e a sua participação na frente de combate e, mais tarde, sobre o tipo de ensino a adoptar nas escolas das zonas libertadas.

Era a Frelimo a avançar dialecticamente para os seus objectivos, seus anseios, em suma com os anseios do povo. Ela não parou, não para e jamais parará. Quem nega isto é só olhar para aquilo que o presidente Armando Guebuza, um jovem torturado e maltratado nas bárbaras cadeias da PIDE com outros camaradas. Ele resistiu e continuou. A Frelimo,  mesmo com seus inúmeros erros, não se pode comparar com os grandes trunfos que trouxe para os moçambicanos. Viva a Frelimo, viva o povo, viva a consciência da nossa dignidade e auto-estima.

Essas contradições e conflitos contribuíram para configurar a Frelimo em mais do que uma organização militar, em um processo endógeno voltado para a transformação da própria sociedade moçambicana. Esse processo vai realizar-se mais nas zonas libertadas, no convívio mais próximo entre dirigentes, militantes e as populações, no confronto entre o homem ainda com a mentalidade colonial e mentalidade tradicional e o novo tipo de homem em formação.

Não tenho muitas dúvidas que o partido Frelimo é um dos partidos no mundo, apesar dos problemas que se parecem como da Frelimo, mas que no fundo são de alguns membros desta fonte da dignidade da nossa moçambicanidade, que  ainda não foram transformados para aquilo que são os ideais deste partido do povo. Há razões para dizer que  a Frelimo é dos poucos que de forma desenfreada tem lutado para o bem do povo. A construção de país tão vasto como o nosso não se pode fazer em um dia, ano ou 20 anos. É preciso tempo. Fomos explorados de uma forma desmascarada pelo homem português e não só, por todos os imperialistas e, mesmo na actualidade, temos a consciência que estamos a ser explorados. Todavia, mesmo dentro destes problemas a Frelimo tem sabido com a sabedoria dos tempos e de hoje construir um Moçambique onde encontramos jovens a andarem de carros, que nunca sonhariam caso esta Frelimo que muitos têm a chamado de corrupta não estivesse a trabalhar. Ora a Frelimo é o povo do povo e para o povo e todo o povo é corrupto ou são alguns membros da Frelimo que praticam estes actos e se conotam como Frelimo. A Frelimo não é um punhado de pessoas, mas sim é o povo na sua mais alta representação.

Fonte:  Jornal Notícias – 25.02.2010

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