Por Régio Conrado
Há sempre uma coisa que deve ser levada em conta quando
se quer falar ou discursar em torno do partido Frelimo, partido de vanguarda,
das massas e do povo, que é buscar um pouco da sua conjuntura histórica, para
não incorrer num vazio nas nossas possíveis divagações e desequilíbrio da nossa
estrutura de pensamento.
Assim, a história do nosso país independentemente
da vontade de alguns que por algumas deformações ou algum orgulho mesquinho não
reconhecem esta verdade objectiva, coincide com a história da Frelimo como
movimento que nasce da consciência de revolta contra o passado, onde somente
éramos simples espectadores das epopeias do outro homem, do homem branco, do
homem ocidental, do português.
A Frelimo apareceu para restituir a nossa
dignidade, a nossa pujança, o nosso orgulho, pois a Frelimo é o povo
representado nos mais altos ideais da humanidade. Este partido, o partido da
revolução, da negação da exploração do homem pelo homem, do espírito
explorador, do tribalismo e regionalismo. É o partido fundamentado por uma
moral estruturada dentro da vontade do povo, aliás é lá onde ele nasce. A
Frelimo queiramos ou não, sem apelar a nenhuma autoridade e nem imposição, a
Frelimo é o cerne da recuperação da nossa dignidade como pessoas humanas. Quanto
tempo fomos vistos como bestas de trabalho? Animais de carga? Quantas vezes
fomos chicoteados porque não tínhamos passes, caderneta ou outra coisa
parecida? Quantos não nos chamaram estúpidos, sem capacidade de pensar e de
aprofundar? Afinal em tão pouco tempo esqueceram todas essas barbaridades. Quem
não conhece o seu passado é condenado a repeti-lo, sentenciou Sam Nujoma.
A Frelimo não aceitou tudo isto. Viu que havia um
imperativo moral categórico para lutar a favor deste povo que, por sinal, é a
base da existência da Frelimo. A Frelimo é a vontade do povo. Reconheçamos ou
não, esta verdade não precisa de muitos exercícios filosóficos e históricos
para perceber. É uma questão de olhar para os factos e ver a verdade.
Se estamos recordados, se irmos a história de Moçambique,
independentemente dos problemas epistemológicos que ela possa ter, podemos
conseguir ver e ler como é que a Frelimo e os seus homens, homens do povo,
homens que nasceram no ventre da escravatura, do chicoteio mental e físico,
homens que decidiram entregar as suas vidas para levar os seus próximos a uma
vida de ser vivida. Será isto irreconhecível? Não tem importância a vida destes
homens que se entregaram por todos nós? Hoje não precisamos de andar com passes
que nos distinguem de brancos e negros, de crianças adultas, como Mouzinho de
Albuquerque nos chamou um dia. Temos hoje a capacidade de dizer que isto não
quero ou isto quero. Foi algo que apareceu por acaso, foi uma magia que
expulsou o colonialista? Objectivamente não. Foi a Frelimo, este partido que
mesmo nas adversidades soube desempenhar o seu papel de esperança dos povos de
Moçambique, dos que serão e são moçambicanos. Não se insiste a ninguém para ver
isto. Todos, mesmo os que hoje aparecem a tentar desconfigurar estas verdades
objectivas como lacaios de não sei lá quem, homens sem solo, homens que
não têm a mesma visão que tiveram aqueles jovens de 1964. Trazer a paz,
independência e riqueza para o povo. Custa o que custar temos de vencer, foram
estas as palavras que Matias Mboa atribui a Guebuza no seu livro
“Memórias de uma luta clandestina”.
Ademais, a resposta decisiva ao regime colonial português
deu-se quando três organizações nacionalistas, a MANU (União Nacional Africana
de Moçambique), UDENAMO (União Democrática Nacional de Moçambique) e UNAMI
(União Nacional Africana para Independência de Moçambique), sediadas respectivamente
no Tanganyika (hoje, Tanzania), Zimbabwe (ex-Rodésia do Sul) e Malawi
(ex-Niassalândia), decidiram constituir-se numa única Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), em Junho de 1962. A FRELIMO simbolizava
e simboliza nesse e neste momento, o culminar de um processo de resistência
secular do povo moçambicano, conduzida isolada e localmente contra o
colonialismo de 500 anos.
No entanto, por outro lado, marcava o início de novos
desafios, uma etapa de contradições de outro tipo. Não se tratava apenas de
conduzir militarmente a luta pela liquidação total e completa do colonialismo,
mas de iniciar, ao mesmo tempo, o processo de construção e consolidação da
unidade nacional, numa dimensão político-cultural mais abrangente para a
edificação de um Estado-Nação.
Pouco antes do início da luta armada, havia nos
dirigentes a consciência de que a tarefa não se restringia a mobilizar e
organizar as massas para a luta iminente, mas que essa organização devia
efectivar-se «com os olhos postos no futuro», como testemunha Marcelino dos
Santos (REIS, 1975: 39).
Em 1967, após três anos de luta armada, Eduardo Mondlane,
então Presidente da Frelimo, reflectia com os militantes e simpatizantes da
FRELIMO sobre o significado das tribos ou grupos étnicos moçambicanos na luta
de libertação nacional. A preocupação principal de Moçambique era a consolidação
da unidade interna. E fazia ver que não havia antagonismos entre a realidade de vários grupos
étnicos e a unidade nacional, que esta era uma construção político-cultural de
todos os moçambicanos e a luta de libertação nacional um processo de criação de
uma nova realidade (idem, p. 79).
No decorrer da luta, sobretudo no período de 1967-1969,
vários acontecimentos e crises no seio da Frelimo foram mostrando que a
construção da unidade nacional era um processo de contradições. Surgiram
movimentos separatistas que culminaram com a saída de altos dirigentes da
Frelimo; divergências políticas sobre a estratégia militar, a definição do
inimigo e a participação dos brancos na luta; divergências ideológicas e
teóricas sobre o modelo de desenvolvimento económico, a emancipação da mulher
e a sua participação na frente de combate e, mais tarde, sobre o tipo de ensino
a adoptar nas escolas das zonas libertadas.
Era a Frelimo a avançar dialecticamente para os seus
objectivos, seus anseios, em suma com os anseios do povo. Ela não parou, não
para e jamais parará. Quem nega isto é só olhar para aquilo que o presidente
Armando Guebuza, um jovem torturado e maltratado nas bárbaras cadeias da PIDE
com outros camaradas. Ele resistiu e continuou. A Frelimo, mesmo com seus
inúmeros erros, não se pode comparar com os grandes trunfos que trouxe para os
moçambicanos. Viva a Frelimo, viva o povo, viva a consciência da nossa
dignidade e auto-estima.
Essas contradições e conflitos contribuíram para
configurar a Frelimo em mais do que uma organização militar, em um processo
endógeno voltado para a transformação da própria sociedade moçambicana. Esse
processo vai realizar-se mais nas zonas
libertadas, no convívio mais
próximo entre dirigentes, militantes e as populações, no confronto entre o
homem ainda com a mentalidade colonial e mentalidade tradicional e o novo tipo
de homem em formação.
Não tenho muitas dúvidas que o partido Frelimo é um dos
partidos no mundo, apesar dos problemas que se parecem como da Frelimo, mas que
no fundo são de alguns membros desta fonte da dignidade da nossa
moçambicanidade, que ainda não foram transformados para aquilo que são os
ideais deste partido do povo. Há razões para dizer que a Frelimo é dos
poucos que de forma desenfreada tem lutado para o bem do povo. A construção de
país tão vasto como o nosso não se pode fazer em um dia, ano ou 20 anos. É
preciso tempo. Fomos explorados de uma forma desmascarada pelo homem português
e não só, por todos os imperialistas e, mesmo na actualidade, temos a
consciência que estamos a ser explorados. Todavia, mesmo dentro destes
problemas a Frelimo tem sabido com a sabedoria dos tempos e de hoje construir
um Moçambique onde encontramos jovens a andarem de carros, que nunca sonhariam
caso esta Frelimo que muitos têm a chamado de corrupta não estivesse a
trabalhar. Ora a Frelimo é o povo do povo e para o povo e todo o povo é
corrupto ou são alguns membros da Frelimo que praticam estes actos e se conotam
como Frelimo. A Frelimo não é um punhado de pessoas, mas sim é o povo na sua
mais alta representação.
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